“Lacrar” ou “lucrar”?

A jornalista Milly Lacombe se envolve em polemica após afirmar que Kaká era superestimado pois era de classe alta e raça branca

Fernando Cumino Recchia
singular&plural
4 min readApr 7, 2022

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Por Fernando Sid

Reprodução: Jovem Pan

Quando falamos sobre futebol brasileiro, imediatamente lembramos dos craques habilidosos com a bola que marcaram gerações como: Pelé, Romário, Edmundo, Ronaldo, Ronaldinho, entre vários jogadores. Antes de Modric bater Cristiano Ronaldo e Messi no prêmio de “Melhor Jogador do Mundo” foi um brasileiro, chamado Ricardo dos Santos Leite, mais conhecido como Kaká, o premiado em 2007.

De acordo com a jornalista Milly Lacombe, em vídeo gravado ao veiculo “UOL”, o meia brasileiro seria “superestimado”; ela usou as palavras “branco e classe média-alta” para complementar a sua opinião. O vídeo, postado em 2021, junto com o artigo, repercutiu na mídia tendo varias polêmicas sobre o assunto.

Quando assunto é opinião, todas as palavras devem ser respeitadas mesmo não se concordando com elas. Nessa década, ocorreram varias evoluções na sociedade e lutas sociais pedindo respeito aos que são “contra”. Mesmo assim existem os “lacradores da mídia”, que são pessoas profissionais ou não que usam suas redes sociais ou portais para debater fortemente contra aqueles que não são a favor de suas opiniões.

Quando se usa um argumento para lacrar tem que tomar cuidado, pois haverá aqueles que não concordarão com a opinião, assim provocando um debate entre os envolvidos. Muitas dessas personas usam a forma de lacrar para gerar polêmica, dando “view” para o veículo onde lucram em cima da opinião.

Após o comentário infeliz e imprudente de Milly Lacombe, vários jornalistas esportivos e ex-jogadores se pronunciaram e atacando a jornalista. O ex-jogador e agora comentarista da Rádio Jovem Pan, Vampeta, rebateu a fala de Milly e defendeu o colega: “Eu não concordo com nada disso que ela falou. Quando o mundo elege o melhor do mundo, são os capitães das seleções, os treinadores das seleções e jornalistas de todo o planeta que votam. Você quer questionar o quê?”. Em seguida, no vídeo postado pela “Jovem Pan”, os comentaristas do programa concordaram com a opinião de Vampeta, falando que Milly fez um argumento para lacrar.

Embora o programa da Jovem Pan tivesse rebatido o argumento da jornalista, existiram portais mostrando números e estatísticas como provas contrariando a opinião da jornalista. Como no veiculo Torcedores, que afirma: “O debate sempre vai existir e ele é saudável (quando realizado de maneira respeitosa). Mas é preciso ter em mente que estamos falando do último antes da longa e intensa disputa entre Lionel Messi e Cristiano Ronaldo a ser eleito o melhor do mundo pela Fifa. Kaká merece todas as honrarias por tudo o que fez nos gramados. Seja pelo São Paulo, pelo Milan, pelo Real Madrid e (principalmente) pela Seleção Brasileira. Nunca foi superestimado. Nem hoje e nem naqueles tempos”.

Mas afinal: por que a jornalista usou problemas sociais como argumento de sua opinião? Futebol fora dos gramados é feito de debates e discussões saudáveis, onde jornalistas debatem sobre o que ocorre e o que já aconteceu no mundo da bola. Os problemas sociais que acontecem hoje em dia como racismo, homofobia, machismo etc. são bem usados na sociedade para debater e evoluir o seres humanos, mas isso é fora do esporte. Claro, no futebol já ocorreram vários casos de preconceitos contra jogadores, e isso é fato, porém, quando se usa um portal para abrir a voz e afirmar que o prêmio merecido de trabalho duro foi por conta de ser uma pessoa “privilegiada”, isso fica fora dos debates e até mesmo fere as lutas sociais feitas pela sociedade.

No jornalismo esportivo, quando se afirma uma opinião, tem que ter provas e números sobre aquilo que está sendo dito, senão o assunto acaba sendo desrespeitoso e falso para aqueles que estão recebendo a mensagem. Após Milly afirmar que Kaká foi superestimado pelo fato dele ser branco e de classe média, ela somente conclui seu argumento sem fatos reais que concordem com sua fala, como estatísticas, história e até números que não são apresentados na frase dela, usando seu discurso para lacrar. Obviamente, o assunto se repercutiu para vários veículos, e a maioria discordou; porém, o canal “UOL” ganhou em cima da discussão.

Quando Milly teve seu infeliz comentário, o site UOL foi um dos mais acessados após a polemica, quando pessoas e jornalistas visitaram o site para ver se aquilo de fato foi dito. E nisso, por meio dessa “lacração”, o produto acabou lucrando pelos acessos ao site. No Youtube, no canal da UOL, o vídeo de Milly bateu mais de 70 mil visualizações, e apenas 600 pessoas até o momento curtiram sua opinião. O número de views no vídeo é alto, mas a relevância do assunto foi bem baixa, pois menos de 1% das pessoas que viram a publicação aprovaram a ideia da jornalista. Afinal, quem quer lacrar sem provas, não lucra.

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