Mídia e religião: padrões desiguais

Louise Hardy
singular&plural
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2 min readMay 29, 2018

Brasil, o país laico onde mais tem canal religioso

Por Louise Hardy e Maria Luiza de Freitas

Segundo o Artigo 19 da Constituição Federal, o Brasil é um país laico, onde religião não deveria interferir na vida pública, porém, essa laicidade não se reflete na mídia.

No país, segundo o último censo do IBGE, mais de 85% da população se diz cristã, sendo um terço destinado à igreja evangélica. Dentro da mídia contamos com 385 emissoras de rádio ligadas à religião, somadas com 22 dentro da televisão que exibem uma programação exclusivamente religiosa e em 2018 a chamada bancada evangélica espera eleger 150 deputados e 15 senadores.

Porém, mesmo com todas essas formas de produção de conteúdo e representatividade política, não podemos dizer que todas as crenças têm seu espaço dentro da mídia brasileira. A esmagadora maioria desses canais está ligada a alguma ao cristianismo.

Por falta de informação diversificada, ocorrem casos como o de Kailane Campos de 11 anos que foi apedrejada no Rio de Janeiro por estar usando trajes do Candomblé. Em 2017, foi feito um estudo segundo o qual a maioria das vítimas de intolerância religiosa está ligada à práticas de origem africana, com 39% das denúncias, e segundo o jornal Estadão, o Brasil conta com uma denúncia de templos invadidos, destruição de imagens, agressões verbais e física chegando até a homicídios, a cada 15 horas.

Vendo casos como esses, podemos então perguntar, a mídia tende a perpetuar casos de intolerância religiosa?

Além das redes de televisão cristãs e das estações de rádio religiosas, a cobertura jornalística de certos eventos também deixa a desejar quanto a nação laica.

O exemplo mais marcante e mais atual seria o da cobertura de atos terroristas que acontecem fora do país. Em inúmeras ocasiões, os terroristas são apresentados primeiramente como fiéis islamistas e não como integrantes de grupos terroristas como o Estado Islâmico ou Al-Quaeda, que de fato são grupos religiosos extremistas, mas não englobam o pensamentos de todos que seguem o islam. A falta de precisão e de imparcialidade nessas coberturas leva a confusão entre seguir uma religião e ser um radical.

Uma nova onda que prega a tolerância está chegando, o que dá esperança para o futuro da representação de diversos cultos por igual dentro da mídia. Porém essa onda só causa maior reação por parte de conservadores, criando disparidades ainda maiores, portanto não podemos determinar como será o futuro do retrato da religião na mídia, nem a relação entre as duas entidades.

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