Mídia masculinizada?

Luiza Rubio
singular&plural
Published in
3 min readMay 29, 2018

Por Luiza Rubio e Letícia Imperador

Segundo a pesquisa de 2015 feita pela Wakefield Research 60% das brasileiras se consideram feministas. O movimento feminista tem muita força online, e é na internet que se encontram espaços de discussão e de aprendizado mais amplos. Mesmo assim, para a grande mídia esse ainda é um assunto considerado polêmico, e por isso tem espaço apenas quando alguma campanha causa engajamento e discussão e em alguns raros casos em que palavras do vocabulário feminista geram interesse e alguma jornalista se propõe a explicá-las, como é o caso da matéria de Dandara Tinoco “Sororidade, substantivo feminino” de 2016 para O Globo online.

Esses são os momentos nos quais o feminismo, e por tanto, os assuntos e discussões do “mundo feminino” tem espaço na grande mídia, todo o resto é direcionado para o jornalismo segmentado, neste caso, para as revistas femininas. Revistas como a Marie Claire e a Claudia fazem um bom trabalho, dão espaços para tratar de assuntos sérios como o aborto e a violência contra a mulher de uma forma menos estereotipada e aberta, principalmente em suas versões online. Mais uma vez o online, que está menos pressionado pelos patrocínios e menos engessado pela necessidade de incitar o consumo entre as mulheres, com a existência de vitrines e divulgação de produtos. Evidentemente esses elementos fazem parte da essência da revista e é sim querido pelas mulheres, mas as publicações durante todo um ano só abriram mão de um pouco mais de espaço para tratar sobre discussões mais aprofundadas uma vez, em março, no mês que abriga o Dia Internacional da Mulher. Porém para os leitores das revistas femininas, maioria esmagadora sendo mulheres, não precisariam elas destas discussões com mais frequência, considerando que vivem como mulheres em uma sociedade patriarcal todos os dias?

A isto existem dois agravantes, primeiramente, o público-alvo das revistas citadas é colocado como de mulheres mais velhas, escolarizadas e bem-sucedidas, excluindo uma enorme massa de mulheres, e principalmente as periféricas e negras — inclusive, feminismo negro é um assunto raríssimo na mídia tradicional — que enfrentam ambiente muito hostis à mulher e também outras que precisariam ter o contato com esse tipo de informação para sua formação e dia a dia, adolescentes por exemplo. Segundamente, ainda existem revistas que de certa forma, tentam se aproveitar desse assunto mas não da forma que ele realmente deveria e poderia ser tratado e fazem isso com o intuito de tentar atrair mais público, mas infelizmente, em certas circunstâncias, acabam mostrando um “falso feminismo” — como por exemplo, fazem a chamada de uma matéria que aparentemente é super empoderada mas quando lemos na íntegra, ela acaba tendo os mesmo valores patriarcais, por exemplo, impõe os mesmos padrões de beleza que a sociedade considera “aceitável” só que maquiados de empoderamento, prestando a desinformação.

Se a própria mídia “feminina” não se abrir mais para as discussões feministas, como veremos tão cedo estas presentes na grande mídia? Muitas vezes mesmo com chances de visibilidade esse é um fato que ficar escondido, como após a morte de Mariele Franco, que grandes jornais, como o Estado de São Paulo, por exemplo, não citaram que a comoção e início das manifestações foram também um ato de sororidade que contagiou o Brasil e levou às ruas milhares de pessoas que apoiavam as variadas causas que a vereadora defendia ou que apenas estavam ali por solidariedade e descontentamento. Mantendo a pose de uma grande mídia que se blinda a partir de formatos engessados, impedindo novos discursos e novas construções de um jornal.

Fontes: Wakefield Research

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