Manipulação, imparcialidade e o sensacionalismo jornalístico
Você acha que está sendo manipulado?
Por Isabelle Ferreira, Leonardo Olavo e Tárik El Zein
Neutralidade, isenção e imparcialidade essas são algumas das características que utopicamente são exigidas de nossos colegas jornalistas. Mas será que o emprego correto de nossa profissão realmente corresponde a essas demandas, será que um bom jornalista deve se abster de contaminar suas publicações com sua visão de mundo, será que isso é mesmo possível?
Para sua surpresa, ou não, o jornalista é tão humano quanto todas as outras pessoas que exercem as mais variadas profissões em nosso planeta. Como um engenheiro, um professor, um advogado ou um agricultor, nós jornalistas, somos dotados de princípios, visões de mundo e escolhas, que participam diretamente de nosso contexto social.
Desde o primeiro soar de nosso despertador, ainda de manhã, iniciamos uma jornada de decisões, que impactam diretamente o decorrer de nosso dia. A fábula de que o jornalista deve ser frio, ausentando sua opinião e suas visões de mundo na elaboração de suas produções é falsa, e prejudica o entendimento do leitor.
A percepção de que seria humanamente impossível produzir um material 100% isento, sem acrescentar qualquer pitada de nosso “eu interior” nesta sopa, não implica em influenciar o leitor ou o telespectador a seguir sua visão de mundo, mas sim, em ser honesto com o mesmo.
Nossa função primordial, é e sempre será, a da honestidade, o compromisso com nosso leitor, isto é, apresentar a maior variedade possível de entendimentos de um fato, para que o leitor possa escolher por conta própria, com toda sua bagagem de mundo, qual das versões se encaixa em sua identidade.
Tendo em vista que superamos a barreira do conto do jornalista e sua imparcialidade, vamos avançar mais um passo nessa conversa. A grande manipulação não se reflete através de um texto produzido por um jornalista “coxinha”, ou por um jornalista “esquerdopata”. Pois esse tipo de manipulação é facilmente detectado.
Em pleno século XXI, surfando na onda do clica, curte e compartilha, a manchete de uma matéria ganhou um status nunca antes visto. As pessoas se informam com aquilo que lhe chama atenção, sem se dar ao luxo de aprofundar o decorrer da matéria. E nós jornalistas, temos consciência disso.
Usemos como exemplo as seguintes matérias:
“Bolsonaro: Primeiros cubanos que saíram do País, eram militares e infiltrados”;
“Cubanos que deixaram o Brasil, são militares e agentes”.
Ao nos aprofundarmos em ambas as matérias, não existe uma prova, ou indicação de que o fato afirmado na manchete da matéria seja verdadeiro. Por mais que a afirmação não seja do jornalista, e sim de Jair Bolsonaro, ao assinar a matéria, o jornalista atesta seu compromisso com o material ali produzido e com o entendimento do leitor. A luta entre as mídias para ter credibilidade, a sede por ibopes, por audiência, por acessos, faz com a qualidade do que é produzido seja feito cada vez mais de maneira rasa.
Com a superficialidade que, em muitas vezes, é agregado as matérias, abrimos espaço para o segmento que mancha o jornalismo atual, a fake news e o sensacionalismo, que surgiram na imprensa apenas pela fome sedenta por um grande número de público
O elemento que impulsiona toda ação midiática é simplesmente a curiosidade humana, assim, a mídia estaria agindo em resposta ao nosso desejo, contudo, para chamar nossa atenção é preciso vencer a concorrência e consequentemente cria-se o sensacionalismo. A mídia deve ter consciência de que seu poder também traz certa responsabilidade na construção de uma sociedade mais consciente e bem informada, e o público de que não existe a fada da imparcialidade, e deve-se sim, questionar todas as informações oferecidas.