Ninguém é invisível, somos apenas cegos

A falta de visibilidade de uma parcela da sociedade no jornalismo

Victoria Claramunt
singular&plural
3 min readNov 24, 2020

--

Por Gabriela Catan e Victoria Claramunt

Ilustração: Jairo Malta

Diariamente somos bombardeados com informações e notícias do mundo, da semana, de decisões políticas ou globais. E com a globalização, tudo começou a funcionar de maneira rápida e instantânea, de modo que pouco nos questionamos a respeito da ética dessas notícias, ou então da pluralidade que devem ser abordadas no jornalismo.

A ordem cronológica das informações que viram manchetes, ou destaques, costuma seguir a mesma linha de raciocínio, trazendo como relevante, numa maioria, a classe branca e alta. Enquanto do outro lado da matrix existem histórias que poucas vezes ganham espaço ou visibilidade.

O artigo ‘Os invisíveis ganham manchetes na imprensa’, divulgada pelo site Observatório da Imprensa, em maio deste ano, mostrou a evidência de como o jornalismo pode abranger todas as pessoas, uma vez que o papel do jornalista também é permitir o diálogo entre a sociedade.

“Para o jornalismo, o dilema colocado pelas manchetes sobre os ‘invisíveis’ nas filas na Caixa e na Receita leva a uma opção não menos perturbadora. A busca de saídas para nossos desafios atuais implica substituir a velha teoria de que o jornalismo é apenas um mensageiro de fatos e dados pela preocupação em construir sentidos e significados para a notícia dura (hard news). Os fatos, dados e eventos são, hoje, a principal matéria-prima das redes sociais. Construir significados é mostrar o contexto, causas, responsáveis ocultos e consequências de um fato e, é a parte que leva as pessoas a se posicionarem diante de um acontecimento”, diz trecho da matéria.

O veículo ainda levanta outro questionamento importante: “A notícia é apenas um input para o jornalismo avançar em sua principal missão, que é desenvolver significados que permitam às pessoas fortalecer as relações sociais nas comunidades onde estão inseridas. Significa basicamente dar informações que ajudem os “invisíveis” a tomar consciência de sua situação e superar os obstáculos que os mantêm nesta “invisibilidade social”.

Então porque isso tudo continua se repetindo?

Um levantamento feito pelo G1, em setembro deste ano, apontou que 3.148 pessoas foram assassinadas por policiais no primeiro semestre deste ano, sendo que 12 estados do Brasil não informaram a cor das vítimas e outros 10 estados não divulgam as mortes nesses confrontos. Além disso, 40% das taxas dos mortos ainda estão com a raça desinformada. Há casos que “albino” foi considerado uma raça, sendo que albinismo é uma doença, e não uma categoria racial.

Mesmo com falhas, os dados que estão disponíveis apontam que a maioria das vítimas é de negros. “É um padrão que se repete. Em qualquer análise de letalidade, a maioria das vítimas é negra. Não é nenhuma surpresa”, afirma Dennis Pacheco, pesquisador do FBSP, Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Em uma outra pesquisa sobre a letalidade de negros, a BBC apontou que a cada 23 minutos um negro é assassinado.

Existem muitas pesquisas, levantamentos e estatísticas sobre mortes de negros, mas nenhuma grande mídia mostra as vítimas, as histórias, as vidas. É capaz que ao terminar esta leitura outro negro seja morto e ninguém vá cobrir isso.

Ao pesquisar no Google sobre “negro assissanado”, as únicas notícias que aparecem são manchetes de vítimas em outros países que deram muita repercussão e manifestações que aconteceram, como o caso de George Floyd e William Green.

Sem a coleta de informações, fica impossível fazer políticas públicas. O papel do jornalismo é mostrar isso, entretanto é visível que muitas vezes ele tem falhado com a minoria, com a população.

--

--