O caso Klara Castanho, a falta de ética no jornalismo e o descaso com a imagem feminina

Atriz tem informações pessoais sigilosas vazadas em redes sociais por descaso e antiética jornalística

Anapaulavitoria
singular&plural
3 min readOct 6, 2022

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Por Alessandra Oliveira, Ana Paula Vitoria, Maria Eduarda Paiva

a indústria de fofoca e os danos causados pelo jornalismo irresponsável | Imagem: pixabay license
A indústria de fofoca e os danos causados pelo jornalismo irresponsável | Imagem: Pixabay / IStock

No dia 25 de junho deste ano, a atriz Klara Castanho, 21 anos, foi vítima do descaso e da falta de ética jornalística pelo apresentador e jornalista Léo Dias, ao ter sua imagem infringida e totalmente exposta nas redes sociais. Sua história se tornou pública rapidamente após o “jornalista” divulgar que a atriz sofreu violência sexual e que o bebê, fruto de um abuso, tinha sido entregue à doação. Com as declarações, as redes foram à loucura, com inúmeros comentários desrespeitosos, fake news sobre o caso, especulações e ataques contra Klara.

O caso aborda diversos problemas e comportamentos antiéticos no jornalismo. De acordo com os artigos 8 e 11 do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, o jornalista não pode divulgar informações de caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos, além de não poder expor pessoas exploradas ou sob risco de vida, como fez Léo Dias, provando seu jornalismo irresponsável e covarde. Os estudantes aprendem diariamente no jornalismo que, para ter uma boa pauta, não é necessário destruir a dignidade do outro, mas sim seguir pontos cruciais para gerar interesse público, seguindo os padrões éticos permitidos. O caso repercutiu no Brasil e trouxe à tona diversas questões a serem discutidas sobre até onde vai a busca pela audiência em tempos da indústria de celebridades.

O jornalismo possui em sua essência a necessidade de classificar e obter informações concretas para a sociedade. Segundo o artigo “Jornalismo Ético, liberdade de expressão e credibilidade: dilemas do profissional de jornalismo nas mídias sociais”, escrito por Edwaldo Costa e Marcos Simas, o crescimento exponencial das mídias sociais resultou em uma facilidade de opinar na vida alheia e abriu um espaço para que as pessoas possam expressar suas opiniões e ideias. Sem uma determinada fiscalização, isso pode ser perigoso e afetar a vida de outros usuários, já que acarreta em violação de privacidade, discursos de ódio e injúrias.

O jornalismo de ‘’fofoca’’ está sempre ligado a assuntos sigilosos e importantes da vida de cada pessoa. Divulgar um relacionamento ou algo sutil não prejudicará sua imagem, desde que não exponha fatos sensíveis. O que difere do caso comentado, no qual o jornalista não só fere o art. 6, inciso VII, que ressalta o direito à privacidade e à imagem do cidadão, como também infringiu totalmente o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Klara Castanho foi mais uma vítima da distorção de informação causada por certos veículos de comunicação, evidenciando a falha de muitos profissionais que utilizam a profissão para se promover, causando discórdia e o cancelamento na internet. Após a repercussão, Klara se manifestou publicamente em uma carta aberta, dando detalhes do que realmente tinha acontecido e afirmando se sentir violentada pelos julgamentos alheios. “Ter que me pronunciar sobre um assunto tão íntimo e doloroso me faz ter que continuar vivendo essa angústia que carrego todos os dias”, afirma em seu Instagram.

Com isso, é possível concluir que a indústria de fofoca e o colunismo social são coisas completamente distintas. O interesse do público na vida de celebridades não dá abertura para falsos jornalistas faltarem com respeito com o próximo, utilizando isso em prol de seus interesses pessoais e se sobressaindo de situações como essa em que o ódio é propagado.

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