O corporativismo e interesses privados como obstáculos para a transparência com a população

Como os interesses privados e econômicos de indivíduos obstruem o fluxo de informação necessário para a população entender o país

Tiago
singular&plural
4 min readJun 13, 2021

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Por Mateus Ferreira, Matheus Queiroz e Tiago Henrique

O mundo jornalístico possui pessoas que gostam de difundir informações não tão precisas, muitas vezes distorcidas e até falsas, mas a profissão não se resume a somente indivíduos promovendo desinformação. O jornalismo verdadeiro e essencial não morreu! Os jornalistas que escolheram o caminho mais difícil de buscar as características para o bom exercício da profissão estão em todos veículos e emissoras. Mesmo assim, o trabalho de um jornalista sério consegue ser tremendamente complicado; muitas vezes a própria empresa pela qual ele trabalha cria complicações e não contribui para o serviço de informar o público.

Recentemente, com o início da CPI da Covid tivemos o conhecimento sobre um caso muito grave de omissão de informação por parte do co-proprietário da RedeTV, Marcelo de Carvalho, e até pela própria Secretária Especial de Comunicação Social do Governo Federal (Secom), que na época da omissão dessa valiosa informação era liderada pelo agora ex-secretário de Comunicação, Fábio Wajngarten.

secretário especial de Comunicação Social da Secretaria de Governo da Presidência, Fabio Wajngarten
Fabio Wajngarten (Fonte: Agência Brasil)

No dia 12 de maio de 2021, o ex-secretário de Comunicação do Governo Federal, Fábio Wajngarten, foi a testemunha do dia na CPI da Covid, uma testemunha que nos deu muito material tanto para as conversas políticas quanto para o debate sobre o jornalismo. No dia 22 de abril deste ano, a VEJA publicou uma matéria contendo trechos de uma entrevista dada por Wajngarten, conversa na qual foi exposta uma carta da Pfizer para o Governo Federal sobre a vacina que estavam produzindo. Ainda na conversa com a VEJA, o ex-secretário afirmou que não soube da carta por dois meses e nem o governo, até que um empresário, que ele não disse o nome, lhe informou sobre a existência.

Ao decorrer de sua fala na CPI, o detalhamento sobre a carta enviada pela Pfizer ao Governo Federal no dia 12 de setembro de 2020 se tornou mais claro. Descobrimos que o empresário que deu o aviso era Marcelo de Carvalho e que ele obteve uma informação valiosíssima antes de qualquer um da imprensa e mesmo sendo dono de uma empresa que possui programas jornalísticos.

Com essa revelação, é possível criar uma discussão interessante sobre o jornalismo em si. Sobre como a imprensa não consegue chegar a algumas informações antes do empresário e pessoas envolvidas com assuntos econômicos e como os veículos ficam de mãos atadas por conta da empresa pela qual eles foram contratados.

Mesmo com toda a sua influência, como que o empresário Marcelo de Carvalho, que possui relações com o Governo Federal, foi a primeira pessoa fora do círculo da Pfizer a ter essa informação? A mídia não soube dessa carta por tanto tempo, fica difícil pensar que ninguém tentou investigar a relação do governo com algumas empresas envolvidas com a fabricação da vacina no ano passado. Será que esse assunto não era importante? Para o governo não parecia, tanto que nem tinham ideia de que a Pfizer mandou uma carta até o empresário conversar com Wajngarten, e a mídia parece que seguiu o mesmo passo em relação a cobrir as negociações pela vacina. Isso ficou evidente ao pensarmos que a carta parece ter mais valor midiático após oito meses de seu envio. O jornalismo vive somente das repercussões ou será que as investigações e apurações ainda têm importância?

Outro fato importante para pensar sobre o jornalismo a partir desse caso é como os veículos ficam reféns de quem os comanda financeiramente; o corporativismo muitas vezes mata a busca pela verdade e informações fundamentais para a sociedade. A SECOM e a RedeTv possuem jornalistas trabalhando para eles, e o dever deles teria que ser trabalhar com a verdade, mas como isso pode ocorrer se as pessoas que estão em cima não fornecem a informação para dar início a apuração? A notícia sobre a carta da Pfizer seria incrivelmente bombástica ano passado, fato que passou batido pela rede de comunicação do governo e a RedeTv.

A veiculação dessa notícia seria importante para a população, e teria o poder de validar o Governo Federal e aumentar a credibilidade jornalística da emissora. Todo o crédito que poderia ser obtido em nome da transparência pública foi jogado no lixo e ficamos no escuro em relação a essas notícias por meses. Parece que os interesses privados e particulares dos responsáveis por ajudar nessa transparência valem mais do que a informação para o povo brasileiro.

Referências

https://agenciabrasil.ebc.com.br/foto/2019-05/fabio-wajngarten-participa-de-audiencia-publica-no-senado-1581293599-2

https://veja.abril.com.br/politica/fabio-wajngarten-houve-incompetencia-e-ineficiencia/

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