O jornalismo e a espetacularização da guerra

A cobertura extensa da guerra traz discussões importantes a respeito do jornalismo em conflitos

Matheus Fiuza
singular&plural
3 min readApr 8, 2022

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Por Luis Fabiani, Matheus Fiuza e Pedro Gallo

Em meio à consolidação das redes sociais no mundo globalizado, a dinâmica da produção jornalística passou a enfrentar novos desafios para que os valores profissionais sejam seguidos. Quase um mês depois da invasão russa ao território ucraniano, o conflito se tornou protagonista das manchetes midiáticas com atualizações diárias, alterações político-econômicas globais e relatos humanitários de sobrevivência e imigração da população envolvida. Afinal, qual o papel do jornalismo em uma guerra?

Como um dos princípios balizadores do jornalismo, a verdade se tornou um objeto de manipulação nos tempos atuais. Em períodos de conflitos armados como agora, a propaganda de guerra na pós-verdade dificulta a filtragem daquilo que é o correto a se tratar como informação. Cada discurso sai com uma ideologia, apesar da tentativa de mascarar os vestígios para se manter confortável na busca pelo próprio objetivo. Nesse sentido, o jornalismo não só é um “retrato” dos fatos, mas também se situa como a ferramenta necessária para “consertar” as peças quebradas oriundas dos discursos de propaganda.

Protesto em prol da soberania ucraniana (Créditos: Pixabay)

A guerra entre Rússia e Ucrânia ganha outro caráter ímpar devido à transmissão em tempo real — em alguns casos, com imagens por 24 horas — nas redes sociais de cidades que foram ou serão afetadas pelo conflito. Na guerra do jornalismo contra a desinformação, cujo campo de batalha são as mídias digitais, as narrativas são a munição de quem busca a vitória no conflito midiático. Hoje, tornou-se mais relevante a forma e quem fala do que essencialmente aquilo que deve ser falado.

Dessa forma, a espetacularização da guerra — e todas as suas consequências — não se atém só às palavras, mas também às imagens proporcionadas pelos meios televisivos, além das redes sociais. Na busca pela melhor notícia, a melhor fotografia ou a melhor cobertura, o jornalismo se coloca em um limbo de ultrapassar limites da ética profissional e mergulhar no sensacionalismo ao mexer com emoções, a dor e o horror da guerra.

O front de batalha, agora, não se foca apenas nas informações, mas naquilo que mexe com o íntimo de quem vê. A pluralidade e a liberdade, dois aspectos de valor no jornalismo, são diminuídos para cumprir determinados interesses do mundo globalizado e indicar o que, naquela perspectiva, é socialmente aceitável ou normalizado. Na disputa entre a mídia ocidental, que condena a ação da Rússia, e da mídia russa e aliados, que alegam a “desnazificação” da Ucrânia para o conflito, prevalece aquilo que convence mais, e não o que é o factual.

Logo, a guerra entre Rússia e Ucrânia comprova, por meio da cobertura jornalística no mundo globalizado, que a mentira e a distorção são recursos usados pelos envolvidos em busca da vitória no conflito. O jornalismo, ao se portar pela verdade e pluralidade, não pode correr o risco de se limitar aos discursos ideológicos na guerra e se esquecer da crítica, que aos poucos vai caindo no esquecimento da sociedade.

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