O jornalismo em uma sociedade de falsa democracia

A disputa entre o quarto poder e aqueles que governam por meio da censura

Letícia Baie
singular&plural
3 min readOct 1, 2020

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Por Letícia Baie, Marina Sayuri e Paula Faria

Crédito: George Becker/Pexels

A mídia, desde a sua criação, foi vista como a precursora dos interesses daqueles que eram silenciados por uma sociedade pouco representativa. Seu papel passou a ser enxergado como uma ferramenta social capaz de alcançar grande parte da população e levar assuntos de inclusão aos debates e palcos políticos, fazendo com que a opinião do público fosse expressada.

Com isso, na medida em que o jornalismo começou a exercer forte influência sobre a sociedade e os governos, muitos passaram a denominá-lo como o “quarto poder”. A expressão faz alusão aos três poderes garantidos pelo Estado Democrático (Legislativo, Judiciário e Executivo). Esta posição foi conquistada por conta da sua força ideológica, econômica e social ao atuar como porta-voz do interesse público e agente fiscalizador dos outros poderes.

Ao levarmos em consideração a evolução da sociedade brasileira, perante ao cenário de governos passados, que silenciavam aqueles que eram contrários às suas ordens, percebemos um fato: a realidade de 1964 se vive em 2020. Na calada da noite, jornalistas são mortos. Suas vozes são abafadas.

Nos deparamos ainda hoje com uma sociedade que constantemente luta pela sua liberdade de expressão. A discussão acerca do papel do quarto poder, representado pelas grandes mídias e veículos jornalísticos, que têm a competência de dar voz aos cidadãos e fazer denúncias a respeito das violações nos direitos dos regimes populares, ainda se faz ecoar numa sociedade que pouco evoluiu democraticamente.

Eleito em 2017, o prefeito do município do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, foi autor de um ato anti-democrático. A liberdade de imprensa, mais uma vez, foi violada, e o direito do cidadão se esvaiu por um esgoto repleto de sujeira política e inundado de censura.

Uma reportagem divulgada pela Rede Globo, em setembro de 2020 e intitulada “‘Guardiões do Crivella’: entenda as denúncias sobre esquema para impedir reportagens sobre a saúde no Rio”, retratou a negligência com a saúde pública do Rio de Janeiro e como a censura ainda se faz presente, gritando na cara da sociedade que nada evoluímos desde 1964.

Crivella pagou, com dinheiro público, funcionários da prefeitura para ficarem à postos em hospitais municipais com o objetivo de atrapalhar os repórteres durante apurações, dificultando assim a realização de reportagens acerca da saúde pública do Rio, em um momento de colapso do setor, devido à pandemia do coronavírus.

Quando os jornalistas tentaram abordar os funcionários, estes agiram de forma violenta e se negaram a comentar sobre o fato de estarem cometendo um crime, que é o de censura de informação.

Ao longo da reportagem vemos que o veículo se posicionou bem ao impor o direito de expressão e de buscar a verdade por trás do esquema sujo que prejudica os cidadãos. Se analisarmos o conjunto de todas as matérias acerca desse mesmo assunto publicadas no G1, identificamos um jornalismo genuíno, que escolheu não estar ao lado do Estado, mas sim da população.

O veículo revelou o lado obscuro de atos corruptos e deixou claro que o que foi divulgado se trata de funcionários públicos, contratados e pagos com dinheiro público, para impedir que o cidadão tenha direito à informação e saúde de qualidade, direitos básicos de uma sociedade democrática.

O papel exercido por eles mostrou que manteria sua posição de “os olhos e ouvidos da população”. A reportagem conseguiu mostrar o absurdo que acontece bem debaixo de nossos narizes, mantendo a imparcialidade, uma vez que buscaram mostrar o outro ponto de vista, o da prefeitura, que afirmou que os funcionários estão lá para “esclarecer a população”.

E o que seria o real esclarecimento para a população, se não o que foi feito pela reportagem de denúncia? O quarto poder luta para a sociedade, entre aqueles que utilizam seu poder para benefício próprio.

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