Jornalismo Esportivo?
Por Luciano Lourenço Neto, Giovanni Antonelli e Gustavo Oyadomari
O jornalismo está profundamente inserido na crise política e econômica brasileira. As redações estão cada vez mais enxutas, as vagas de emprego escassas, e o trabalhador tem sido cada vez mais explorado. A grande mídia, que poderia — e deveria — apresentar uma solução para a situação crítica que a área está passando, fecha-se em interesses individuais.
A editoria esportiva tem sido uma das maiores expoentes desse egoísmo. As fofocas tomaram o lugar das notícias, o valor-notícia se perdeu e o importante é gerar dinheiro. O clickbait e as discussões vazias, feitas a partir de opiniões rasas para gerar polêmicas, têm lugar cativo nas redes sociais e programas televisivos do jornalismo esportivo.
A Fox Sports, canal estadunidense que chegou no mercado brasileiro em 2012, é uma das emissoras que mais se encaixam desse perfil. A página da empresa no Facebook, que possui cerca de 3 milhões e 800 mil curtidas, comumente reproduz conteúdo de seus programas televisivos, com chamadas que pouco passam informações. Juntam os dois dos maiores problemas do jornalismo esportivo atual em um post só. Unem o inútil ao desagradável.
Para efeito de análise, na quarta-feira, dia 13 de setembro, um post sobre a opinião do comentarista Facincani sobre um jogador que atua no futebol alemão foi feito. Ao abrir o link, o internauta se depara com um vídeo que, só então, passa a informação completa para quem a procura.
No post de baixo, um daqueles que se encaixa no quesito fofoca. A chamada fala de uma atitude de Neymar após um jogo pela Champions, no qual se envolveu em uma confusão. A informação, irrelevante, é que o brasileiro doou sua camisa a uma entidade de um ex-jogador do Celtic, rival do PSG, clube de Neymar, no jogo em questão.
A mídia esportiva usa e abusa da imagem de Neymar, visto que apenas o nome do brasileiro gera cliques por si só, mesmo que a notícia relativa a ele seja irrelevante futebolisticamente falando.
Outro exemplo de fofoca é um post sobre o visual do argentino Icardi, que, supostamente, teria copiado Messi após a convivência de ambos na seleção argentina. Como colocado por Luiz Martins da Silva, no livro de Venício Lima “Vitrine e Vidraça: Crítica de Mídia e Qualidade no Jornalismo”, há diferença entre uma notícia que apenas notifica o ocorrido — como nesse caso — e outra que o explica, fornecendo informações e dados, levando em conta a utilidade pública e o contexto.
A matéria em questão ignora por completo o interesse público colocado, focando em gerar cliques que, consequentemente, geram dinheiro provindo dos anunciantes. Além disso, o valor-serviço também é inexistente, pois não houve sobretrabalho — termo empregado no texto supracitado — e, além disso, a mais-valia se concentra na empresa, e não de forma coletiva.
Na televisão, apesar de apostar em comentaristas ex-jogadores e no excelentíssimo Paulo Vinícius Coelho, aqueles que aparecem em programas como o Fox Sports Rádio costumam abrir a boca apenas para dar opiniões polêmicas e infundadas. É o exemplo de Mano, Flávio Gomes, Quesada e Sormani.
(PORTO apud ROTHBERG in CHRISTOFOLETTI, 2004, p. 78) classifica o termo “enquadramento” como um processo de seleção, exclusão e ênfase de determinadas informações. O termo parece ter sido ignorado ou ser desconhecido pelos responsáveis da emissora, uma vez que as desinformações divulgadas parecem nunca ter chegado, ao menos, à sombra do conceito.
Ademais, é, de certa forma, frustrante aprender “x” no curso de jornalismo e na prática os veículos exercerem “y”. Os paradigmas do jornalismo nada mais são do que regurgitação de regras, mas não explicitados na forma como deve-se colocá-los deveras. O meio acadêmico da comunicação por si só é uma bolha imaginária e opaca, alienada às situações emergenciais. Como exemplo, têm-se a citação de Josenildo Luiz Guerra, no livro Vitrine e Vidraça: “Do contrato entre a instituição jornalística e sociedade, emergem três grandes expectativas necessárias às quais nenhuma organização pode negligenciar: de que o produto (a informação) seja objetivo, relevante e plural.” (GUERRA in CHRISTOFOLETTI, p. 76, 2010) Pois é, não se pode negligenciar, mas negligenciam. A letra é fácil, complicado é cumprir.
Para tantos aspirantes a jornalistas esportivos que entram todo semestre no curso, a má fé atual da editoria é um tiro no pé. Para aqueles que se submetem, pode ser comodismo ou necessidade. Para quem consome as informações, é um desserviço. É bastante clara a necessidade de adaptação do jornalismo esportivo à situação atual da área, mas é triste que seja na direção contrária à correta.
Bibliografia:
CHRISTOFOLETTI, Rogério. Vitrine e Vidraça: Crítica de Mídia e Qualidade no Jornalismo. Covilhã: Labcom, 2010.