O monopólio da Globo no futebol brasileiro

Vinicius Enrique
singular&plural
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3 min readMar 27, 2018

Mesmo sendo acusada de pagamento de propinas, emissora carioca segue dominando o cenário do esporte nacional

Por Thiago Dalle e Vinícius Enrique

Em novembro de 2017 foi revelado pelo argentino Alejandro Burzaco, ex-diretor da empresa de eventos esportivos Torneos y Competencias, um dos casos mais hediondos de corrupção no esporte. Em uma delação premiada, ou seja, quando o réu coopera em identificar os culpados de uma ação criminosa, Marco Polo Del Nero e José Maria Marin receberam acusações graves, que envolveram também a Rede Globo

Nesta investigação da Fifa, o delator afirmou que a Globo pagou propinas para receber os direitos de transmissões de jogos do campeonato de futebol. Além disso, o destino desse dinheiro foi a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e a Conmebol, responsável por diversos torneios no continente, como a Copa Libertadores e a Copa Sulamericana. Essa notícia parece ter atingido em cheio a emissora no final do ano passado.

A rede Globo é detentora dos direitos de transmissão de campeonatos nacionais e da seleção brasileira há mais de 30 anos. Um verdadeiro monopólio extremamente lucrativo para a empresa. Para se ter uma noção de valores, os ganhos de publicidade em 2014, ano da copa do mundo no Brasil, subiu 8%, fechando em um faturamento líquido de 12,4 bilhões.

Vale lembrar que o controle das transmissões de futebol da Globo está sendo investigadas pelo órgão nacional anti-monopólio, o Cade. Os outros grupos de comunicação reclamam de vários problemas do atual modelo de transmissão dos jogos, que privilegia a Globo.

Uma parte dessa vantagem é a ausência de uma lei que impeça a monopolização da mídia no Brasil. Com isso, o grupo de comunicação possui o maior canal de TV aberta do país, 30 canais na TV paga, duas redes de rádio, jornais e outros veículos de imprensa.

Impossível não notar o vínculo da Globo com o escândalo que assombra a maior entidade de futebol do planeta. Além da relação muito próxima da emissora com a CBF, envolvida no esquema de corrupção da FIFA, há também muitos contratos de transmissão firmados com parcerias com dirigentes dos clubes, alguns tendo cargo político.

Essa situação dos direitos de transmissão e de corrupção só nos mostra um mercado de mídia bem concentrado, onde as outras emissoras não têm vez. Enquanto a empresa ganha rios de dinheiros, quem perde com isso é o torcedor e o futebol no seu modo geral.

A Globo, junto com as federações, estabelece os horários das transmissões esportivas, muitos jogos são realizados ás 22h de quarta-feira, por exemplo. O horário dificulta muito as pessoas que precisam voltar de transporte público após o término das partidas. O calendário também é duramente criticado por técnicos e jogadores, já que obriga um esforço imenso dos atletas, tendo uma rotina exaustiva de trabalho. Os clubes servem de fantoches da emissora, já que são reféns das altas cifras que recebem todos os anos dos direitos de transmissão.

Na Argentina, por exemplo, houve a democratização do esporte, as transmissões das partidas por rádio, TV e online foram ampliadas, as verbas destinadas aos times também foram redistribuídas de forma mais equilibrada, tendo assim, com o tempo, uma maior competitividade nos torneios nacionais.

A relação da Globo com cartolas corruptos durante todos esses anos, nos leva a acreditar que é necessária uma desconcentração do futebol pela mídia. Um fim do monopólio que só há um beneficiado.

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