O Nexo e seu necessário jornalismo de contexto

Em meio ao excesso de notícias, muitas destas dadas de maneira superficial, o jornal digital inova com seu jornalismo independente

Daiana Rodrigues pereira
singular&plural
4 min readNov 24, 2020

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Por Amanda Pickler, Daiana Rodrigues e Rebecca Gomes

Crédito: Freepik

Com o avanço das tecnologias midiáticas e o consequente aumento do fluxo de informação, os meios de comunicação precisaram se adaptar, em especial ao que se refere ao Jornalismo e ao modo de se noticiar eventos. Diante desse contexto, muitos veículos de comunicação viram-se obrigados a migrar para o mundo digital, tonando-se cada vez mais reféns de uma demanda incessante por notícias, situação essa ainda mais cultivada pelo próprio meio jornalístico, o qual coloca quantidade e competitividade acima de qualidade. Eis a importância de um jornalismo alternativo, tal qual o realizado pelo Nexo.

Enquanto veículos tradicionais muitas vezes acabam se perdendo em um emaranhado de informações pouco desenvolvidas, o jornal digital Nexo aproveita de forma benéfica os recursos tecnológicos da atualidade. Ao apropriar-se de uma linguagem multimídia, cria um importante jornalismo de contexto, com informações aprofundadas e que estimulam o pensamento crítico. Sendo assim, este artigo propõe-se a uma análise de conteúdo do jornal Nexo a fim de evidenciar a importância social de seu formato de jornalismo.

“O que já há de privado no SUS. E quais ações reforçam a tendência”, de Estêvão Bertoni, inicia-se com uma breve contextualização do polêmico decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro, o qual possibilitava a parceria do Sistema Único de Saúde (SUS) com a iniciativa privada. Como o próprio título da matéria já indica, o que se pretende aqui é trazer uma informação diferenciada, que vá além do fato já noticiado por inúmeros veículos, acrescentando ao seu leitor maior base de repertório para se desenvolver opiniões argumentativas. Por meio de pesquisas e dados, Bertoni traça cronologicamente a relação entre iniciativa privada e saúde pública. Além do mais, apoiado em entrevista com a professora e pesquisadora Angélica Fonseca, também elenca todas as iniciativas de Bolsonaro que dão abertura para uma possível privatização da saúde. A matéria ainda é lincada com um podcast em que se discute a importância do SUS e também a reportagem especial “O que é, de onde veio e para onde vai o SUS”, realizada em abril deste mesmo ano.

A reportagem especial é extremamente completa, contando com imagens, infográficos, depoimentos em áudio, linha do tempo interativa e dados referentes não somente à história da criação do SUS, mas uma análise de todo o sistema de saúde brasileiro desde 1923 até os dias atuais. Esse é um excelente exemplo de como o Slow Media, mesmo demandando muito mais tempo e dinheiro do que o Hard News, pode produzir conteúdos com uma durabilidade e relevância astronomicamente maior.

Funcionários atendem pacientes pelo SUS / Créditos: MARCELLO CASAL JR./AGÊNCIA BRASIL

Em “Qual o risco de Trump contestar o resultado da eleição”, de João Paulo Charleaux, nota-se outro exemplo de abordagem diferenciada do tema. Charleaux, embasado na fala de especialistas como o historiador e analista político Jeremy Adelman e a pesquisadora e analista política, Wendy Hunter, explica não só a alta possibilidade de Trump contestar uma possível derrota, mas também evidencia as possíveis maneiras de como isso pode se colocar em prática. Constrói a reportagem em quatro segmentos principais. O primeiro: “A questão do voto por correio”, em que evidencia brechas das quais Trump pode respaldar-se para uma contestação, como a alegação de que o voto por correio é sujeito a fraudes. O segundo: “Qual a base para as suspeitas”, aqui realiza uma contextualização da política estadunidense, usando como base e recontagem de votos ocorrida na eleição presidencial de 2000 (Bush versus Al Gore). O terceiro: “Confusão ainda maior que em 2020”, aqui explica as possíveis consequências de uma recontagem de votos. E o quarto: “O pior e melhor cenário”, em que analisa a polarização atual, em um contexto político similar ao do século XIX, onde discordâncias políticas levavam à violência extrema. Ao fim da reportagem, vê-se link para podcast que aprofunda a atual eleição americana, proporcionando ainda mais repertório e diferentes visões sobre o mesmo tema.

Funcionários atendem pacientes pelo SUS / Créditos: MARCELLO CASAL JR./AGÊNCIA BRASIL

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