O papel da imprensa na cobertura política: panorama estadual e nacional das pré-campanhas

matheus zago
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3 min readJun 14, 2018

Por Matheus Barbosa Zago

A cobertura política da imprensa é um fator fundamental para diversos candidatos neste período de pré-campanha. Contar com a simpatia de órgãos de imprensa e jornalistas que realizem uma cobertura positiva de suas ações é muito vantajoso neste período que ainda não é permitida a propaganda eleitoral obrigatória. Como exemplo, Márcio França (PSB), atual governador do estado, criado político do ex-governador Alckmin, herdou também a máquina de imprensa e o apoio velado de Alckmin, que não confia mais em seu correligionário João Doria, que tentou tantas vezes puxar seu tapete.

França, que até então era um desconhecido, conta com uma cobertura exponencial da imprensa, principalmente após seu protagonismo na tentativa de solucionar a crise com a greve dos caminhoneiros. França conta com o apoio direto de José Luis Datena, que o entrevista semanalmente, sempre com coberturas muito favoráveis. Datena, que até há poucos meses tinha um discurso muito elogioso para com o ex-prefeito João Doria, passou a criticá-lo duramente após o tucano se tornar adversário de França. Vale mencionar aqui que Datena é pré-candidato ao Senado pelo DEM e lidera as intenções de voto no estado.

Apesar das críticas de Datena a Doria, o DEM já verbalizou apoio a este e, muito provavelmente, indicará o vice em sua chapa. Doria, que contou com o apoio praticamente irrestrito da imprensa em sua eleição para prefeito em 2016, viu seu nome se desgastar demais com os episódios da Cidade Linda, operação tapa-buraco, caso da farinata, propina do ILUME e, principalmente, com a saída prematura da prefeitura, já não conta mais com a simpatia da imprensa. A rejeição ao seu nome já chega a 55% na capital paulista, superando até a do ex-presidente Lula.

Já no âmbito nacional, nunca antes os candidatos nanicos contaram com tanta exposição da mídia como agora. João Amoedo (Novo) e Guilherme Boulos (PSOL) já foram sabatinados no Roda Viva; Flávio Rocha (PRB) já foi entrevistado no ano passado e será mais uma vez neste ano. Os três já foram sabatinados pela Folha, também.

Já o líder das pesquisas (nos cenários sem o ex-presidente Lula) Jair Bolsonaro (PSL) repete o feito de FHC e se esquiva dos debates. Bolsonaro faltou ao Fórum da Liberdade em Porto Alegre, tendo confirmado presença, e também cancelou sua participação na sabatina organizada pelo SBT, UOL e Folha. Citando o já clichê "clima de polarização política", os órgãos de imprensa fazem um grande desserviço citando pré-candidatos como Geraldo Alckmin (PSDB), Álvaro Dias (Podemos), Rodrigo Maia (DEM) e até mesmo Amoedo e Rocha como candidatos de centro, tentando fazer com que candidatos “do mercado” sejam mais palatáveis à opinião pública. Nesse cenário, Bolsonaro é tratado como candidato único de direita, e Lula, Boulos, Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT), Manuela D’Avila (PC do B) são tratados como “extremistas e radicais”.

Precisamos compreender o primordial papel da imprensa na escolha dos candidatos favoritos. Com a desistência de Quércia em 1989, Roberto Marinho se apoiou no jovem caçador de marajás, Fernando Collor de Melo, temendo Luiz Inácio Lula da Silva e Leonel de Moura Brizola. O desfecho dessa história todos nós já sabemos.

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