O papel da mídia na cobertura do impeachment de Dilma Rousseff

Juan Mendes
singular&plural
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2 min readMar 27, 2018

Entenda como a mídia interfere na formação da opinião pública

Por Juan Mendes e Caio de Castro

A ausência de discussões profundas sobre a situação do país e o excesso de discursos reacionários não se restringiram às falas de políticos extremistas na Câmara dos Deputados. Esta linha de raciocínio rasa se estende aos debates da população e à cobertura midiática sobre um dos maiores eventos políticos da história recente do país, o impeachment da presidenta Dilma.

Toda uma construção de sentidos foi legitimando a aprovação da admissão do pedido de impedimento de Dilma Rousseff. Assim, a “opinião pública”, elemento essencial do processo de manipulação, se mostrou garantida neste jogo.

A cobertura do dia da votação foi permeada por uma maior sutileza em relação à exposição dos posicionamentos dos grandes conglomerados midiáticos. Exceções em tom mais agressivo foram feitos por emissoras de rádio como a Jovem Pan, que transmitiu em cadeia nacional e manifestou sistematicamente, num discurso conservador, seu apoio à queda do governo.

A TV Globo acompanhou as movimentações no Congresso Nacional, entrando com flashes do jornalismo em meio à programação de esportes e entretenimento. Com o início da sessão na Câmara, deu exclusividade à cobertura política. Durante todo o dia, o equilíbrio da reportagem foi bem maior do que no início da crise, quando a Globo atuou como agente político importante, convocando a população a ir às ruas contra o governo.

O equilíbrio proposital era apenas de fachada. Uma análise precisa permite perceber algumas coisas interessantes. Até o início da votação, eles se basearam principalmente em dois fatos: a defesa da legitimidade do processo de impeachment e das manifestações de rua a favor do impeachment. Logo em sua primeira participação, o repórter que cobria a votação tratou a derrubada de Fernando Collor em pé de igualdade com a derrubada de Dilma, comparando os dois processos. O jornalista também afirmou que o STF legitimou o processo, ignorando as opiniões contrárias de dezenas de juristas que defendem não haver motivos legais para o impedimento da presidenta.

Mais tarde, destacou os atos a favor do impeachment, dizendo que a cidadania está nas ruas. As “ruas” foram identificadas com uma parte dos manifestantes apenas, constituindo mais um argumento a favor da legitimidade da mudança no comando do país.

Analisando a cobertura deste acontecido, podemos concluir que a mídia não é imparcial, apesar dessa ser uma proposição histórica jornalismo. Até grandes empresas midiáticas, como a TV Globo, apresentam uma linha de pensamento, mesmo que implícita em pequenos boletins ou coberturas diferentes. Como a opinião pública é formada a partir do que é divulgado, as empresas conseguem disseminar suas ideias, mesmo que essa ação seja “invisível”. Cabe aos cidadãos procurarem em diferentes fontes para entenderem o que de fato acontece.

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