O papel do jornalismo dentro da cultura do cancelamento
Comentários maldosos nas redes sociais são capazes de acabar com a carreira, imagem e a saúde emocional do “cancelado”
Por Jéssica Barreto
A globalização trouxe consigo muitos avanços tecnológicos e mais praticidade à vida cotidiana. Contudo, com o advento da internet e das mídias sociais, a forma como nos comunicamos sofreu grandes mudanças. A primeira, e talvez a mais importante delas, foi o surgimento do compartilhamento (ou comunicação) em rede , que possibilitou a qualquer pessoa com computador ou aparelho celular, conectados à internet, compartilhar com a sua rede de amigos suas vivências e opiniões sobre os mais variados tipos de assuntos, isso em escala global e em questão de segundos. Se por um lado esse avanço na tecnologia trouxe muitas coisas boas, por outro também podemos ver seus reflexos negativos sobre a vida das pessoas devido ao seu mal uso.
Como já dito anteriormente, as redes sociais se tornaram local propício para que qualquer pessoa expresse suas opiniões e pensamentos sobre tudo a sua volta. A grande problemática de tudo isso é que muitos ainda agem como se de fato a internet fosse uma terra sem lei e sem regras, compartilhando fake news, discursos de ódio e até mesmo promovendo ataques e linchamentos virtuais, e que por vezes se tornam reais, levando o mundo virtual ao seu nível mais extremo.
Com o surgimento da figura dos influencers digitais, celebridades que adentraram nas redes sociais, ou anônimos que ganharam notoriedade por determinada produção de conteúdo, surge também a Cultura do Cancelamento. Como o usuário, ou pessoa comum, agora tem o poder de decidir o que gosta ou não gosta nas mídias sociais, qual comportamento julga adequado ou não, tudo isso acaba sendo expresso em forma de comentários maldosos e desrespeitosos que têm o poder de acabar com a carreira e reputação da pessoa cancelada. Um exemplo disso veio após a participação da cantora Karol Conká no reality show Big Brother Brasil, em 2021. Dentro do programa a cantora teve falas e comportamentos que foram reprovados pelo público, o que de imediato refletiu nas mídias sociais. Seu perfil foi “cancelado” e houve uma chuva de comentários negativos a seu respeito, tanto nas redes como em alguns sites de notícias. O resultado disso foi uma queda brusca em seu número de seguidores, cancelamento de contratos de trabalho e parcerias, além de sua saída do programa com porcentagem histórica de rejeição.
Hoje em dia se tornou comum ouvir relatos de pessoas, famosas ou não, que sofreram danos físicos ou emocionais após serem canceladas nas mídias sociais. No caso de Karol Conká, a cantora tenta até hoje limpar a sua imagem frente à opinião pública e retomar sua carreira que ficou marcada devido a tudo que aconteceu dentro da casa e o que foi especulado fora dela. Por isso, dentro desse universo o verdadeiro jornalismo exerce um papel fundamental, pois o seu compromisso com a verdade, apresentando os fatos e desmascarando as fake news e ‘achismos’ presentes no mundo virtual, contribui para o uso consciente da internet e pode ajudar a preservar vidas, dentro e fora das telas.