O passe livre das grandes marcas dentro das redações

Como o jornalismo de luxo celebra um meio ainda tão segregador

Giovanna Arantes
singular&plural
3 min readJun 6, 2021

--

Por Giovanna Arantes e Luiza Brilhante

Fonte: Cleo Vermij por Unsplash

Um dos nomes mais importantes do jornalismo de moda contemporâneo é, sem dúvida, a revista Elle, responsável por capas icônicas com grandes nomes, modelos e parcerias. A publicação passou por diversas adaptações ao longo dos anos e, atualmente, alimenta o seu site diariamente com diversas matérias que conversam diretamente com o seu público-alvo, vulgo o maior consumidor das marcas que ali são anunciadas. A edição física no Brasil conta apenas com publicações trimestrais.

O jornalismo da moda é um delicado ponto a ser analisado pelo fato de estar muito associado à publicidade e nomes fortes do mercado. É possível ver que há uma aura em torno do sonho das produções glamourosas e que coloca em xeque diversos valores. Dessa maneira, é interessante analisar que o meio sempre estará defendendo quem está ao seu redor, por mais que exista uma cobrança social das marcas de luxo se posicionarem socialmente, elas ainda possuem um passe livre em diversas situações por estarem em uma posição privilegiada.

A matéria em questão celebra a criação de “novas estratégias de inclusão” por parte da Prada, mas seriam elas suficientes para uma marca cujo reconhecimento é global? Como forma de proteção à grife (o que é comum ao falar de mercado de luxo), a Elle não apresenta críticas ao expor o modelo de bolsas — pensado para abarcar três alunos — e a parabeniza por tal prática. É possível perceber que, por mais que a redação tenha reportado a notícia dizendo que a grife italiana já foi acusada de racismo, há uma tendência dentro do jornalismo de luxo de que as ações negativas sejam apagadas pelos projetos positivos — como é o caso das apenas três vagas disponibilizadas pela empresa. Infelizmente há um viés implícito dentro da matéria, o discurso utilizado pela redação mostra, de uma maneira sutil, que a Prada é uma empresa inclusiva e que está acompanhando evoluções sociais.

Ainda que a empresa entenda a necessidade de uma expansão social, o foco de vendas e o público-alvo buscado ainda é muito distante da inclusão, mas semelhante ao da Elle, o que implica no fato de que as revistas de moda, em sua grande maioria, tenham ideologia semelhante e favorável às marcas de luxo. Sendo assim, o discurso favorável e defensivo foi claro quando nos damos conta de que não é criado um debate dentro da reportagem sobre o número de vagas, ou nem mesmo as especificações das vagas abertas. A ideia da publicação foi anunciar o projeto, mas sem sequer analisar o porquê da Prada realizar isso, não houve uma investigação da motivação.

Como sabemos, um texto é formulado a partir de estigmas externos e internos — nesse caso, a Elle se posicionou, mais uma vez, a favor de um jornalismo da ideologia de quem está dentro e que favorece a empresa citada.

--

--