O que será que será?

Júlia Firmino
singular&plural
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3 min readMar 26, 2018

É ou não é o fim do jornalismo impresso?

Por Júlia Firmino, Lana Nunes e Peterson Prates

Será que o modelo impresso está com seus dias contados? As tiragens cada vez mais baixas dos principais jornais do país, como Estadão, Folha de S. Paulo e O Globo comprovam a falta de procura por esse tipo de produto.

De acordo com os dados do Instituto Verificador de Comunicação (IVC), no ano de 2017, a Folha de S. Paulo, possuía 171 mil assinaturas online contra 143 mil do modelo impresso. Em 2016, o jornal perdeu 29.779 cópias de sua tiragem impressa, entretanto ganhou 32.717 assinantes digitais na mesma época, tendência que se aplica aos demais veículos.

Porém, contrariando o “establishment jornalístico”, o Jornal do Brasil, também conhecido apenas como JB, retoma a edição impressa. O JB duvida da profecia do fim do jornalismo impresso e volta às bancas do Rio de Janeiro.

Há exatos 50 anos, o JB era um dos principais jornais brasileiros, sob a liderança de Alberto Dines. Quando, em 2010, o JB acabou com sua versão impressa, para ser lido apenas na internet, se comentava sobre “uma mudança de época” no jornalismo brasileiro, abrindo as portas para uma nova era.

Antes de outros diários seguirem seu exemplo, o Jornal do Brasil volta a circulação em papel, com uma repercussão bem mais tímida do que ao encerrar a impressão.

A capa do retorno afirmava que o “Rio tem solução”. Acreditamos e torcemos que o Rio de Janeiro encontre o caminho da superação da violência, do fim das milícias, de uma intervenção educacional e cultural e de uma administração popular e honesta. Mas naquela primeira capa queríamos: para onde vai o jornalismo impresso?

O editorial desta edição, por Omar Resende Peres, empresário e dono do JB, propôs, no primeiro parágrafo, a responder a essa dúvida “estaria o JB na contramão da história?”:

“Neste momento de profundas e radicais mudanças na imprensa mundial, com o jornal impresso sendo o veículo mais atingido pela força das mídias sociais eletrônicas, decidimos retornar com o Jornal do Brasil em papel. Estamos, portanto, na contramão da história? O que nos motiva a enfrentar esse enorme desafio diante da profunda crise que abate a maioria dos jornais impressos em todo o planeta?”.

Mas não respondeu. Se limitou a dizer que o Jornal do Brasil ainda conta com “leitores ávidos”. E, ainda por cima, anunciou que neste ano vai colocar no ar um portal de notícias e uma JB-TV, com jornalismo 24 horas. A crise financeira que parece não atingir o jornal carioca.

Em tempos de renovação, técnicas e estratégias para não ficar para trás no cenário da internet e tecnologia, o JB aposta em cabelos brancos no seu quadro de comando. Sem demérito nenhum aos grandes nomes, mas será que vem mais do mesmo?

Paralelo ao advento diário de grupos, canais e páginas nas redes sociais, sobretudo no facebook, que estimulam e promovem notícias falsas e discursos de ódio, a Folha de S. Paulo deixa de alimentar a página no facebook com seu conteúdo, como birra a mudança de algoritmos da rede social.

Em uma realidade de interação virtual, de curtidas, comentários (raivosos) e compartilhamentos, qual é o remédio para as fake news? O jornalismo brasileiro vai conseguir responder a tudo isso? Ou será que o futuro do jornalismo é o papel, e nossa vista embaçada pelas redes sociais não nos permite enxergar?

Fica cada dia mais difícil descobrir o futuro do jornalismo brasileiro. O conteúdo virtual pago já se demonstrou fraco para o financiamento do ofício laboral, que mesmo tendo cada um número cada vez maior de assinantes, não dão o mesmo retorno financeiro que o modelo impresso. As mídias alternativas, que se levantam como nova possibilidade de mídia, ainda não conseguem falar para fora do universo de militantes.

O presente dilema, que aparenta ser apenas uma crise no modelo de negócio, por vezes, desconsidera qual impacto produzido sobre o receptor.

Em contrapartida ao foco de observação no emissor da mensagem, e no controle e certa demonização das massas, sempre alienadas ou apenas divididas entre alta e baixa cultura, um desvio de foco para o receptor, mais especificamente para a maneira pela qual ele recebe a informação e o que ele faz com ela em seu cotidiano nos faz questionar se não estamos apenas fazendo pequenos reparos e não construindo um alicerces.

Dessa forma, a pergunta não deve, nem pode ser: “o que será de nós?”. A pergunta é: o que será do mundo sem o jornalismo?

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