O racismo estrutural como forma de segregação nas matérias jornalísticas

Esse é um processo que atinge diariamente os negros no Brasil

Danielsaltes
singular&plural
3 min readDec 17, 2021

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Por Daniel Saltes

Na tarde deste domingo, 12 de dezembro, o rapper Djonga foi acusado de agredir um segurança no estádio do Mineirão, em jogo válido pela final da Copa do Brasil. O cantor alegou que essa ação foi apenas uma reação às ofensas racistas recebidas por ele vinda dos policias.

Rapper Djonga vitima de racismo no Mineirão (Jel Delgado/Divulgação)

A noticia foi dada de dois jeitos por veículos diferentes, mas nesta crítica iremos analisar duas matérias, uma dada pelo site G1 e outra da radio Itatiaia. Nelas podemos observar algumas características em relação ao enfoque e apuração dos fatos.

Como José Luiz Fiorin certa vez disse em um de seus livros: “O texto pode ser abordado de dois pontos de vista complementares. De um lado podem-se analisar os mecanismos sintáticos e semânticos responsáveis pela produção do sentido, de outro, pode-se compreender o discurso como objeto cultural, produzido a partir de certas condicionantes históricas, em relação dialógica com outros textos”.

Na matéria da Itatiaia, logo no titulo podemos observar que o enfoque não está no episódio de racismo sofrido pelo rapper, mas sim nas acusações de lesão corporal do cantor aos policiais.

Já no artigo do G1 observamos os dois lados da notícia, primeiro relatando o caso de racismo a Djonga, e depois que isso ocasionou a agressão aos seguranças durante o jogo no estádio do Mineirão.

Durante o texto observamos algumas características: na matéria da Itatiaia o enfoque é quase que exclusivo na agressão, falando que o rapper foi encaminhado à delegacia, dando voz a Djonga somente em duas linhas por conta de uma postagem dele no Instagram falando do seu lado no acontecido.

No G1, a dialogia entre as histórias é contada ao mostrar as duas versões, a verdade de cada lado, não parecendo que a ação foi isolada, mas sim explicando que uma coisa levou a outra, que as ofensas racistas levaram o rapper a reagir.

Mas um questionamento que pode surgir é: qual o motivo para essa diferença das abordagens? Por qual motivo o negro é sempre visto de forma marginalizada?

Para refletirmos sobre isso precisamos voltar um pouco no tempo. Os alicerces da nossa sociedade foram criados em uma estrutura social, política e econômica racista. O Brasil carrega uma história de 300 anos de escravidão, nosso país foi o ultimo da América a abolir a escravidão negra. Depois de mais de um século, esse conceito ainda está enraizado no inconsciente coletivo da sociedade, que marginaliza as pessoas negras, fator impeditivo para que elas sejam cidadãos plenos.

É essa naturalização de ações, hábitos, situações, falas e pensamentos que já fazem parte da vida cotidiana do povo brasileiro e que promovem, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial. Um processo que atinge tão duramente a população negra. Essa é a definição de racismo estrutural.

No cotidiano da sociedade brasileira estão normalizadas frases e atitudes de cunho racista e preconceituoso. Baseados em atitudes preconceituosas, como desconfiar da índole de alguém pela cor da pele.

Essas ações reverberam nas instituições públicas e privadas. No Estado e nas leis que alimentam a exclusão da população negra. Elas se materializam, por exemplo, na ausência de políticas públicas que possam promover melhores condições de vida a essa população

Esse problema é evidenciado por um número. No Brasil, pessoas negras são mortas com mais frequência que pessoas não negras: os negros representam 75% das vítimas de homicídio, segundo o Atlas da Violência de 2019.

Portanto, pessoas são julgadas sem antes saberem seus motivos. Matérias onde se ouve de forma majoritária um lado acaba contribuindo para o racismo estrutural, algo que está naturalizado na sociedade brasileira.

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