O serviço que todos necessitam, mas ninguém quer pagar

Giovanna Dagnino
singular&plural
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2 min readJun 14, 2018

Por Giovanna Dagnino

Seria maravilhoso se tudo fosse de graça nesse mundo. O problema é que estamos longe dessa utopia e absolutamente tudo nesse mundo que necessita de um serviço é preciso que seja pago — e, preferencialmente com o famoso dinheiro.

As pessoas aceitam — e pagam sem reclamar — que até para morrer existe um preço. Sim, serviços funerários custam caro para quem perde um ente querido. A única pessoa sortuda nestes caso é o morto, que livrou-se da árdua tarefa de se preocupar com os famigerados cifrões — inclusive do próprio enterro.

A questão aqui, no entanto, vai bem além da morte, ela aborda a comunicação. Por que, afinal, ainda paga-se para que a informação seja disseminada? Alguns acham um absurdo que deva-se pagar por algo tão natural. Ora, mais natural do que a morte?

Sempre existirá alguém por trás de uma informação, normalmente um repórter, um editor ou uma redação inteira que trabalha mais de oito horas por dia para tentar tecer de forma correta uma história verdadeira. O jornalista, mais do que qualquer outro profissional, sabe bem disso.

As redações estão sem dinheiro, ninguém mais quer pagar por algo que pode ser dado de graça no whatsapp da família, por exemplo. O erro em acreditar que o trabalho de um profissional que estuda quatro — ou mais — anos pode ser substituído por tios despolitizados que compartilham informações abruptamente sem, ao menos, checar de a procedência resultou na maior tragédia da informação nos últimos anos: as fake news.

Então a culpa das fake news é de quem não quer pagar pelo conteúdo? A questão é um pouco mais complexa do que essa pergunta. Hoje já sabe-se que o público tem migrado para as publicações online e o paywall foi a solução encontrada pelos veículos para continuar garantindo que o salário de jornalistas e funcionários das redações continue caindo nas conta no final do mês.

O problema é que as pessoas preferem simplesmente deixar de pagar apenas R$ 1,99 por mês (o preço de uma assinatura online da Folha de São Paulo, por exemplo) para consumirem de graça as notícias enviesadas de veículos duvidosos que normalmente são fábricas de fake news com segundas intenções.

Não adianta simplesmente encontrar uma forma de monetizar o conteúdo dos veículos de informação se todo o entorno das notícias continuar com a ideia de que é errado cobrar por um serviço que pode ser encontrado gratuitamente. Enquanto a banalização da notícia ainda for permitida e ninguém se levantar para combatê-la, as redações continuarão a ser enxutas e a profissão jornalista passará a não existir mais.

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