O Twitter como ferramenta de informação e o seu impacto no consumo da notícia

Como a rede social influencia na relação entre transmissor e receptor da informação

Caio Borges
singular&plural
4 min readOct 12, 2020

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Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Por Caio Borges e Samuel Soares

Desde o advento da internet e o surgimento da sociedade em rede, como descrito pelo sociólogo Manuel Castells em 1999, o jornalismo segue sendo alterado. As mídias sociais fazem parte desse processo, uma vez que, por atraírem muitos usuários, fizeram com que o jornalismo, inevitavelmente, se adaptasse para suprir a demanda desse público, que busca cada vez mais informações. Segundo pesquisa publicada pela Hello (agência de pesquisa de mercado e inteligência) em 2019, 77% dos jovens entre 16 e 24 anos possuem as redes sociais como principal fonte de informação.

Dentre essas redes, uma se destaca entre os profissionais de comunicação: o Twitter. Em uma pesquisa publicada pela PR Newswire no ano de 2012, a rede social foi considerada a que mais ajuda no trabalho dos jornalistas brasileiros. Isso provavelmente se deve ao fato de, por possuir um limite de caracteres a ser postado, ser possível consumir informações de forma resumida e publicá-las desse mesmo modo.

Com o crescimento das redes sociais, houve um impacto direto também nos fatores de transmissão e recepção da notícia. A rede social do “passarinho azul”, como é informalmente chamada, também deu espaço de crescimento exponencial ao jornalismo independente. Ou seja, atualmente não é preciso estar vinculado a um jornal de renome para conquistar o público.

Jornalistas passaram a divulgar o seu trabalho ali mesmo, em um espaço limitado de caracteres. E, como consequência do trabalho de qualidade, vem o reconhecimento e respaldo do público. A divulgação de notícias em poucos caracteres ou em blocos, nas chamadas threads ou fios, faz o papel das notas e matérias em páginas de portais. Até mesmo análises mais longas são possíveis e, nesses casos, a separação por “blocos” de um conteúdo mais denso chama a atenção.

Os fios são utilizados para contar grandes histórias, que ultrapassam o limite de caracteres do site. Foto: Divulgação Twitter

Além de proporcionar um papel de protagonismo para o jornalista, o Twitter também é bem utilizado pelos veículos tradicionais, que possuem, na maioria dos casos, perfis oficiais na plataforma. Muitas vezes esses veículos compartilham o link de matérias na rede, visando aumentar o alcance do conteúdo em seu próprio site. Para isso, no entanto, ocasionalmente são utilizados recursos de ética jornalística duvidosa, como chamadas de matérias com duplo sentido ou sem a clareza necessária, o que pode provocar outro entendimento no leitor. Tudo isso com o intuito de aumentar a curiosidade e, consequentemente, o número de cliques na página.

Um exemplo de manchete sensacionalista. A matéria em questão fala sobre uma doença de pele, o que nem é citado no título. Foto: Divulgação Twitter

O fato citado anteriormente pode trazer problemas, uma vez que muitas pessoas não consomem a notícia por inteiro. Segundo um estudo realizado em 2018 pela DNPontoCom de Curitiba, sete em cada dez brasileiros nascidos entre 1990 e 2010 leem somente os títulos das matérias. Dessa forma, se o veículo não utiliza a informação completa, ou exagera na manchete, ele está contribuindo para a desinformação dos indivíduos.

O Twitter, como espaço democrático, permite e dá o direito ao exercício do ato de publicação de conteúdos, de acordo com a política da rede. Assim, não necessariamente alguém precisa ter formação em jornalismo comprovada ou mesmo ter formação acadêmica para exercer a transmissão de informações.

As estruturas utilizadas, tanto por um jornalista, quanto por um usuário da rede, para passar informações, são semelhantes, como é o caso da thread. Desse modo, há o risco de ser dada a mesma credibilidade e confiança para alguém que não realizou um trabalho de apuração nem checou as informações, somente pelo fato de possuírem escritas semelhantes.

Dentro do Twitter há um novo espaço para a transmissão de informações, o que, de certa forma é democrático, pois permite a todos os usuários se expressarem utilizando o mesmo limite de espaço. Contudo, a liberdade também traz riscos, uma vez que é mais importante do que nunca questionar a credibilidade do que se é visto e compartilhado e checar a veracidade das informações.

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