O universo da cultura pop sob o olhar do Omelete

Guilherme Pin
singular&plural
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4 min readMar 27, 2018

Por Guilherme Pin e Victor Russo

Com filmes de super-heróis em alta e o retorno de sagas clássicas, como “Star Wars”, — com conteúdo confirmado até 2021, segundo Bob Iger, CEO da Disney — o que antes era considerado nicho, chegou até o grande público. O que se dá como cultura pop é uma representação artística com grande difusão na mídia e que aspira atingir um público cada vez maior, segundo a definição de Martin Cézar Feijó, professor de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura.

A aspiração em atingir um público maior deu certo, e também por aqui no Brasil. Devido a isso, o site de notícias Omelete se estabeleceu como o grande portal da cultura pop no país. Criado em 2000 pelo designer gráfico Érico Borgo e o jornalista Marcelo Forlani, o site, que conta também com o canal no YouTube Omeleteve, abrange cinema, televisão, música, games, HQs e livros.

Com seus 18 anos de existência, o site teve — e ainda tem — o papel importante de usar a internet para elevar o valor e a importância da cultura pop no Brasil, tanto que o site foi um dos principais organizadores do evento Comic Con Experience. Antes visto como um conteúdo “inferior” consumido apenas pelos chamados “nerds”, atualmente, tornou-se algo de conhecimento necessário, e toda essa desmistificação do pop só foi possível devido ao poder da internet de atingir muitas pessoas. Nesse caso, a empresa conseguiu ampliar seu público por usar diferentes mídias e atingir uma audiência distinta, variando entre o texto e o audiovisual.

Mesmo com a importância do nome no meio pop, a empresa peca muitas vezes por apresentar uma visão muito mais de fã, ao invés de uma linguagem do jornalismo cultural. Ademais, o fanatismo resulta em notícias parciais e tendenciosas, muito disso devido à própria criação do site, feita por pessoas apaixonadas por quadrinhos, mas com pouca relação com o jornalismo.

Por se tratar de uma mídia digital, onde há uma disputa enorme por cliques, os clickbaits — títulos chamativos e bombásticos que não apresentam o conteúdo sugerido — acabam por se tornar comum no conteúdo, tanto em seu site, quanto no canal de vídeos. Um bom exemplo foi o vídeo lançado na última terça (20), em que o título é “Qual É o Melhor Time de Heróis? Marvel ou DC”. Porém, o conteúdo entrega apenas referências históricas dos quadrinhos das editoras, sem qualquer comparação entre as duas.

O site fornece conteúdos voltados a todas as vertentes da cultura pop, apesar do espaço destinado, especificamente ao cinema, ser formado basicamente por notícias e artigos de super-heróis e “Star Wars”. Na última sexta (23), dentre 21 textos relacionados a cinema, 15 eram voltados aos dois temas. Este tipo de edição de conteúdo tem sua explicação, mas, limita a capacidade em criar outro tipo de produto e expandir seu público, aparentemente, focando em continuar tendo os mesmos leitores.

Foto: aminoapps.com

No ambiente do YouTube, o Omeleteve entrega um distanciamento ainda maior. Com 12 conteúdos semanais, tendo uma média de quase dois vídeos por dia, dois deles fazem parte do especial “10 anos do Universo de Super-Heróis da Marvel no cinema”, um conteúdo ao vivo sobre Marvel ou DC, dois programas de discussão sobre filmes de super-herói, cinco de notícias, um vídeo de crítica

do filme popular da semana e um aos sábados sobre listas de filmes.

Apesar da empresa vir com a proposta de cultura pop, ainda existe um posicionamento de apresentação como um site, podemos dizer assim, sério sobre a própria cultura popular, contando até com participações de festivais cinematográficos de renome, como o de Toronto. A escolha do site, como já explicado, vai para o gosto do pessoal dos editores, descartando, um pouco, da essência do ramo do jornalismo cultural.

“O fanatismo resulta em notícias parciais e tendenciosas. muito disso devido à própria criação do site, feita por pessoas apaixonadas por quadrinhos, mas com pouca relação com o jornalismo.”

Além do cinema, música e livros são pouco explorados nas plataformas. O objetivo de procurar abranger todo o universo pop também prejudica na qualidade dos textos e do conteúdo dos vídeos, devido a procura em divulgar o mais rápido possível. É comum ler notícias veiculadas no site em poucas palavras e com falta de informações.

Mais um exemplo que coloca em dúvida o papel dos integrantes do Omelete como críticos profissionais — como os mesmos procuram se definir — foi vídeo “Polêmica! Filmes Para Você Não Assistir Nunca”, publicado em 08 de março. Nesse caso específico, os jornalistas Marcelo Forlani e Thiago Romariz selecionam quatro filmes que, particularmente, não gostam e incentivam o público não assisti-los.

Realizando uma análise em cima da situação, o papel do crítico é também entender que existem diversos públicos com gostos diferentes e, como jornalistas, a imparcialidade — apesar de complicada — deve, no mínimo ser tentada.

Neste caso, os dois falham como críticos e também como jornalistas. A falta de gerar o questionamento, e sequer uma análise, prejudica o conteúdo. Todos os argumentos, para este caso em específico, são meramente pessoais.

Foto; divulgação

Num período em que falta o aprofundamento nos textos jornalísticos e geração de discussões e reflexões, o Omelete se apresenta como o oposto, fornecendo conteúdos bem mais simplórios e rápidos, para uma informação mais direta, além do mesmo conteúdo ser escolhido de forma tendenciosa e nada imparcial. Mesmo com a realidade demonstrando que isso é o que funciona, a empresa, que traz um poder em atingir um núcleo muito grande e específico, gera leitores e espectadores ignorantes e nada compromissados com o verdadeiro jornalismo cultural.

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