Diferentes ângulos (similares) da cobertura do discurso de Bolsonaro na ONU

Para se posicionar contra o governo, o portal usa de elementos indiretos como adjetivos entre aspas referente às falas dos entrevistados

Viviane França
singular&plural
3 min readOct 9, 2021

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Alan Santos/PR / Agência Brasil

Por Ana Caroline Melo e Viviane França

A Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) é um evento anual, tradicionalmente aberto pelo presidente brasileiro para gerar uma discussão multilateral sobre assuntos com impactos mundiais. No 76º evento, Jair Bolsonaro foi o primeiro a discursar, levantando polêmicas e debates virtuais, envolvendo civis e políticos nacionais e internacionais. As informações chegaram à maioria do público pelas notícias veiculadas em grandes jornais, sejam televisivos ou virtuais.

No G1, portal de notícias da Globo, a cobertura do discurso e eventos que se sucederam foi constante, porém não apresentou fatos novos ao passar dos dias. A apuração dos acontecimentos rendeu diferentes matérias com o mesmo foco e, muitas vezes, com informações copiadas e coladas. O principal assunto discutido foi o negacionismo do presidente, pontuando o que era fato ou fake, repercussão das falas de Jair Bolsonaro na visão de autoridades nacionais e externas.

A tentativa do G1 de prever as falas de Bolsonaro um dia antes do evento da ONU foi na contramão do que realmente aconteceu. Para as fontes do veículo de notícias, o presidente faria discurso moderado, apresentando dados do avanço da vacinação, contenção da pandemia e auxílio emergencial “que beneficiou quase um terço da população e impediu uma recessão mais aguda em 2020”. Além de conversar com seus eleitores, fazendo citação ao marco temporal — limitação da demarcação de terras indígenas — e valores cristãos e conservadores. Entretanto, nas matérias que sucederam à fala na ONU, é mostrado que o presidente continuou com o discurso já conhecido na mídia desde o ano passado.

Indo na contramão do esperado, o discurso de Jair Bolsonaro não foi diferente de seus usuais pronunciamentos. Logo, o portal produziu diversas matérias com diferentes enquadramentos para se posicionar contra o presidente, seja desmentindo alguns trechos do discurso ou apresentando fatos para mostrar que, mesmo que alguns dados estejam corretos, ainda são informações distorcidas. O uso de palavras como “mentiras”, “distorções”, “triste espetáculo”, “vexame” e adjetivos negativos citados em entrevistas dão tom às reportagens, demonstrando o posicionamento político do jornal de forma implícita.

As diversas matérias feitas sobre a cobertura do evento, mesmo com ângulos distintos, se tornam repetitivas e poucas delas trazem informações inéditas aos leitores. O que se diferencia entre as notícias são as opiniões de vários personagens convidados para falar sobre o discurso do presidente na ONU. As aspas usadas são, em sua maioria, desfavoráveis às falas de Bolsonaro, apenas uma se posiciona de maneira mais amena que os outros, porém, ainda negativamente.

Em nenhuma das matérias publicadas sobre a cobertura de Bolsonaro na ONU houve fontes favoráveis ao presidente. O portal não buscou a imparcialidade; apesar das afirmações falsas e deturpações de fatos feitas por Jair, é de interesse público o que a assessoria de imprensa dos órgãos citados ou os membros da comitiva que o acompanhou à assembleia em Nova York pensam a respeito dos acontecimentos.

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