Os recortes jornalísticos quando política e arte se misturam

Partido de Jair Bolsonaro abriu ação para punir discursos de artistas durante o Lollapalooza Brasil

Malu Priori
singular&plural
3 min readApr 8, 2022

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Por Eduardo Brollo, Maria Luiza Priori e Vitória Campos

“Censura nunca mais” foi uma das frases ditas por Lulu Santos para uma plateia de milhares de pessoas durante o último dia do Lollapalooza Brasil 2022. O Autódromo de Interlagos, na cidade de São Paulo, recebeu o evento durante os dias 25, 26 e 27 de março. Além dos shows, o fim de semana ficou marcado pelas manifestações políticas durante as apresentações musicais de artistas nacionais. Emicida, Pabllo Vittar, Marina Sena, a banda Fresno e o já mencionado Lulu Santos foram alguns deles.

Os assuntos abordados pelos artistas giraram em torno do governo de Jair Bolsonaro e o atual ano de eleições. Além de encorajarem o público a tirarem e regularizarem o título de eleitor, a frase “Fora Bolsonaro” foi destaque nas apresentações, tanto pelos artistas, como pelo público. Além dos brasileiros, a cantora britânica Marina também aproveitou um momento no palco Onix, para criticar o atual governo brasileiro e o presidente da Rússia, Vladimir Putin.

Reprodução: Twitter

No Twitter, foram mais de 1,4 milhão de comentários sobre o evento. Os discursos que acontecerem no evento foram vistos com repúdio pelo PL (Partido Liberal), do qual Bolsonaro faz parte, que notificou o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para punir o evento, na justificativa deste estar conduzindo propaganda eleitoral, de acordo com o partido.

Tendo em vista esse movimento tomado pelo partido, torna-se clara a intenção do PL em estabelecer uma censura no festival, para impedir qualquer manifestação contra Bolsonaro ou que favoreça outros possíveis concorrentes, como Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula. Na noite da segunda-feira (28/3), após discussões, erros e repercussão na internet, o ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Raul Araújo decidiu arquivar a ação. Com todos os acontecimentos, movimentos contra a ação articulada pelo PL ganharam força na internet e entre o público.

Lulu Santos junto a banda Fresno no Palco Onix do Lollapalooza Brasil 2022 (Crédito: Instagram/@vavo)

No último dia de festival, quando o pedido já havia sido feito, a banda Fresno mandou um recado sobre o assunto diretamente do palco. Ao lado do cantor Lulu Santos, o grupo musical estampou nos telões da estrutura a frase “Fora Bolsonaro”. “Como diz Carmen Lúcia [ministra do STF], cala a boca já morreu, quem manda em minha boca sou eu”, disse Lulu ao refletir sobre o ato de censura.

Os recortes midiáticos das manifestações foram distintos

A mídia fez uma cobertura intensa sobre os acontecimentos, mas algo que pode ser observado nas principais matérias, de forma geral, foi o grande foco nas citações de artistas durante ao show. Embora tenha ocorrido esse destaque em comum, os veículos jornalísticos fizeram recortes diferentes da situação, dando mais ênfase para uma perspectiva ou outra, dependendo do enfoque.

Para isso, podemos usar de exemplo duas coberturas que falaram sobre o show da banda Fresno, no domingo (27/3) do festival. O grupo musical estampou a frase “Fora Bolsonaro”, que foi entoada por Lulu Santos e pela maioria da plateia no local. Durante a apresentação, o cantor ainda falou mais sobre o contexto político e, mais especificamente, sobre o processo do TSE, já que o show ocorreu um dia depois do PL ter iniciado a ação.

Em uma publicação feita pela a CNN, o veículo contextualizou o ocorrido e se aprofundou nos detalhes sobre o processo em questão. O propósito da matéria era entender qual o andamento da ação na visão legislativa, para informar ao público sobre o ocorrido. A cobertura também conversou com a empresa responsável pela organização oficial do festival, para trazer mais clareza para a situação. A CNN afirma que a T4F Entretenimento recorreu da decisão do TSE, antes mesmo de ser notificada.

Por outro lado, trazendo um recorte diferente, uma matéria realizada pela Gazeta do Povo fez uma cobertura com um foco muito mais concentrado no festival e em suas apresentações em si. Com esse destaque, é possível observar uma tendência de assuntos mais culturais do que legislativos, em comparação com a CNN. O interesse por trás da matéria era o de informar, principalmente, sobre as apresentações do evento que, indiretamente, unirão forças contra o governo Bolsonaro.

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