Política e mídia: os meios de culpabilização em ano eleitoral

Proximidades das eleições escancara, mais uma vez, a manipulação midiatica na construção de um novo “vilão”

Alexandre S. Melo
singular&plural
3 min readApr 8, 2022

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Por Alexandre Melo e Vinicius Murad

Joaquim Silva e Luna, ex-presidente da Petrobras. Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Na última segunda-feira (28/3), o presidente Jair Bolsonaro (PL) demitiu o até então presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna. Os aumentos sucessivos no valor do combustível teriam sido um dos principais fatores para a saída do general. Uma matéria do Portal R7 pontua que a “Gasolina saltou 32,5%, e o diesel disparou 56% durante a gestão Silva e Luna na Petrobras”.

Em 2021, Joaquim Silva e Luna afirmou que a estatal não é a única responsável pelo preço. Na época, o general prestava esclarecimentos ao Senado sobre reajustes durante a pandemia. Anos antes, ainda no Governo Dilma, o Brasil vivia a crise da Petrobras que gerou queda de ações, prisões, processos além de uma dívida enorme. A Lava Jato marcava o início de um dos maiores escândalos de corrupção na empresa de exploração de petróleo.

A reportagem do site do Grupo Record, que já mostrou ter linha editorial mais próxima do governo, atribui diretamente a culpa ao General Silva e Luna e coloca o presidente Jair Bolsonaro como solucionador dos problemas. Isso fica claro quando se destacam trechos da matéria destacados abaixo.

É fato que durante a gestão de Silva e Luna os combustíveis tiveram alta. É também fato que Bolsonaro demitiu o general da Petrobras. Porém, o que fica claro é que a relação entre os fatos, omitindo um contexto mais amplo do porquê os preços subiram, e do porquê do gesto de Bolsonaro com essa demissão, cria-se uma narrativa de acordo com a lógica do Governo.

“[A Petrobras] tem responsabilidade social? Tem. Pode fazer políticas públicas? Não. Políticas partidárias, menos ainda”, afirmou Silva e Luna, durante evento na Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados da Justiça Militar da União (Enajum), em Brasília.

A passagem de quase um ano do general Joaquim Silva e Luna pela presidência da Petrobras não vai deixar boas lembranças para o bolso dos motoristas. Desde que ele assumiu o comando da estatal, em meados de abril do ano passado, o preço médio cobrado pelo litro da gasolina nos postos subiu 32,5%, de R$ 5,441 para R$ 7,21, e o do diesel saltou 56,1%, de R$ 4,204 para R$ 6,564.”

No caso específico, os preços em alta ocorrem por conta da política de preços da Petrobras. Silva e Luna e outros presidentes não mexeram nessa questão (que precisaria de uma discussão muito mais ampla que uma canetada do dirigente da estatal). O curioso é que o próximo presidente indicado pelo governo é da mesma linha de Silva e Luna e defende que se mantenha a atual política de preços — informação omitida pela reportagem.

A decisão pela demissão de Silva e Luna do cargo foi tomada pelo presidente Bolsonaro. O posto deve ser assumido pelo economista Adriano Pires, nome indicado para ser avaliado pelo Conselho de Administração da estatal.”

Formação discursiva é o nome que se dá à construção de uma ideia a partir daquilo que parece ser, o que pode ser. Diante dessa ótica, a reportagem do Portal R7 parece imputar uma formação discursiva de causa/consequência. Ou até mesmo de vilão/herói, ainda que sutilmente.

Fato é que a questão da manipulação midiática dialoga diretamente com a ausência de senso crítico populacional. A massa mantém a presença da imagem, a imagem mantém a mídia e a mídia controla todo o seu entorno. Com a globalização, a mídia é um sistema capaz de construir ou destruir o imagético de uma sociedade.

É de responsabilidade coletiva o dever de informar, então, qual a relação de poder político com a credibilidade jornalística? A troca de presidentes vai melhorar a estatal ou é só mais uma jogada?

Afinal, de quem é a culpa?

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