Por que algumas mulheres votam no Bolsonaro?

Gustavo Marques
singular&plural
Published in
4 min readSep 21, 2018
Créditos: Pixabay

Por Amanda de Almeida Martins e Gustavo Moraes Marques

Para a construção deste artigo, escolhemos duas matérias, uma da Carta Capital — cujo qual tem um posicionamento político de esquerda — , e uma da Folha de S.Paulo — cujo não possui um posicionamento assumido, tentando assim manter uma imparcialidade. O tema escolhido foi: Por que algumas mulheres votam no Jair Bolsonaro?

Na matéria da Carta Capital, a jornalista, logo na linha fina, dá uma breve resumida do que poderia ser a resposta para a tal pergunta. “Pela família, pelos valores cristãos, pelos cidadãos do bem”. A frase nada mais é do que uma fala do próprio presidenciável. No decorrer da matéria, são utilizadas diversas frases ditas por Jair, com o intuito de mostrar como as eleitoras se posicionam diante dessas situações.

“Empoderamento feminino” são as palavras que abrem a matéria e dão sequência à fala do candidato que diz que o empoderamento feminino só existirá se elas estiverem armadas. “Só um candidato preocupado de verdade com a violência contra a mulher propõe castração química para estupradores”. Ao longo da matéria, existem mais palavras em vermelho, como se fossem palavras chaves que ligam umas às outras. Em diversas partes, a matéria induz você a acreditar que as mulheres que votam nele estão certas, isso fica muito claro quando colocam falas delas se justificando.

No decorrer da matéria, a jornalista tenta mostrar que, apesar de o candidato ser claramente machista e preconceituoso, suas eleitoras deixam isso de lado — um aspecto de como a cultura machista está tão enraizada a ponto de não ser tão “importante” durante a decisão de um presidente. Elas enfatizam que, apesar de ele falar o que fala, ele está sendo honesto — o que, na opinião delas, é um ponto positivo -. Em outros casos, acusam até a mídia de “manipular” um acontecimento para que os leitores achem que tal ato é errado.

Em certa parte do texto, é colocado uma fala de uma cientista política para enfatizar ainda mais a cultura machista presente em nosso cotidiano. “Não é incoerente uma mulher ser machista. Porque não é só questão de gênero — é sobre estrutura de poder. Mas nem todas as pessoas têm essa consciência, esse despertar de como o machismo molda a sociedade”.

Outro ponto que reforça a ideia da cultura do machismo é quando essas mulheres “defendem” a opinião de Bolsonaro quanto à não se envolver em políticas salariais. “Para elas, basta um esforço individual para chegar ao mesmo patamar que seus colegas.”, quando na prática não é bem assim que funciona.

Passando agora para a matéria da Folha, temos aqui um texto bem mais opinativo do que o outro, uma vez que a autora usa verbos em primeira pessoa. Logo no início, já se tem citações da cultura machista. Para exemplificá-la, conta a história- de mulheres vindo de países mais machista que o Brasil chegando na delegacia para reclamar que apanham do marido. Como essa cultura está muito presente no país de origem, os maridos não “compreenderiam” o porquê de estarem sendo chamados, uma vez que a agressão é considerada “normal” em seu país.

Outro ponto ressaltado no texto é de que a cultura machista e a do estupro estão tão presentes no cotidiano que acabam levando algumas mulheres a realmente acreditarem que merecem tal tratamento — agressão e inferiorização.

Diferente da matéria analisada anteriormente, esta não foca diretamente no candidato, apesar de claramente conter falas sem citar nomes. Ela foca nos motivos presentes no dia a dia das mulheres que fazem com que algumas realmente acreditem nas palavras dele. Quando ele diz “Ganha menos porque engravida”, muitas mulheres, por estarem naturalmente acostumadas a ouvir tais coisas, passam a acreditar que ele está apenas constatando a verdade, e não sendo totalmente machista, levando-nos mais uma vez a crer que, nestes casos, a honestidade persiste como qualidade significativa.

O que podemos observar em comum nas duas matérias é que ambas estão tentando mostrar quais os possíveis motivos pelos quais algumas mulheres são a favor de um homem com pensamentos tão retrógrados e violentos. Entretanto, as duas discorrem de uma forma totalmente diferente. A primeira foca nas provas de que ele realmente é uma pessoa machista e opressora, tentando, ao mesmo tempo, justificar o fato de ele possuir votos femininos. Isso é mostrado citando, mesmo que não tão escancarado, com a cultura machista persistente em nossa sociedade. A segunda vai por um caminho diferente, uma vez que o candidato mal é citado. Essa matéria foca muito mais nas origens dos pensamentos dessas mulheres do que nos pensamentos de Bolsonaro.

Pode-se concluir, assim, que ambas as matérias são contra o candidato à presidência Jair Bolsonaro, tentando mostrar para o público — neste caso, o feminino — o que essas mulheres não o apoiam porque ele é uma pessoa sensata, digna de governar, mas sim porque existe uma cultura presente na vida delas que as impedem de captar o que está realmente acontecendo diante de seus próprios olhos.

Links

https://www.cartacapital.com.br/diversidade/por-que-algumas-mulheres-votam-em-bolsonaro

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/vera-iaconelli/2018/09/mulheres-que-votam-no-bolsonaro.shtml?loggedpaywall?loggedpaywall?loggedpaywall#_=_

--

--