Por que precisamos ter uma opinião formada sobre tudo?

Rebeca Simão
singular&plural
Published in
3 min readMay 15, 2018

A sociedade atual prega que é preciso opinar sobre toda e qualquer coisa, mesmo sem se ter conhecimento

Foto: Pixabay

Por Rebeca Simão

Vivemos em um mundo caótico, bombardeados por informações a todo instante, pelos mais variados meios de comunicação. Notícias que antes eram divulgadas um dia após o ocorrido, pela mídia impressa, hoje podem ser transmitidas instantaneamente, com o advento da internet.

Essa cultura do imediatismo resulta em consequências preocupantes no modo como a sociedade se relaciona. As pessoas estão se tornando cada vez mais impacientes e ansiosas; tudo tem que ser feito agora, o mais rápido possível. Não há tempo para processar ou se aprofundar nos acontecimentos.

Em "A problematização que atrapalha", vídeo recente da youtuber Jout Jout, esse problema é analisado durante uma conversa com a cantora Mahmundi. "A gente não tem tempo de elaborar as coisas. As coisas acontecem e você precisa ter uma opinião de imediato. Você não tem tempo de pensar sobre aquilo, você só tem que dar uma opinião", pondera a influenciadora digital.

Mas essa reflexão não é de hoje. Já em 2002, o professor de filosofia da educação, Jorge Larrosa Bondía, publicou um artigo intitulado "Notas sobre a experiência e o saber de experiência", em que ele discorre sobre a sociedade de informação e a necessidade de se ter uma opinião formulada no momento em que as coisas estão acontecendo.

O sujeito moderno é um sujeito informado que, além disso, opina. É alguém que tem uma opinião supostamente pessoal e supostamente própria e, às vezes, supostamente crítica sobre tudo o que se passa, sobre tudo aquilo de que tem informação. Para nós, a opinião, como a informação, converteu-se em um imperativo. (BONDÍA, 2002, p. 22)

Aqueles que não têm um julgamento formado, ou não se posicionam sobre determinado assunto, se sentem pressionados, e acabam sendo persuadidos por opiniões alheias. Afinal, não importa qual seja a sua opinião, o importante é que você a expresse.

Porém, ao mesmo tempo em que é cobrado que se tenha uma posição, quando ela é contrária à maioria não parece haver qualquer tolerância ou respeito acerca da divergência de ideias. Como bem observa Mahmundi no vídeo: "Nessa nossa revolução digital às vezes eu sinto que falta uma empatia."

As redes sociais parecem estar promovendo cada vez mais a função de segregação entre grupos. O isolamento vai desde a opção de bloquear o que te desagrada até os algoritmos criados pelas próprias redes, que fazem com que o usuário se relacione somente com seus iguais.

“(…) É preciso registrar também que nos últimos 50 anos as tecnologias de comunicação, isto é, as tecnologias da mídia, passaram por um processo acelerado e constante de modificações radicais que, mais recentemente, alteraram a própria natureza do processo da comunicação de massa.” (LIMA, 2001, p. 27)

Como se pode notar, são muitos os problemas do mundo digital. As consequências disso, no entanto, ainda serão analisadas no decorrer das próximas gerações.

No fim das contas, é a opinião que conta. Mas será?

Referências

BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n19/n19a02.pdf>. Acesso em: 12 maio 2018.

LIMA, Venício A. de. Mídia: teoria e política. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2001.

PEREIRA, Clarice. A internet, o imediatismo e a opinião pública. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/noticias/tecnologia/a-internet-o-imediatismo-e-a-opiniao-publica/44957/>. Acesso em: 12 maio 2018.

PRAZER, JoutJout. A problematização que atrapalha. 2018. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=WYfE2YTQyxI&t=793s>. Acesso em: 12 maio 2018.

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