Por trás da mídia tradicional

Bianca Lee
singular&plural
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3 min readSep 20, 2017

Por Bianca Lee, Marcela Pires e Pedro Bassi

A Vila Esperança, favela localizada em São Paulo, foi barrada por um muro, construído em 2006 por uma empresa privada que separa a comunidade da Av. Imigrantes, dificultando a passagem dos moradores do local até a avenida. O motivo era melhorar a segurança do entorno, já que os motoristas eram assaltados. Mas o que dizer quando uma comunidade, que depende de uma passagem mais curta para vender água, pano de chão, doces, entre outras coisas nas avenidas, é barrada por um muro? É um desrespeito aos que sobrevivem de suas vendas.

A grande mídia não se manifesta com frequência sobre esses casos, não dão sequer importância aos mais carentes. No dia a dia, não se encontra nos noticiários dos jornais, que atingem nacionalmente a população brasileira, assuntos relacionados à questão social.

O Brasil é um país cheio de contradições e isso é fato. Os políticos não fazem jus aos seus cargos, a iniciativa privada só enxerga o seu próprio umbigo, deixando os ricos mais ricos e os pobres mais pobres e a mídia tradicional deixa de fazer o seu papel: o de informar os mais necessitados.

É o caso da Vila Esperança, que ao se falar em nome “favela”, as pessoas se espantam, têm medo. E a própria mídia é a responsável por isso. Por muitas vezes, elas não apontam o outro lado da situação. Mais de 24 mil pessoas vivem nessa comunidade e dependem das vendas nas avenidas para sobreviver, e nem todas agem de má fé. As mídias vão fechar os olhos para essas pessoas que tanto precisam ser vistas?

A mídia, em sua maioria, aborda limitadamente o lado “oprimido” das situações. Ou quando mostra, as marginaliza. No caso da Vila Esperança, o tratamento midiático tem foco na violência do local, no medo dos motoristas de passar pela região e nos crimes que ali ocorreram e ocorrem. Então, a instalação do muro, será alvo de críticas positivas, pois, teoricamente, o local está mais “seguro” para que os visitantes e moradores da grande São Paulo passem por ali. E a vida dos residentes da Vila Esperança é deixada de lado.

Dificilmente os meios de comunicação mostram o lado do morador e do trabalhador da Vila, e das dificuldades que encontram com a instalação do muro. Ao não se apresentar o outro lado da história, o leitor não é capaz de formar uma opinião a partir de duas opções. A visão se torna única em relação à Vila e seus moradores.

Com isso, a humanização, os conceitos de verdades, credibilidade e realidade do jornalismo perdem os seus valores nos noticiários. O jornalismo social é importante para incluir todas as pessoas, no entanto, está defasado.

As pessoas lêem jornais não apenas para se informar, mas também pelo senso de pertencimento, pela necessidade de se sentirem partícipes da história cotidiana e poderem falar das mesmas coisas que “todo mundo fala”. O ato de ler um jornal e de assistir a um programa também está associado a um ritual que reafirma cotidianamente a ligação das pessoas com o mundo (AMARAL, 2006, p.59)

As notícias sobre contextos menos favorecidos nem sempre têm como objetivo o de identificação com os moradores desses locais. Eles, por muitas vezes, são retratados de forma negativa e preconceituosa, utilizando o estereótipo do pobre, negro e bandido, sem aprofundar os motivos reais das condutas.

Única matéria feita sobre o caso da comunidade Vila Esperança

Os veículos pouco falam sobre causas e engajamentos sociais, e quando o fazem, é superficial. Há matérias comprometidas em expor os vários lados do fato, entretanto, são raras.

Referência bibliográfica

AMARAL, Márcia Franz. Jornalismo popular. São Paulo: Contexto, 2006.

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Bianca Lee
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Quase uma jornalista. Textinhos com uma visão singular do que eu vejo.