Programa ‘’jornalístico’’: um desserviço para a profissão liderado por Luiz Bacci

O modus operandi do programa ‘Cidade Alerta’ para cativar a audiência é imoral e não pratica os princípios básicos do Jornalismo

Gustavo Begue
singular&plural
3 min readJun 6, 2021

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Por Gustavo Begue

A prática do sensacionalismo dentro do jornalismo não é novidade para alguém, basta uma procura rápida em uma ferramenta de pesquisas para encontrar milhares de reportagens que adotam tal método, que vai diretamente na contramão dos princípios éticos e morais da profissão. Em busca do alto índice de audiência, alguns veículos de comunicação optam por deixar de lado premissas básicas da prática jornalística, como, por exemplo, a veracidade e checagem dos fatos. A impressão que se passa é a ideia de que o dinheiro vem antes de qualquer coisa, até mesmo da transparência da verdade.

O ‘Cidade Alerta’, programa jornalístico da Record TV, tem inúmeras situações constrangedoras e é uma verdadeira aula de como NÃO praticar o jornalismo. Apresentado pelo jornalista Luiz Bacci, que é responsável por polêmicas envolvendo seu método de trabalho e pelo protagonismo em episódios constrangedores, o telejornal apresenta os principais casos policiais do Brasil. O sucessor de Marcelo Rezende utiliza do sensacionalismo e mau-caratismo com o propósito claro de aumentar e segurar sua audiência.

O uso do sensacionalismo no jornalismo em tragédias como forma de cativar o público.(Reprodução/Pexels/AmateurHub)

Em uma cobertura de assassinato de um homem chamado Josivaldo, a imprecisão do uso de práticas básicas do jornalismo e o exagero, na hora de noticiar o caso, praticado pelo apresentador e sua produção foram vistos de forma negativa pelo público. Sem que houvesse uma checagem das informações recebidas, o caso foi inicialmente apresentado como ‘’Urgente: Agiota é encontrado morto. Há relatos de briga com a amante’’. A produção providenciou que uma repórter entrasse ao vivo com a presença de Amanda, filha do rapaz assassinado, na expectativa que ela desabafasse e contasse mais informações sobre o ocorrido.

Porém, o que aconteceu foi uma lição sobre o profissionalismo para Bacci. Amanda questionou a razão pela qual teriam intitulado seu ente querido de agiota, sem nem ao menos antes procurar verificar a veracidade da acusação. “Eu perdi meu pai hoje e não estou vendo um pingo de respeito aqui. Vocês falando que ele é agiota, gente! Como assim, qual é essa informação? Da onde vocês tiraram isso, por favor? Eu acho que vocês têm que ter um pingo de consideração!”, disse completamente desolada.

Em um momento de dor após um trágico episódio, Amanda ainda passou pelo constrangimento nacional ao vivo de ter que corrigir o nome do próprio pai e desmentir uma informação falsa de que era um agiota, recorrente a diversas irresponsabilidades e desserviço do jornalismo praticado pelo ‘Cidade Alerta’. A repórter disse ter conversado com ‘’vizinhos que disseram que ele [Josivaldo] emprestava dinheiro a juros’’. Para profissionais da área da comunicação, especialmente os de jornalismo, é básico a compreensão de que uma afirmação leviana de vizinhos, que nem sempre são fontes fidedignas, é o suficiente para que tome o fato como uma verdade.

A repórter se justificou dizendo que não poderia descartar as informações que havia recebido dos vizinhos e que "o estrago estava feito". Porém, Amanda, corretamente em seu raciocínio e cirúrgica na afirmação, alertou a jornalista — que deveria ter conhecimento e reconhecer o erro jornalístico gravíssimo que a emissora acabara de cometer — e disse que eles não poderiam afirmar algo tão grave em rede nacional sem conhecer a realidade dos fatos.

A necessidade de noticiar os acontecimentos com exclusividade e a busca insaciável pela audiência são construídas pelo sensacionalismo constante praticado por Bacci. O jornalista já protagonizou outros episódios lamentáveis, como, por exemplo, o anúncio ao vivo para uma mãe sobre o assassinato de sua filha, que, após a informação, desmaiou; a entrevista ao vivo com familiares do recém-falecido MC Kevin com perguntas inoportunas para o momento; e a insistência na reprodução de imagens e áudios de sofrimento de familiares de uma criança desaparecida.

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