Quando falha o quinto poder

Entenda as consequências do jornalismo mal-feito

Luan Ferreira
singular&plural
3 min readMay 29, 2022

--

Por Ana Beatriz Borges, Luan Ferreira e Maria Fernanda Gimenes

O jornalismo é considerado como um dos principais pilares de uma sociedade democrática. Por meio dele, são disseminadas informações que variam das mais básicas, como economia e política, agindo como um regulador dos acertos e erros desta última, até as mais específicas, como esportes, bem-estar, cultura e entretenimento. Os cinco princípios básicos do jornalismo consistem na precisão, na independência, na imparcialidade, na humanidade e na responsabilidade. Sendo este último o fundamento deste artigo.

O ano era 1994, e a imprensa divulgava a todo vapor as acusações de orgias entre funcionários e alunos na escola de Educação Infantil Base. No momento em que a indignação se transformou em ibope, as empresas jornalísticas se esqueceram do que significa a palavra “apuração”. As declarações inconclusivas do delegado que cobria o caso acabam por se tornar uma afirmação do crime, quando na verdade ela era a de que “as crianças apresentavam lesões que podiam ser de atos sexuais”.

Mesmo após a confirmação de que as acusações eram falsas, os envolvidos sofreram com a consequência do estrago: todos sofreram graves problemas psicológicos devido aos ataques, além de arcarem com os gastos judiciais para sua defesa. Os donos, Icushiro Shimada e Maria Aparecida Shimada, faleceram antes de receber todo o dinheiro que lhes era devido, ele em 2007 e ela em 2014. Paula Milhim Alvarenga, professora da escola, nunca mais conseguiu outro emprego em sua área, e acabou se separando de seu marido, Maurício Monteiro Alvarenga, que era o motorista da Kombi que levava as crianças à escola, devido a paranóia que ele desenvolveu durante e após o caso.

Photo by Freddy Kearney on Unsplash

Outro acontecimento marcante foi o caso Eloá. Em 17 de outubro de 2008, após ser mantida em cárcere privado por cinco dias, a jovem foi morta pelo ex-namorado Lindemberg Alves Fernando. Todo o caso aconteceu em Santo André, região do ABC paulista. No dia 13 de outubro, Lindemberg não aceitava o fim do seu relacionamento com Eloá e invadiu o seu apartamento, onde ela estava com mais quatro amigos. Durante as mais de 100 horas que duraram todo o crime, o país todo acompanhou os desdobramentos do caso como se fosse um filme. Helicópteros, jornalistas e câmeras mostravam cada ação dentro do apartamento da jovem. Após uma invasão da polícia, Lindemberg acertou Eloá com um tiro na cabeça e na virilha, e sua amiga Nayara, que a acompanhava em casa, levou um tiro no rosto, mas sobreviveu.

Um dos principais questionamentos levantados nessa história foi a presença dos jornalistas no local do crime, que espetacularizaram o caso, e a atuação dos policiais, que foi tomada em meio a uma enxurrada de informações novas e uma crescente pressão popular. De forma agressiva, os comunicadores buscavam audiência e tratavam o acontecimento como um reality show ao vivo. A jornalista Sônia Abraão chegou até a realizar um papel de negociadora enquianto conversava com o criminoso, atuando em um papel que deveria ser realizado por especialistas, que têm como objetivo extrair informações da situação e garantir que o pior não ocorra em primeira instância. Porém, a única coisa que a jornalista garantiu, no final das contas, foi mais visibilidade para sua emissora.

Em tempos de descrença, desinformação e ódio, é fundamental que acontecimentos como esses sejam lembrados e levados em conta. O imediatismo do público e da indústria de comunicação é quase que implacável, mas ainda assim é necessário a ponderação e o bom senso de apresentar as notícias da maneira mais clara possível e com multiplicidade de pontos de vista.

--

--