Representação: quem a comunidade LGBT+ é de verdade?

Marcos Gabriel
singular&plural
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4 min readSep 21, 2017

Por Marcos Gabriel Miqueleti de Almeida e Vanessa Bayczar Bruno Del Neri

Ao falar sobre os movimentos e minorias sociais, as questões de representação podem se tornar espaços cheios de preconceito e desconhecimento, isso porque o assunto ‘’homossexualidade’’ ainda é um tabu, mesmo que muito menos do que no passado.

Toda a sociedade foi moldada para enxergar os homossexuais como um único estilo, ou seja, com um único formato, sem abraçar novos horizontes. Sabe aquele papo de que "a primeira impressão é a que fica?" Pois bem, com a comunidade LGBT+ é a mais pura verdade.

Já que tocamos no assunto sobre o passado, vamos analisar o primeiro personagem gay da televisão brasileira. ‘’O Rebu’’ foi uma novela da Rede Globo, exibida de 4 de novembro de 1974 a 11 de abril de 1975.

Conrad, personagem homossexual, matara a jovem Sílvia por ciúmes dela com seu possível "amante", Cauê. Essa foi a primeira vez que o tema foi tratado na mídia brasileira e, assim, foi de cara exposto como "crime passional", um assunto nada saudável.

Aprofundando ainda mais os fatos, na década de 70 os gays nas telenovelas da Rede Globo eram geralmente ligados à criminalidade e a maioria era efeminada, afetada ou baseada em estereótipos.

Justamente nessa época, entre o fim dos anos 70 e o início dos anos 80, o Brasil foi o palco de manifestações da comunidade LGBT+, compostas principalmente por gays e travestis, o que feria completamente os "bons costumes" da época.

A partir daí a figura do homossexual passou a ser vista através de janelas de estereótipos, com vistas exclusivas do preconceito e discriminação. É claro que hoje em dia toda a sociedade está muito mais preparada para receber personagens gays, seja em programas de televisão, novelas, livros e afins, mas se pararmos para pensar, quantos personagens que fazem parte da comunidade gay vêm em mente?

Quando pensamos em personagens homossexuais sempre buscamos na memória aqueles mais marcantes, e isso significa que são aqueles que, de certa forma, sofreram opressões em seus determinados papéis, mesmo que de maneira oculta.

Essa discriminação oculta vem desde as manifestações geradas pelos gays e travestis que "batiam de frente" para conquistarem seus respectivos espaços lá no passado. A figura afeminada de alguém completamente banal foi construída pela visão atrasada da sociedade, com o objetivo de garantir boas gargalhadas e diminuição moral.

Por isso, mesmo no século 21, ano 2017, nos deparamos com personagens gays que foram construídos geralmente em cima de papéis humorísticos, para arrancar somente risadas do telespectador. E que fique claro, essas risadas não são positivas, mas sim, gestos de chacota.

Vamos analisar ainda mais os fatos, só que agora com dados mais recentes. A maioria de nós ainda se lembra de Felix, personagem vilão da novela "Amor à Vida", exibida pela Rede Globo de 2013 a 2014. As características do personagem eram completamente limitadas: trejeito feminino, modo de falar exagerado, o que o distinguia dos outros personagens masculinos da novela.

Um pouco antes, em 2008, a emissora produziu "Caras e Bocas", novela do horário das 19h. Cássio era completamente afeminado e tinha expressões próprias para ser "zoado" pelo telespectador. Antes que nos interprete mal: não há nenhum problema em ser afeminado, aliás, é uma forma de progresso.

A questão que se coloca aqui é: por que diabos a mídia somente alimenta essa figura afeminada? Será que um homem mais tranquilo não pode ser homossexual? Imagine só que audácia alguém dizer para um homossexual, quando ele se assumisse: "Você nem parece gay". Isso realmente acontece, inclusive com pessoas próximas, que dizem exatamente essa frase. Mas agora se questione: existe somente uma forma de ser gay?

Mas é claro que não. A sociedade, construída em cima de estereótipos e impressões, se esquece de que a pluralidade existe, mesmo no mundo LGBT+. Agora, outra questão imposta nesse assunto: quantas vezes nos deparamos com homens, certas vezes mais delicados do que outros, e logo os taxamos como gays? O mesmo acontece com mulheres com um gênio mais forte, ou com um trejeito não muito delicado, rapidamente, impostas como lésbicas.

Segundo o artigo ‘’Gays Afeminados’’, um pouco sobre homossexuais com trejeitos, escrito por Allan Johan em 3 de agosto de 2010: "precisamos entender que ser afeminado é um direito, mas é preciso ter consciência da reação em cadeia que isso provoca na sociedade que pasteuriza toda a diversidade sexual com uma só cor."

A mídia sempre foi construída a fim de satisfazer os prazeres da sociedade, mesmo que toscos e cruéis. Mesmo com a modernidade dos dias de hoje, os veículos midiáticos servem somente para construir o que lhes convém e o que o público engole, muitas vezes sem engasgar. Assim, fica muito mais fácil para a mídia produzir personagens gays que se encaixem no padrão da "bicha louca", ou da "preciso ser assim porque os gays são assim", e isso, com toda certeza, alimenta muito mais o preconceito e o modo de vermos a sociedade LGBT+. Não há somente uma maneira de ser, mas sim, várias. E isso a sociedade e a mídia estão aprendendo mesmo que ainda estejam no primário.

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