Seu plástico bolha é confortável?

Se todos concordam com você na sua rede social favorita, acredite: a culpa é do algoritmo

Luiza Trindade Ruiz
singular&plural
4 min readMar 27, 2018

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Por Giovana Rampini e Luiza Trindade

Muito se fala sobre uma “polarização” na sociedade, mas será mesmo que estamos tão extremos, ou são só as nossas bolhas na internet que nos passam essa impressão? Não há como ter certeza, mas é perceptível que em redes sociais existe muito espaço para as opiniões extremistas, e que estas atraem muitos seguidores.

Segundo o sociólogo Durkheim, vivemos em um organismo social. Todas as nossas ações, instituições e micro-sociedades fazem parte de um organismo maior. Sendo assim, a polarização social tem consequências na internet, por exemplo, mas pode vir a reverberar em mudanças concretas na sociedade, especialmente quando os indivíduos sentem que suas ideias são apoiadas por uma comunidade. As redes sociais e seus algoritmos têm o poder de passar falsas impressões de popularidade, além de excluir da sua timeline pensamentos contrários aos seus.

O Facebook tem sido muito criticado desde sua criação mas, durante a última eleição americana, as críticas ao poder dos algoritmos aumentaram. Durante as eleições de 2016, fake news se espalharam rapidamente pelo mundo todo, e ainda não é possível medir o peso da influência que essas notícias falsas tiveram na eleição de Donald Trump. O fato é que ficou claro como a rede social de Zuckerberg não tem condições de parar notícias falsas, e que seu algoritmo é falho quando o assunto é democracia e busca da verdade. Enquanto a vitória de Hillary Clinton era certa no Facebook, a vida real mostrou outra realidade.

A rede social dos likes e deslikes ainda é a mais popular do mundo, e isso é um agravante às falhas cometidas por ela. Apesar disso, pouco se fala sobre o papel político de outra rede muito poderosa atualmente: o Youtube. Com o princípio de ser uma ferramenta democrática de compartilhamento de vídeos, a plataforma tem criado pequenos milionários que conseguem ganhar a vida com adsense (alguns centavos de dólar a cada visualização), além de parcerias que os youtubers fazem com grandes marcas, que é onde os produtores de conteúdo para o Youtube ganham mais dinheiro.

Luccas Neto ficou conhecido por entrar em uma banheira de Nutella (foto: youtube.com/luccasneto)

Assim como no Facebook, a banalização de notícias e acontecimentos no Youtube transformam a vida em uma grande sociedade do espetáculo. Com a necessidade de cada vez mais views e inscritos, porque cada um deles significa mais dinheiro, muitos vídeos sem conteúdo relevante são postados diariamente, e o pior é quando ainda apresentam informações erradas/falsas, sem querer ou propositalmente. Séries de TV como Black Mirror tentam explicar o conceito de uma forma muito visceral, mas a noção é clara: a corrida por visualizações transforma tudo em um grande acontecimento. O limite entre o comum e a necessidade de uma vida pública se torna inexistente.

Casos como o da Eloá, em 2008, no qual sua morte virou uma grande propaganda televisionada, deixa claro a falha do ser humano com a superexposição e o descuidado que as mídias têm com o limite entre a vida pública e privada. Tal acontecimento se multiplica quando se fala de redes sociais como o YouTube.

Logan Paul (foto: youtube.com/loganpaulvlogs)

Um caso recente, no início de 2018, voltou os olhares para as falhas da plataforma de vídeos mais famosa do mundo. Um dos youtubers mais conhecidos atualmente, o americano Logan Paul, fez um vídeo em uma floresta do Japão conhecida como “Suicide Forest”, uma floresta conhecida como ponto escolhido por diversos japoneses que querem cometer suicídio, já que é difícil encontrar as pessoas que entram ali. Enquanto Paul se filmava entre as árvores do lugar, rindo com os amigos, encontrou um cadáver, ainda pendurado na corda com a qual se enforcou. Logan fez graça com a situação, e não ficou feliz apenas em mostrar explicitamente o corpo de uma pessoa que cometeu suicídio, mas optou por postar tudo em seu canal, que tem aproximadamente 18 milhões de inscritos.

Quem é culpado nesse caso? Logan Paul, por deixar o lado humano de lado na busca por likes? O público, que deu ao jovem de 22 anos mais de dois milhões de visualizações para o vídeo da floresta do suicídio, antes de Paul tirá-lo do ar? Ou o Youtube, que não filtra certos conteúdos dependendo da importância e peso do influencer que está publicando? Cada um tem sua parcela de culpa, mas, após Logan Paul deletar o vídeo em questão, o Youtube se limitou a publicar uma carta dizendo que não está de acordo com esse tipo de conduta em sua plataforma. O canal continuou no ar.

Não existe um estudo muito claro sobre como os algoritmos da plataforma funcionam. “Broadcast yourself”, traduzindo de forma livre, pode significar “promova-se”. Ninguém que se torna influente no YouTube prevê quantas visualizações terá, se será um sucesso ou um fracasso. As visualizações acontecem, e acontecem dependendo da relevância daquela pessoa e assunto, naquele momento. É uma verdadeira corrida atrás do efêmero, que promove cada vez mais a produção de conteúdo viral, e causa a saída de bons produtos da plataforma por falta de incentivo.

Utilizamos o vídeo abaixo, do canal Meteoro Brasil, como base para a nossa crítica de mídia:

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Luiza Trindade Ruiz
singular&plural

Jornalista, apaixonada por música, HQs, cinema, literatura, séries e tudo que envolve arte e cultura. :)