Sobre o caso Mariana Ferrer

O caso tem causado indignação na internet pelo termo “estupro culposo” ser usado para descrever o ocorrido e o acusado absolvido pelo juiz

Camilla Jarouche
singular&plural
3 min readNov 30, 2020

--

Crédito: Pixabay

Por Camilla Jarouche

Infelizmente o estupro não é novidade, é preciso algo que se sobressaia para que vire notícia e apareça na mídia. Nos últimos dias as redes sociais explodiram em indignação com o desenvolvimento do caso Mariana Ferrer.

A jovem acusa André de Camargo Aranha, empresário, de tê-la estuprado em 15 de dezembro de 2018, quando ela tinha 21 anos, em um camarim privado, durante uma festa em um beach club de Jurerê Internacional de Florianópolis, Santa Catarina. Mariana diz ter sido dopada e não se lembrar do agressor, apesar dos exames terem confirmado a identidade de André Aranha. Ao chegar em casa, sua mãe encontrou sangue e um odor forte de sêmen em suas roupas.

Nas redes sociais ela escreveu: “uma pessoa que está dopada ou bêbada não tem condições de dar seu consentimento, ficando altamente vulnerável, por isso são chamadas de: drogas do estupro”. Mariana teve de tomar um coquetel de remédios durante 30 dias para evitar doenças, além de relatar pesadelos e dores pelo corpo.

A investigação sofreu diversas críticas pela atuação da polícia. A jovem diz que a instituição está empenhada em proteger o agressor e o local do crime por se tratar de “pessoas de ‘poder e dinheiro'”. Além disso ela conta que seus depoimentos foram deturpados, os laudos manipulados e seu advogado sem acesso ao inquérito em andamento.

Em setembro deste ano, o juiz Rudson Marcos absolveu o empresário. Segundo a sentença, não foram apresentadas provas contundentes para sustentar a acusação de que ele tinha intenção de cometer o estupro, o que foi chamado pelo site The Intercept Brasil de “estupro culposo”. O termo viralizou nas redes sociais, chamando bastante atenção para o caso e causando indignação, assim como o vídeo da audiência, onde as imagens mostram o advogado de André Aranha, Cláudio Gastão da Rosa Filho, humilhando a jovem, e o promotor e juiz não fazendo nada a respeito.

O site do G1 está cobrindo o caso desde maio de 2019 e postou ao menos cinco matérias sobre Mariana Ferrer. A primeira, intitulada “Jovem denuncia nas redes sociais estupro em beach club em Jurerê Internacional”, fez um apanhado geral do caso, reservando uma parte do texto para o relato, o que ajudou a humanizar mais ainda a história, o que, em casos de violência como o apresentado pede, faz com que o leitor se simpatize com a vítima. Apesar de não terem entrevistado Mariana, eles pegaram a postagem que ela fez em sua rede social contando tudo e como andava a investigação na época. O que mais me chamou a atenção nessa primeira matéria sobre o caso foi a omissão da nome da jovem, assim como o nome de seu usuário na rede social em que ela contou o que aconteceu, demonstrando responsabilidade do veículo em proteger sua identidade, até que sua história foi mais divulgada.

As demais postagens com as novidades também foram abordadas com respeito e apresentando o andamento do caso rapidamente e com muita informação. Dentre elas, “Caso Mariana Ferrer: ataques durante julgamento sobre estupro provocam indignação”, em que, além do texto, apresenta o vídeo da reportagem que foi transmitido no Jornal Nacional. O conteúdo girou em torno principalmente em como Mariana foi tratada durante sua audiência, em que foi humilhada pelo advogado de André Aranha. O JN se demonstrou respeitoso com a jovem e responsável por ouvir todos os lados, já que apresenta desde o advogado de defesa até o de Mariana. Tanto a reportagem em vídeo quanto a em texto terminam com uma citação da defesa da jovem, a reforçar que apenas a vítima poderia confirmar se houve ou não o consentimento, e não o promotor ou juiz. O que deixa um impacto para que o telespectador/leitor reflita sobre o caso e com o que Mariana deve estar sentindo.

--

--