Título à moda do cliente

Em era de fake news, quem lê o título lê muito

Isabelle Ferreira
singular&plural
5 min readSep 20, 2018

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Por Isabelle Ferreira, Leonardo Olavo e Tárik El Zein

O relacionamento entre o jornalismo e as plataformas digitais está cada dia mais abalado, seja pela ascensão assustadora do fenômeno das fake news, pela patrulha virtual de leitores, ou melhor, torcedores virtuais ou principalmente pela falta de capacidade, para não dizer honestidade de nossos colegas jornalistas.

O título sempre foi a cereja do bolo, seja em uma obra de arte, uma música, um livro ou uma matéria. Ele solidifica, conclui e atesta a qualidade do produto ali ofertado, representa aquele elemento que chama a atenção do leitor, para apreciar, degustar e refletir acerca do que realmente se trata o assunto, razão pela qual ele deve ser o mais atrativo possível.

Mas nos dias de hoje, ele ganhou uma importância e proporção nunca antes vista. Na onda do clica, curte e compartilha, o título ganhou status de formador de opinião. As pessoas se informam com aquilo que salta primeiro aos seus olhos, sem se dar ao luxo de aprofundar o decorrer da matéria. E nós jornalistas, sabemos bem disso.

E é aí que a nossa conversa começa, existe uma linha tênue, ainda que imaginária, entre saber utilizar o recurso da atratividade no emprego do título e entre manter o compromisso jornalístico com a apresentação e o decorrer dos fatos.

Ainda que o fenômeno das fake news esteja aquecido e presente em nosso dia-a-dia, a população virtual, de maneira geral, tem criado uma certa resistência com sua propagação. Seja pela fomentação incessante de manuais espalhados pelos jornais e pela internet, com dicas e demonstrações sobre como evitar cair neste conto, ou pela própria capacidade natural do ser humano de errar e aprender com seu próprio erro. Ou seja, em outras palavras, não está tão fácil enganar as pessoas como antes.

Mas, como nada é tão simples na terra do pau-brasil, criou-se uma nova maneira, e ainda mais perigosa, de ludibriar e influenciar o entendimento do leitor, a manipulação da notícia através do título. Ela é ainda mais temerosa do que as fake news, pois ela se utiliza da verdade, para manipulá-la em um novo contexto.

Para sairmos do abstrato, e trazermos esta teoria para nossa realidade, convido-lhes a analisar a pesquisa encomendada pelo BTG Pactual ao Instituto FSB pesquisa. Ela foi realizada do dia 25/08 ao dia 26/08, e divulgada no dia 27 do mês, ouvindo 2.000 entrevistados. Nela observamos diversas simulações no cenário eleitoral, como: Intenção de voto estimulada, voto espontâneo, transferência de votos para lula, potencial de voto, rejeição, entre outras.

O que nos interessa de fato neste artigo, é analisar o título e a apresentação dada para as seguintes matérias: 1. A pesquisa do BTG mostra que as redes sociais turbinam Amoêdo e detonam Alckmin, 2. A pesquisa do BTG mostra Lula forte, mas pouca transferência para Haddad; Alckmin lidera rejeição, 3. Jair Bolsonaro líder isolado em pesquisa BTF-FSB, 4. Amoêdo em terceiro lugar, 5. Pesquisa do BTG Pactual mostra diferença de 7% entre Lula e Bolsonaro nas intenções de voto, 6. Bolsonaro lidera e Marina aparece em 2º lugar; Amoêdo surpreende, 7. Bolsonaro lidera com 24% em cenário sem Lula, aponta pesquisa; Marina possui 15% dos votos, 8. Amoêdo encosta em Ciro em pesquisa BTG; Lula e Bolsonaro lideram

De fato, todas as matérias supracitadas são ‘’ verdadeiras’’, utilizam dados reais e são acerca do mesmo assunto, mas o que quero atenta-los é para o direcionamento de cada título.

Cada veículo, escolheu o título à moda do seu cliente, de acordo com o interesse do seu público, seja para destacar a colocação de Lula, a rejeição de Alckmin, a colocação de Bolsonaro, ou até mesmo a subida de Amoêdo. A questão é que, em poucos minutos após a publicação das matérias, escutava-se os rojões e os fogos de artifícios de norte a sul do brasil.

Os eleitores de todos os partidos haviam motivos para comemorar o resultado de seu candidato, todos haviam se informado de acordo com o título do seus “veículos do coração’’ e nutriam a certeza de que seu candidato estava prestes a ser eleito. Acontece que esses eleitores, se informam e partilham das mesmas informações que a sua rede de amigos utiliza, transformando as redes em uma aldeia de informação, cada tribo com a sua.

O grande ponto é a pluralidade de informações, o público não pode ser mais refém de um único veículo, que partilhe e informe de acordo com as preferências de um único lado da moeda. Pois caso isso continue acontecendo, estaremos sendo utilizados como massa de manobra e correremos o grande risco de entrarmos em uma discussão com opositores de nossos ideais, que estão tão corretos quanto você, contudo se informaram por um título diferente. Um meio para escapar do ponto de vista único sobre algo noticiado é buscar a mesma informação em veículos diferentes do habitual, que mostram em ângulos diferentes o mesmo fato, para o repertório do leitor, a variedade de fontes é imprescindível para qualquer argumentação.

Fonte: https://www.infomoney.com.br/mercados/politica/amp/noticia/7586031
Fonte: https://exame.abril.com.br/brasil/amoedo-encosta-em-ciro-em-pesquisa-do-btg-lula-e-bolsonaro-lideram/
Fonte: https://m.migalhas.com.br/quentes/286353/pesquisa-do-btg-pactual-mostra-diferenca-de-7-entre-lula-e-bolsonaro
Fonte:https://www.oantagonista.com/brasil/amoedo-em-terceiro-lugar/amp/
Fonte: https://www.moneyreport.com.br/politica/a-pesquisa-do-btg-mostra-que-as-redes-sociais-turbinam-amoedo-e-detonam-alckmin/
Fonte: https://renovamidia.com.br/jair-bolsonaro-lider-isolado-em-pesquisa-btg-fsb/
Fonte: http://www.arenadopavini.com.br/arena-especial/pesquisa-do-btg-mostra-lula-forte-mas-pouca-transferencia-para-haddad-alckmin-lidera-rejeicao/amp

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