Tribalistas e as mídias tradicionais

Juliana Cristina
singular&plural
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3 min readSep 22, 2017

Por Ana Paula Zacarias e Juliana Cristina

Reprodução

Era nove de agosto, há pouco mais de um mês atrás. Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown anunciaram, cada um em sua respectiva página do Facebook, que às 23hs daquele dia fariam uma live — o termo é usado nas redes sociais para nomear vídeos que serão transmitidos ao vivo por ali mesmo, na plataforma escolhida. Pois bem, às 23hs do dia 09 de agosto, eis que após segundos de espera coloridos por instrumentos de percussão, surge a voz de Marisa: “1, 2, 3 e…”. Carlinhos solta a voz. Arnaldo declama: Acalmou a tormenta/ Pereceram/ Os que a estes mares ontem se arriscaram/ E vivem os que por um amor tremeram/ E dos céus os destinos esperaram. Em uníssono, os três cantaram durante aproximadamente quatro minutos. E só depois disso revelaram que aquele era o anúncio de um novo álbum — quinze anos após o álbum de estreia. Sem nenhum tipo de comunicado prévio à grande mídia.

No dia seguinte, as músicas e vídeos já tinham sido visualizados e compartilhados. E, claro, muitos jornalistas não ficaram contentes com a escolha do grupo musical. Julio Maria, do jornal O Estado de S. Paulo, publicou uma crítica um tanto negativa à atitude que tiveram os Tribalistas em relação à imprensa e a originalidade e talento de cada um. Julio fecha seu texto com uma frase que, de certa forma, resume onde ele queria chegar com aquela crítica: ao falar sobre uma das canções, Julio ilustra que essa pode ser uma oportunidade para Marisa improvisar nos shows. Ele finaliza: “Mas, talvez, essa informação seja passada aos jornalistas em primeira mão. Será preciso vender ingressos”. A questão do talento e do quanto o grupo inovou ou não, pouco importa nesse momento. Mas pensar sobre o motivo pelo qual esses e outros artistas reconhecidos estão optando por vias independentes de lançar seus trabalhos.

Uma das primeiras respostas que vem à mente é a rapidez e agilidade com a qual a internet e redes sociais podem promover um artista — se esse já for reconhecido, a velocidade com que uma notícia ou um trabalho novo podem se espalhar é ainda maior. É bem diferente do que costumava acontecer há alguns anos atrás, nos quais artistas, como cantores, promoviam exclusivas, lançavam singles para serem tocados nas rádios enquanto era observada a aprovação do público ou, ainda, videoclipes em programas de TV com grande audiência. No entanto, o impacto dessas formas de divulgação é bem menor e menos abrangente. Por exemplo, mesmo as pessoas que não sabiam sobre a live transmitida pelos Tribalistas no dia 09 de agosto, provavelmente ficaram sabendo não muito tempo depois que o grupo lançou músicas novas — bastava entrar em uma das redes sociais pessoais e pronto! Choveu Tribalistas nos dias que se seguiram. Para não ficar só na hipótese: uma das músicas lançadas pelos Tribalistas (escolhida aleatoriamente) e publicada no dia seguinte à live tem, até o momento, 2.176.172 visualizações.

Outro ponto importante é a força da imprensa tradicional em relação à própria credibilidade. O estudo Trust Barometer aponta a sociedade brasileira como “antepenúltima posição de confiança no poder público, à frente somente da África do Sul e da Polônia”. E, convenhamos, não é para menos. Em relação às mídias tradicionais, há um excesso de convicções misturado à pouca ou nenhuma representatividade, não há espaço para as vozes que não correspondem aos critérios de noticiabilidade e, além disso, falta dinamismo.

Não há dúvidas de que as novas plataformas de circulação são muito mais democráticas do que as tradicionais. E, hoje, não é necessário que o jornalista seja um mediador de conteúdos ou que selecione informações que julgar mais interessantes para o público x ou y. Bom ou ruim, a internet promove uma pluralidade imensa de vozes, permite maior interação e respostas simultâneas. Além disso, as possibilidades de produzir conteúdos novos e que tenham alguma conexão com as pessoas é infinitamente maior quando distanciada de critérios antigos e plataformas ultrapassadas. A reflexão que fica, ainda sem resposta, é sobre qual seria a função do jornalismo e, especialmente, do jornalista cultural na sociedade atual?

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