Um compromisso com a verdade: os desafios dos comunicadores na era digital

Em tempos onde fake news se tornam verdades, jornalistas lutam para manter suas responsabilidades sociais

Isabella Marcolino Inglez Machado
singular&plural
3 min readMay 30, 2022

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Por Isabella Machado

Foto de Nijwam Swargiary no Unsplash

O discurso de que a era digital transformou o mundo e as pessoas não é novo, e está sendo cada vez mais disseminado por diversas áreas. Na comunicação, não seria diferente. A internet e sua velocidade mudaram — e seguem transformando, dia após dia — a forma como as pessoas se comunicam e buscam conhecimentos. Deste modo, o humano se vê bombardeado de informações a todo instante e por diversos canais, seja nas mídias sociais, podcasts, newsletters ou jornais on-line. Esse cenário se tornou um grande facilitador do surgimento e propagação das chamadas fake news, ou notícias falsas, principalmente nos aplicativos de mensagens.

Tudo isso culminou no que alguns autores chamam de infodemia, que nada mais seria do que a quantidade exacerbada de informações que atinge as pessoas a todo momento, culminando na dificuldade de conseguir distinguir a verdade da mentira. Desse modo, a responsabilidade social dos comunicadores nunca fora tão discutida, quando perante a era das fake news. Entendemos uma dificuldade de credibilidade dos veículos de imprensa na sociedade, principalmente por atitudes individuais que impactam o coletivo, dentre elas o compartilhamento de informações inverídicas que contradizem a põem o jornalismo sério em xeque.

A construção de discursos de ataque à imprensa se encaixa perfeitamente nesse cenário, de modo que o setor de comunicação precisa lutar arduamente para recuperar sua credibilidade e combater as notícias falsas. Portanto, jornalistas se veem cada vez mais atuantes nessa questão, reforçando o seu compromisso com os fatos e com a sociedade. Desde os primórdios, a legitimação do jornalismo fora construída sobre o pilar de atuação frente ao interesse público, em busca da defesa da opinião pública. Mesmo com todas as problemáticas que esse discurso carrega, a sua essência continua fundamental para a manutenção da factualidade nos veículos de informação, e combate às fake news.

Compreendendo esse cenário da comunicação vivida na era digital, profissionais e a própria imprensa começaram a se movimentar para tentar atuar em prol da sociedade. Um desses exemplos é o espaço “Fato ou Fake”, dentro do portal de notícias G1, que busca desmistificar as notícias falsas propagadas publicamente, e trazer explicações verídicas sobre os casos. Durante a pandemia de covid-19, a problemática desse fenômeno se mostrou muito clara, quando boa parte da população demonstrou a intenção de não se vacinar após a circulação de fatos mentirosos, como a possibilidade de estarem implantando um chip durante a vacinação.

Na reportagem “É Fake que vacina contra covid cause hepatite grave em crianças”, veiculada pelo G1 no dia 9 de maio deste ano, podemos perceber a preocupação dos comunicadores e sua responsabilidade em trazer a verdade à tona, evitando que uma boa parte das crianças deixem de se vacinar, por conta de um possível medo causado por uma informação inverídica, que circulou on-line por grupos antivacina. Analisando brevemente a notícia, por meio de ferramentas apoiadas na análise do discurso, identificamos cinco locutores, sendo eles: o profissional que desenvolveu a matéria, o propulsor do discurso antivacina que está sendo questionado, um assessor de prevenção e controle das hepatites virais da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), uma pesquisadora e professora da Escola de Saúde da Unisinos e, por fim, um subdiretor do departamento de doenças infecciosas do CDC (Centers for Disease Control and Prevention, agência de controle e prevenção de doenças dos Estados Unidos).

Mesmo com diversos locutores, percebemos que a pluralidade do discurso não afeta o entendimento. Ainda que possua mais de uma enunciação, sendo a notícia falsa veiculada na mídia e a verdade escancarada pelos profissionais da saúde, as enunciações atuam de modo complementar e desempenham caráter explicativo. Assim, percebemos que a matéria consegue atingir a sua função social de levar a informação correta para a sociedade e, mesmo assim, mostrar a falácia e explaná-la. Reforça-se, desse modo, a importância não só da atuação dos jornalistas no combate às fake news, mas a pluralidade nos discursos a fim de trazer a verdade concreta e explicativa.

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