Um olhar mais profundo sobre questões ambientais

A narrativa da revista Piauí sobre os problemas e mudanças que o meio ambiente tem enfrentado

Pietra Mesquita
singular&plural
4 min readOct 12, 2020

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Por Brenda Vieira e Pietra Mesquita

Para este artigo o veículo escolhido foi a revista Piauí. Assim, será feita uma análise do discurso com base em três grandes reportagens da editoria de “Meio Ambiente”. O intuito é captar características semelhantes em todas elas e entender como pela utilização das palavras, escolha de recorte, seleção de personagens e termos, é possível encontrar um discurso em comum e implícito do veículo.

A revista Piauí tem como característica grandes reportagens escritas de forma mais literária e detalhada que uma notícia hard news ou até mesmo reportagens-padrão podem ter. A apuração, por sua vez, busca em temas amplos problemáticas específicas, fazendo assim com que o leitor compreenda os fatos de maneira mais profunda e completa. O texto, por sua vez, busca mostrar personagens que possam representar com clareza a pauta abordada, fazendo com que a aproximação do leitor com a realidade reportada seja efetiva. Apesar de serem grandes reportagens que consideram diversas fontes e perspectivas, as matérias da Piauí são sobre temas atuais e de extrema importância para a opinião pública.

A primeira reportagem analisada foi “No meio do fogo, entre o atraso e o retardante”, por Lázaro Thor Borges, publicada no dia 21 de setembro de 2020. A matéria trata sobre as queimadas no pantanal e uma substância específica que está sendo utilizada para conter o fogo: os retardantes.

Logo no início somos apresentados a uma personagem que acredita que uma mistura caseira pode curar a covid-19 e qualquer outra doença em homens e animais; e mais à frente no texto se descobre que é uma crença de senso comum na região. Então, há uma referência à cloroquina que, no contexto, pode ser vista como uma ironia e um prenúncio à forma como o retardante será colocado na reportagem — uma substância que, sem comprovação científica de eficácia e sem conhecimento de seus malefícios a longo prazo, acaba tendo adesão de muitas pessoas por ser liberada pela Secretaria do Meio Ambiente.

A matéria repetidas vezes faz o contraponto do senso comum e a ciência. Além disso, também são mostrados interesses econômicos e ganhos monetários das empresas que podem prover a substância retardante. Na construção da narrativa é possível captar um modelo “conservação do bioma versus progresso e negligência”, uma vez que a utilização do Hold Fire nas áreas marginais aos rios e afluentes atinge também as pessoas e comunidades ao redor.

Líder indigena em meio ao cenário pós queimadas. Crédito: Intervenção de Paula Cardoso sobre fotos de Lucio Mariano Kogue

A segunda matéria analisada foi “Asfaltando a Amazônia”, de Fernanda Witzel, publicada em 14 de fevereiro de 2020. A reportagem busca retratar a realidade de pessoas que serão impactadas pela rodovia federal inaugurada por Bolsonaro no início do ano. Mostrando que o presidente tem como objetivo continuar o projeto idealizado e iniciado pela ditadura, a narrativa de progresso versus conservação ambiental também se encontra aqui.

Como uma crítica, o projeto da BR-163, que cortará parte do Norte do Brasil de área protegida em que se encontram povos indígenas e quilombolas, é colocado ao lado de outras empreitadas que afetaram negativamente povos nativos como a usina hidrelétrica do Belo Monte, no rio Xingu. Assim, a revista deixa claros, com a construção da narrativa, os absurdos do governo por meio dessa denúncia, criando uma reportagem que dá visibilidade a personagens da região e às ações federais que não levam em consideração essas pessoas ou o meio ambiente.

Crianças indígena brincam na aldeia enquanto uma estrada invade seu território Crédito: Intervenção de Paula Cardoso sobre foto de Fred Rahal Mauro

Por fim, a terceira matéria analisada foi “Quarentena evita um bilhão de toneladas de carbono na atmosfera”, de Luigi Mazza, publicada em 19 de maio de 2020. Na matéria, dados científicos são apresentados como forma de criticar a humanidade como causadora do cenário precário em que o planeta se encontra, uma vez que, por conta da quarentena, as emissões diárias de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera diminuíram. Com o discurso, é possível trazer ao leitor uma reflexão sobre o assunto.

Céu de São Paulo durante o isolamento social Crédito: Fabio Vieira/FotoRua/NurPhoto via AFP

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Pietra Mesquita
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Meu nome é Pietra Mesquita, tenho 23 anos, estudo jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. Atualmente, sou âncora na TV CARAS.