Uma perigosa travessia na ponte do jornalismo

Com um modelo de negócio renovado, o jornalismo se afastou das relações humanas e de debates essenciais para a sociedade

Matheus Fiuza
singular&plural
2 min readMay 30, 2022

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Por Luís Fabiani, Matheus Fiuza e Pedro Gallo

Temas sociais ganham as manchetes de sites e jornais impressos diariamente. Entre os diversos setores da sociedade, o futebol foi palco nas últimas semanas de atos racistas de torcedores argentinos, chilenos e equatorianos em partidas contra equipes brasileiras. No último fim de semana, um suposto ato racista do jogador Rafael Ramos, do Corinthians, contra Edenílson, do Internacional, tomou conta do noticiário e acarretou reflexões importantes sobre o papel do jornalismo no mundo globalizado, no qual se encontra como meio e mensagem simultaneamente.

É importante destacar que o jornalismo atual tem preterido o espaço de debate e inclusão social para focar na audiência. Essa audiência, inclusive, é focada no quantitativo, e não no qualitativo, ou seja, a ideia é encher o público com muitas informações e chegar ao (suposto) engajamento em massa para se sustentar, como ressaltava Carlos Castilho (2015). Não há a preocupação com quem está consumindo o produto, mas sim com o quanto é consumido. Com o enfraquecimento das relações humanas, é natural que temas sociais, como o preconceito racial colocado anteriormente, diminua a ponte inerente do jornalista com o público, pois a mediação fica cada vez mais distante do necessário.

O debate pelo racismo é uma necessidade do jornalismo (Créditos: Pixabay)

Outro ponto de análise passa pelo crescimento paralelo entre opinião e informação dos acontecimentos. O professor Jorge Larrosa (2001) lembra que, a partir do momento que um sujeito passa a ser manipulado e orientado pelo mecanismo da informação e da opinião, ele não consegue ter experiências e vivências. Ao misturar a informação e a opinião em questões sensíveis da sociedade, o jornalismo passou a construir uma nova realidade aos sujeitos, pois vale mais a impressão de um fato (a polêmica e possíveis desdobramentos de um caso) do que o próprio acontecimento em si.

Logo, é nítido que os agentes de comunicação têm se preocupado mais com o imediatismo da solução dos temas do que com o debate aprofundado e com mais perspectivas sobre pautas vitais à sociedade. O jornalismo deve olhar para o todo e ressaltar a verdadeira vítima no combate ao racismo, algo que é facilmente alterado pela velocidade com que se tenta encontrar um veredito e estar à frente da concorrência nos noticiários. O jornalismo é combate, pausa, atenção e detalhe. É o olhar mais lento para enxergar aquilo que não se vê na pressa das mídias sociais e do cotidiano globalizado.

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