Urnas eletrônicas: o desafio da confiança na era das fake news

Utilizadas desde 1997 no Brasil, as urnas eletrônicas jamais tiveram irregularidades registradas em processos eleitorais

Alexandre S. Melo
singular&plural
3 min readMay 26, 2022

--

Por Alexandre S. Melo e Vinicius Murad

Exemplar de urna eletrônica. Imagem: Divulgação/Tribunal Superior Eleitoral

Nos últimos anos, a confiabilidade do terminal eleitoral foi colocada em pauta após um ataque hacker ao sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2018, além de diversas afirmações do presidente Jair Bolsonaro sobre uma possível fraude no resultado das eleições daquele ano.

Ao desmentir as ditas “fake news” — em tradução livre, notícias falsas — sobre ameaças ao pleito de 2018, a Justiça Eleitoral tem trabalhado de forma significativa para desmistificar os vários boatos que surgiram e para reafirmar a segurança das urnas eletrônicas. Na tentativa do combate à desinformação, o TSE firmou uma parceria com o Telegram, aplicativo de mensagens rápidas para tirar dúvidas de eleitores e desenvolver um meio de marcar conteúdos considerados “desinformativos”.

Uma matéria do Portal G1 traz ‘respostas do TSE sobre recomendações do Ministério da Defesa para o sistema eleitoral’. A reportagem elenca as dúvidas e sugestões levantadas pelas Forças Armadas sobre as urnas eletrônicas no âmbito da Comissão de Transparência das Eleições 2022. Os militares questionaram alguns pontos referentes à auditabilidade e segurança das urnas. Em resposta, e a pedido das Forças Armadas, as questões e as respostas técnicas do TSE foram divulgadas.

A reportagem presta um serviço aos leitores. Além de informar sobre o que foi questionado, e praticamente traduzir com palavras de conhecimento mais facilitado, contextualiza e explica cada um dos tópicos.

É de conhecimento público que o presidente Bolsonaro questiona e ataca o sistema eleitoral quase diariamente. Baseado em ilações e sem nunca ter apresentado sequer uma prova concreta, Bolsonaro acaba por perpetuar dúvidas, informações enganosas e distorcidas sobre as urnas. Além da Justiça Eleitoral, também o jornalismo sério apresenta os fatos concretos e evidencia a verdade: o sistema eleitoral brasileiro é seguro e confiável.

No caso da reportagem em questão, o veículo do Grupo Globo opta por trazer os fatos concretos e técnicos apresentados pela maior autoridade eleitoral do país. A responsabilidade acerca da construção desse discurso não é exclusiva da reportagem, mas também do Tribunal Superior Eleitoral.

Há um desafio midiático em ir contra a desinformação, apresentando fatos que comprovem a veracidade do conteúdo. A relação conturbada do presidente Jair Bolsonaro com a imprensa — e com a justiça eleitoral — dificulta a atuação jornalística voltada aos fatos, uma vez que apoiadores do presidente optam, em maioria, por questionar a mídia, descredibilizando a informação transmitida.

O que é verdade, e o que não é. O que é realidade e o que é mera ficção acabam sendo conceitos maleáveis, até subjetivos em certa medida. Quando a maior autoridade de um país, eleita pela maioria de seu povo, levanta questionamentos infundados e promove a desinformação, é compreensível que se crie uma atmosfera de dúvida sobre se de fato trata-se de fake news. Em casos como esses, somente o trabalho sério do jornalismo pode jogar luz à verdade.

--

--