Vale a pena noticiar apenas por noticiar?

A impressão que fica é que muitos meios de comunicação noticiaram as queimadas no Pantanal apenas para não perderem espaço para concorrentes

Daiana Rodrigues pereira
singular&plural
3 min readOct 8, 2020

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Por Amanda Pickler, Daiana Rodrigues e Rebecca Gomes

As questões ambientais sempre estiveram envolvidas em polêmicas nacionais e internacionais, e muitas vezes ligadas à ideologia. A Amazônia, por exemplo, está sempre no centro das discussões. Porém, no final de julho, outro assunto ganhou espaço na mídia: o Pantanal.

No dia 23 de julho, começaram a surgir, nos grandes veículos de notícia, as primeiras matérias reportando a situação: o Pantanal está em chamas.

Porém, a impressão que fica é que muitos meios de comunicação noticiaram as queimadas no Pantanal apenas para não perderem espaço para os concorrentes. Isso fica muito claro, por exemplo, na cobertura realizada pela CNN Brasil.

O Estado de S.Paulo foi certamente o veículo com a cobertura mais intensa, tendo inclusive, a partir do dia 10 de setembro, enviado uma equipe de jornalistas para acompanhar o evento de perto. Foi com a reportagem “Fogo avança nos últimos redutos de onças no Pantanal”, de Vinícius Valfré e Dida Sampai, que a população brasileira realmente passou a dar atenção e se solidarizar com as vítimas do desastre. Não é de se admirar, tendo em vista que a cobertura do Estadão foi a primeira a apresentar fotos, vídeos e a dar um olhar mais próximo e humanizado da situação. Uma verdadeira aula de como se praticar o bom jornalismo. Por outro lado, na CNN Brasil, emissora recém-criada no Brasil, em 15 de março de 2020, com todo o glamour de uma emissora norte-americana, vê-se o oposto.

Ambos veículos vieram produzindo matérias sobre o tema desde o dia 23 de julho em praticamente todos os dias. Mas há algo a se notar: a forma de se noticiar.

Na CNN, números e mais números do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) se repetem com o passar dos dias. Alguma fala de entrevistado aqui e outra acolá. Isso quando também não eram repetidas. Já as imagens, poucas. Todas cedidas por fotógrafos que não são da emissora ou do próprio Corpo de Bombeiros do Mato Grosso.

Vale ressaltar, no entanto, que a própria cobertura do Estadão não foi inicialmente a ideal. As primeiras matérias do jornal a noticiarem as queimadas aconteceram de forma tímida. Foram bastante objetivas, utilizando-se de dados comparativos que comprovam o aumento das queimadas na região. As citações desses dados, obviamente, foram importantes para dar credibilidade ao que se é noticiado; no entanto, o tom extremamente impessoal, e até mesmo frio, acaba afastando o leitor da gravidade da situação. Somente a partir do dia 24 de agosto é que as matérias passam a se aprofundar na investigação e na apuração propriamente dita.

Desde 11 de setembro o jornal possui também matérias mostrando os efeitos causados aos animais e à população, com uma frequência maior de notícias e reportagens sobre o tema. Se antes havia apenas uma notícia pontual por dia, a partir dessa data vê-se ao menos quatro matérias diariamente, todas aprofundadas e abordando os mais diversos pontos de vista da situação.

Sim, os repórteres do jornal Estadão colocaram suas botas e foram para o Pantanal. Mas por que a CNN não fez o mesmo e preferiu publicar pequenas notícias, com fontes e fotos repetidas?

Até o dia 18 de setembro, o portal de notícias da CNN possuía 31 matérias. A maioria se apoiou na fonte Inpe. Em segundo é observada a presença de falas de autoridades, como o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o governador do Mato Grosso, Reinaldo Azambuja. De vez em quando, um especialista comentando o assunto. Mas esquece-se de um passo fundamental ao jornalismo, que são as “fontes primárias”, ou seja, as que estão envolvidas diretamente com o acontecimento.

Imagem: AILTON LARA

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