A Tecnologia Blockchain e a descentralização, uma revolução sem sangue

SingularDTV Português
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8 min readJan 29, 2018

Um ensaio pessoal do CEO Zach LeBeau sobre a América Latina, a luta humana e a forma como o blockchain já está mudando vidas.

Mais e mais pessoas estão começando a entender que a tecnologia blockchain tem potencial transformador que ultrapassa a propriedade de uma criptomoeda. Enquanto o ruído produzido pelo boom das ICOs perturba nossa audição, está ocorrendo uma mudança de paradigma fundamental, tão profunda que promete mudar o próprio tecido da civilização humana. Eu tinha isso em mente, quando o cineasta guatemalteco, Javier Borrayo, apresentou sua proposta de filme de ficção científica, “Luz”, para criação de tokens e lançamento de projeto na plataforma da SingularDTV, Tokit.io.

É um filme sobre um físico cujo pai foi assassinado durante a guerra civil guatemalteca. Na tentativa de se reconectar com a energia de seu pai, ele se torna obcecado por encontrar uma maneira de medir o carma através do espaço-tempo. Através dessa jornada, fica claro que a única maneira de encontrar seu pai é simplesmente deixá-lo ir.

Borrayo e “Luz” desencadearam uma onda de emoção em mim, não só porque o enredo é poderoso, ou por causa do potencial que o Tokit.io tem para empoderar cineastas que, de outra forma, passariam despercebidos, mas porquê despertaram a minha própria memória de um período que estive na Guatemala durante a guerra civil. Uma guerra civil que buscava a revolução através de sangue e violência indescritível. Contrário a esse contexto, eu vejo o paradigma da descentralização e a tecnologia blockchain como o mecanismo apropriado para conduzir uma revolução pacífica e limpa de sangue.

Por conta disso, liguei para Jason Tyrrell, nosso vice-presidente de conteúdo, e lhe disse: “Está funcionando, a Tokit está funcionando!” Para descobrir e conectar com cineastas em lugares como a Guatemala … meu pensamento era: se Tokit pode ajudar o filme de Borrayo ser feito, ele está atingindo seu propósito. Como teríamos descoberto sobre Borrayo sem nos aventurar na própria Guatemala? Este é o poder da computação descentralizada e da tecnologia blockchain. Naquele telefonema, eu sabia que Jason também sentiria a mesma conexão especial com este projeto. Assim como eu, ele passou algum tempo na Guatemala, morou lá por algum tempo vivendo em uma caminhonete, cruzou todo o país, se oferecendo como voluntário em abrigos de resgate de animais. Ele se envolveu com a comunidade local e contribuiu positivamente para a sociedade pós-guerra civil. Às vezes, Jason e eu sonhamos acordados após algumas cervejas: — devemos voltar para a Guatemala e fazer filmes com um misto de Herzog ou Coppola — bem no estilo anos 1970. Retornar ao tempo, quando o cinema era uma ótima aventura. Bem diferente do esforço mecânico sindicalizado de agora, onde você conta as horas para a hora do almoço e os dias até o final das filmagens. Talvez possamos dar um passo adiante e inflamar uma verdadeira infraestrutura de cinema lá. Por que não?

Como mencionei, a principal razão que desencadeou essa reação em mim quando me deparei com o projeto de Borrayo foi ter passado um breve período de tempo na Guatemala durante a guerra civil que ocorreu de 1960 a 1996. Eu estava lá em 1994. Eu era apenas um jovem — dezenove anos, procurando aventura. Um jovem escritor, que não teve nenhum motivo para escrever. Eu tinha ouvido falar de forças rebeldes escondidas na província da selva da Guatemala, o El Peten. Ouvi as histórias de como eles paravam os ônibus, encaminhavam todos para fora, saqueavam todo o dinheiro e pertences para financiar sua revolução. Às vezes, executam funcionários do governo ou estrangeiros que simpatizavam com o governo vigente, ou, pelo simples fato desses estrangeiros não terem dinheiro suficiente para doar a causa. Quando pisei no El Peten, fui precavido, certifiquei-me de ter um dinheiro suficiente e as palavras “Viva La Revolucion!” Na ponta da língua. Eu não sei o que me atraiu para aquela área do mundo, foi essa força determinante dentro da minha mente. Sem a necessidade de dizer que meus parentes não ficaram muito animados com a ideia, mas já tinha determinado que precisava ir, sobretudo, eu desejava algo mais do que naquele momento a vida poderia oferecer à um menino branco, de classe média, no meio-oeste da América. Corroborou, naquela altura, que meus heróis literários eram T.E. Lawrence e Ernest Hemingway. Como eu poderia escrever qualquer coisa, se eu não fiz nada?

Minha aventura começou no México. O plano era seguir caminho para o sul, cruzar todos os países da América Central e alcançar o extremo meridional da América do sul. Naquela época, eu era um alpinista. Planejava subir o K2 e Everest antes dos 30 anos de idade. Sendo assim, montanhas glaciais como Citlaltepetl no centro do México, com cerca de 19 mil pés, faziam parte do meu campos de treinamento. Eu deveria superar montanhas como esta, uma a uma, no meu caminho para o sul. Fui de ônibus para Tlachichuca, uma cidade de montanha leve e popular ponto de partida para escaladores em formação. Quando cheguei lá, era o único alpinista e demorou alguns dias para organizar um passeio para o acampamento base e juntar o resto dos suprimentos que precisava para meu primeiro desafio. Descolei com um jovem mexicano que estava no caminho de buscar seu pai falecido. Ele havia falecido durante uma mudança climática brusca poucos dias antes. Eu seguia pela estrada na caçamba do coaminhão, suprimia qualquer superstição nesse começo dessa que seria a minha primeira grande escalada solo. Pude ajudar meu parceiro de viagem colocar o corpo do pai no caminhão, e mesmo com toda situação difícil, ainda arranjou carona para que eu fosse pego no acampamento base 72 horas depois.

Não vou entrar em detalhes da escalada, esse não é motivo da estória, mas depois dessa subida bem segui meu rumo para o sul — próxima parada, Guatemala. Mochila, ponteiras, machado de gelo, com toda minha parafernalha — parecia um gringo louco enquanto migrava de ônibus em ônibus, de cidade em cidade, cruzando o sul do México. Isso ocorreu algumas semanas antes do Natal e eu queria chegar ao lago Atitlan antes disso. Em um dos ônibus, conheci uma jovem de Chiapas — uma zapatista — não me lembro do nome dela. Ela me contou histórias do Exército Zapatista de Libertação Nacional. Apenas um ano antes, eles haviam levantado uma revolta contra o governo mexicano. Algumas centenas de rebeldes saquearam a cidade de Altamirano. As forças governamentais retaliaram e as batalhas eclodiram. A revolta atraiu a atenção da mídia mundial. As organizações de direitos humanos apontaram como responsável o governo mexicano por marginalizar a população indígena em Chiapas. Em fevereiro de 1994, exército zapatista e governo chegaram a um acordo e assinaram um tratado de paz. Minha recém-adquirida companheira de viagem me disse que havia sinais de uma segunda rodada de ataques que seriam realizadas antes mesmo do Natal. Por conta disso, eu decidi atrasar minha chegada na Guatemala e dirigir-me para Chiapas. Eu queria conhecer os rebeldes, entrevistá-los e entender melhor todo o contexto da situação. Conheci vários simpatizantes, mas nunca consegui entrar em contato com o comando do Zapatista da Libertação Nacional. Nesse meio tempo, eu adoeci e fiquei acamado por mais de uma semana. Quando eu me recuperei, os sussurros de uma segunda revolta haviam cessado e ficou evidente que a paz seria estabelecida. Milhas e milhas estavam à frente até meu destino, era hora de avançar.

Meu próximo destino era Tabasco, fronteira da Guatemala. Lá contratei um menino, ele tinha no máximo 14 ou 15 anos, e seria o responsável por me transportar rio abaixo serpenteando a selva da Guatemala. Eu contava que havia um posto militar avançado e seria lá o local planejado para pegar meu passaporte de entrada no país. Começamos no início da manhã, ainda escuro, e chegamos ao posto avançado antes do meio dia. Soubemos que um homem tinha sido baleado e morto a alguns metros dali: o atirador, um suposto rebelde; o homem assassinado, um suposto informante do governo. Nesse ritmo, começou minhas aventuras na Guatemala.

A guerra civil foi um caso doloroso para muitas pessoas na Guatemala. Não vou me aprofundar nos nas histórias que vivenciei por lá — talvez outro momento. O importante foi que no momento que vi listado o proposta do Javier no Tokit, eu me comprometi a ajudá-lo com o que estivesse ao meu alcance para materializar sua visão da história. O principal motivo que me trouxe ao movimento blockchain foi porquê eu vejo isso como uma revolução — uma revolução sem sangue, onde armas e balas não são necessárias para conduzir o poder, a liberdade e a independência para as pessoas. Javier e seu filme são exemplos disso.

A tecnologia Blockchain é “o grande nivelador”. Isso pode ajudar a horizontalizar a cadeia de comando e controle, cima para baixo, onde poucos têm controle e dominam muitos nas escalas abaixo. A tecnologia Blockchain pode ajudar a liberar e empoderar. Estive em várias zonas de guerra e conflitantes no mundo, em razão dessas experiências que tive, me tornei profundamente engajado na missão da descentralização, em especial pela missão que temos na SingularDTV. Eu tento não me permitir ficar desanimado quando me defronto com a mania sociopata que infesta a criptoesfera de apenas ganhar dinheiro “esse é o ICO” ou “essa é a moeda”. Também é decepcionante quando os detentores de tokens SNGLS exalam um desejo febril para que possamos bombear dividendos para nosso token, com isso, realizar o almejado ganho monetário. Às vezes eu me arrependo de ter realizado um venda pública do ecossistema tokenizado da SingularDTV, apesar de saber que esse foi o caminho correto, e que, se pudermos ajudar a transformar a impaciência, a ganância e a falta de consciência da criptosfera com nossa mensagem e nossas aplicações, então vai ter valido a pena. Além disso, eu fico tranquilo e satisfeito com o Tokit.io e o que estamos construindo na SingularDTV. Isso é algo que pode contribuir de forma positiva para o mundo, ou, pelo menos, ser um exemplo de como a tecnologia blockchain pode fazer algo produtivo, além de tornar as pessoas ricas.

Javier já levantou bastante ETH para fazer seu filme. Abaixo estão algumas fotos da produção de “Luz” .

Zach LeBeau, CEO da SingularDTV

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