Além de mim
Gosto de sentir que faço a diferença
Sinto falta de tempos melhores. Da leveza, de uma extrema despreocupação. Sinto saudades de ter assunto com meus amigos. Assuntos de verdade, fatos relevantes, e não apenas contatos aleatórios para certificarmos uns aos outros de que estamos vivos. Frequentemente penso que muitas das minhas amizades se sustentam na lembrança do que já foram um dia. E eu sinto falta de ser levado a sério, de deixar claro que na maioria das vezes eu não estou brincando e que gosto de atenção — muito embora eu seja o feliz possuidor de um refinado senso de humor.
Gosto de sentir que faço a diferença. De ser visto e tratado como homem, por mais que o lúdico seja uma constante na minha vida, de não ser interrompido quando estou falando e de ser enxergado como alguém que, por mais estapafúrdias ideias que tenha, sei o que estou fazendo. Ou prefiro acreditar que sei. E caso porventura não saiba, saberei reconhecer.
Tudo isso obviamente não quer dizer que eu nunca erre. Eu me conheço melhor do que ninguém e jamais levarei em conta o que tenho certeza que não está de acordo com o que eu sinto. Por muitos anos estive à inteira disposição dos outros, mas isso já passou. Só eu sei o que é estar comigo mesmo cada hora do dia. De uns anos para cá me condicionei a perguntar se posso antes de emitir uma opinião e gostaria demais que fizessem o mesmo comigo.
Cada vez que sou considerado um zero à esquerda, surpreendo a mim mesmo, rapidamente deixando claro que não é como as coisas funcionam, pois fazer cara de sonso pode ser uma de minhas tantas especialidades. Estou sempre atento aos fatos e certamente cresço a cada oportunidade. O que me falta muitas vezes é puramente a energia em contestar. Eu decididamente não tenho problema em não ter a palavra final.
Hoje eu sei que não tenho responsabilidade pelo que pensam de mim. Eu sempre vou estar muito além de qualquer ideia que possam fazer a meu respeito.
