Os valores invertidos
Qualidade acima de quantidade, sempre
O ser humano tem um enorme problema com a sinceridade. Não há nada, ao menos nesse exato momento, que me faça acreditar que alguém aceite de peito aberto qualquer tipo de crítica que o tire do eixo. Ninguém quer ter o dedo apontado para si, trazendo à tona lembranças como nos tempos de infância, onde seus erros eram imediatamente expostos e reprimidos.
Não.
Sou capaz de afirmar que mesmo uma amizade de anos pode ser abalada com poucas palavras, mesmo as ditas com as melhores intenções. Mas eu não estou me referindo àquele tipo de sinceridade desnecessária, daquelas em que há quem afirme não ter nenhum tipo de filtro entre o cérebro e a boca como se isso fosse imensamente admirável. Estou me referindo aos pingos nos is, às coisas que precisam ser tratadas porque alguém, no fundo, não está se sentindo bem. Ainda assim, muitas vezes a outra parte prefere não ouvir. É melhor continuar vivendo o aparente conto de fadas como se tudo estivesse bem.
Será?
Me recuso a fazer parte do processo de idiotização que a sociedade parece estar vivendo. A total ausência da capacidade de raciocinar, de compreender as coisas como elas são e de ser intelectualmente independente. Os questionamentos são frequentemente equivocados e os valores completamente invertidos. As coisas são feitas sem que muitas vezes hajam reais motivos ou propósitos para tal. O cotidiano se resume a repetições do que não leva a nada e uma sucessão de incoerências. No desespero em parecer superior, muitos se entregam à contradição sem o menor pudor. Nos tempos atuais, uma pessoa de personalidade forte é vista como aquela que bota a boca no mundo e faz acontecer, impondo respeito às custas da pura e simples falta de educação.
Não pra mim.
A pessoa de verdadeira personalidade forte é imperturbável. A pessoa forte tem o dom supremo da serenidade. Existem inúmeras outras formas de se impor respeito e saber dizer não. Mas os integrantes desse mundo tão frágil são feitos de material muito delicado. O próprio fato de dizer não faz com que você automaticamente não preste. É preferível que você se anule, faça algo que não quer, muitas vezes passando por cima de seus princípios simplesmente para agradar a quem no fim não terá consideração pelo seu ato.
Eu continuo achando que não.
Qualidade acima de quantidade, sempre. É a esse valor que eu pretendo me agarrar.
