Quando o medo roubou o melhor de mim
Não tenho problema em me fazer ouvir.
Sempre que menciono que já fui uma pessoa tímida, as pessoas riem. Elas não conseguem relacionar a minha atitude desinibida atual com quem eu era antes de conhecê-las. Mas é verdade. Eu era, sem dúvida, insuportavelmente tímido. Por volta dos 14 anos, eu tinha vergonha até de pedir licença para me levantar se alguém estivesse sentado ao meu lado no ônibus voltando da escola. Eu começava a mexer na mochila e dava sinais de que precisava levantar, na esperança de que, ao pedir licença, bastasse falar baixo para ser compreendido prontamente. É curioso notar que, mesmo sendo tímido, não deixava de participar das festas juninas durante o ensino fundamental. Lembro-me claramente da minha primeira festa junina, quando, sem pensar, recusei o convite. No entanto, foram as palavras de um colega de turma que me fizeram mudar de ideia: “Eu sempre participo porque os ensaios acontecem durante a aula e a gente não precisa ficar na sala.” Rapidamente me candidatei. Sim, eu agarrava qualquer oportunidade que surgisse para evitar estudar, e felizmente isso também mudou. No cotidiano de um jovem tímido, o problema era mais profundo, especialmente entre estranhos e, ainda pior, quando eu estava sozinho. Pode haver um ou dois motivos para isso, mas levou alguns anos até que eu percebesse que a timidez é uma total perda de tempo. Foi quando percebi que havia mudado. Há coisas que não fazemos não por vergonha, mas por uma espécie de medo inexplicável. Descobri que o medo tem múltiplas facetas, algumas das quais podem levar anos para identificarmos como medo: medo de ser notado, de se destacar de alguma forma, de ser o centro das atenções. Hoje, muitas vezes, evito ser visto mais por opção do que por resquícios de um temor adolescente. Quando vejo pessoas dizendo que todos desejam fama e reconhecimento, me pergunto: todos quem? Ser legitimado por um bom trabalho é uma coisa, mas não preciso ter meu rosto estampado por aí, e muito menos uma legião de seguidores. O medo de me expressar e de simplesmente ser eu pode ter desaparecido, e hoje não tenho problema em me fazer ouvir. No entanto, percebo claramente os reflexos que ele deixou quando roubou o melhor de mim. Por medo, deixei de me aproximar e de arriscar, mas é sempre um grande alívio pensar em tudo o que um dia me oprimiu e sentir que passou. Se algo o impede de tomar a atitude que pode transformar sua vida neste momento, espero que este relato de como hoje não tenho mais medo possa servir de inspiração, mesmo que signifique ter menos histórias para contar.