O questionário de Proust: Fah Maioli

Sistema Dez
Sistema Dez
Published in
6 min readApr 4, 2016

Aqui começa uma série de entrevistas com grandes nomes que participaram do ModoModa, uma série de encontros promovida pelo Sistema Dez.

Neles a gente discute assuntos que permeiam o mundo da moda por diferentes visões. A primeira entrevistada é Fah Maioli, gaúcha que desenvolve uma carreira internacional de cool hunter analisando e compartilhando tendências comportamentais que influenciam o desenvolvimento de produtos e serviços no design e na moda.

Para ficarmos dentro do espírito da moda resolvemos não fazer uma entrevista comum, mas utilizar o Questionário de Proust: um conjunto de perguntas que ficou famoso por ter sido respondido duas vezes na vida pelo autor de Em busca do tempo perdido. Suas respostas se tornaram tão famosas que viraram uma espécie de guia para entrevistas jornalísticas, sendo utilizado por Bernard Pivot em um famoso programa da TV francesa e depois adotado por James Lipton na série Inside the Actors Studio da Bravo Cable Television.

James Lipton aplica o Questionário de Proust em Jake Gyllenhaal

Mas o que isso tem a ver com a moda? Simples: a revista Vanity Fair utilizou O Questionário para entrevistar as mais celebradas personagens ligadas à cultura pop, moda e política na segunda metade do século XX, o que gerou respostas sensacionais, inteligentes e emocionantes de gênios como Giorgio Armani, Oscar de la Renta e Carolina Herrera, além de gente que não era da moda, mas tinha total influência sobre ela como David Bowie e Catherine Deneuve.

Com vocês, direto de Milão, Fah Maioli

O que é para você a felicidade perfeita?

O momento presente, em consciência presente. Se for com saúde, com quem amo por perto, melhor ainda.

Fah Maioli

Qual o seu maior medo?

Perder a visão. E a razão. Juntas.

Com qual personagem histórico você mais se identifica?

Ah, Berta Zuckerkandl. Gostaria.

Qual a pessoa viva que você mais admira?

Não sei quem escolher. Todos tem esqueletos no armário: admiração para mim é a quase perfeição. Não existe. Tem gente que gosto, só isso.

Qual é a sua característica que você mais desgosta?

Preguiça física.

Qual é a característica que você mais desgosta nos outros?

Informalidade e Cafonice: juntas então são tão deselegantes…

Qual é a sua maior extravagância?

Comprar livros raros. Já estourei cartão por isso e hoje estou mais “econômica”. (risos)

Qual é a sua jornada favorita?

Com sol de primavera, meu amor por perto, um livro novo me esperando, aguardando amigos para o jantar (ingredientes rigorosamente a km zero)

Qual é a virtude menos valorizada?

A verdade. É uma virtude? Meu pai diz que sim.

Em que ocasião você mente?

A última vez que eu menti foi quando rodei de ano, cheguei em casa e disse que estava tudo bem com as notas. Fiquei de castigo o verão inteiro. Faz uns 30 anos e nunca mais achei que seria construtivo mentir. A minha face enrubesce, não consigo!

O que você menos gosta da sua aparência?

Meus cabelos brancos. Sim, eu pinto desde os 13 anos!

Qual a pessoa viva que você mais despreza?

A Persona Politicus Corruptus.

Que frase ou palavra você usa demasiadamente?

Ciao bella. Não tem jeito, capisci?

Qual é o seu maior remorso?

Não ter estado mais tempo com minha nonna Rosa quando ela estava morrendo. Acho que podia ter trabalhado menos aquela época, mas eu era muito jovem e pensava que ela iria segurar aquela barra como sempre. Aconteceu. Hoje eu faço “das tripas coração” e cancelo qualquer coisa para estar com quem eu amo. Pode ser sempre a última vez. Não se sabe, né?

Quem ou o que é o maior amor da sua vida?

Meus pais per primis e depois Marco, com quem quero envelhecer e velejar pelo mundo.

Quando ou onde você foi mais feliz?

Quando pude caminhar com as minhas próprias pernas, literalmente. Usei um aparelho ortopédico até os sete anos de idade e quando me liberei, corri. Até hoje não parei. risos.

Qual talento você gostaria de ter?

Colocar minhas emoções no papel através da arte. Sou muito racional, analítica e filosoficamente pessimista. Me ajudaria a ser uma pessoa mais leve eu acho…

Qual seu atual estado de espírito?

Frizzante.

Se você pudesse mudar algo em si mesmo, o que seria?

A maldita preguiça física… só de pensar em fazer exercícios já fico cansada. (risos)

Se você pudesse mudar algo em sua família, o que seria?

Não foi perfeita, mas foi a melhor que a minha personalidade poderia encontrar. Não mudaria um evento sequer e os amo incondicionalmente hoje.

O que você considera a sua grande conquista?

Minha liberdade de mulher do mundo, livre para pensar, sem nenhuma religião para acreditar, corajosa para amar. Não é fácil e inclui muitas renúncias. Filhos por exemplo.

O que ou quem você acha que poderia ser em uma próxima vida?

Se existir esta tal de reincarnazione, quero voltar sempre como uma coruja selvagem. Quero rotacionar minha cabeça como elas fazem para não perder nada em torno!

Se você pudesse escolher, o que ou quem você seria?

Voltaria eu mesma. Uma vida para mim é tão pouco. Já imaginou quantos livros eu não vou conseguir ler? Quantos banhos de mar não vou poder fazer?

Qual o seu bem mais valioso?

Minha saúde.

O que você considera como o seu mais profundo tormento?

Saber que sei de tão pouco e há tanto a saber…

Onde você gostaria de morar?

Onde estou hoje.

Qual a sua ocupação favorita?

Pensar e fazer conexões.

Qual sua característica mais marcante?

Intuição. Que me deixa maluca as vezes, porque os fatos vão em outra direção. Aí eu penso, ok, eles estão certos, eu não. E tudo muda. Fico louca! (risos)

Qual a qualidade que você mais gosta em um homem?

Honestidade nos sentimentos.

Qual a qualidade que você mais gosta em uma mulher?

Depende de qual mulher, mas das que eu conheço, a doçura que não serve a fins manipulatórios.

O que você mais valoriza nos seus amigos?

Sabem quem eu sou e continuam sendo meus amigos.

Quem são seus escritores favoritos?

Putz! Essa resposta pode ter o tamanho da Bíblia? Fico então só com o culpado da minha existência: Joseph Campbell.

Fundação: a trilogia de Isaac Asimov

Qual seu herói de ficção favorito?

Prefiro escritor: Isaac Asimov.

Quem são seus heróis na vida real?

O povo siriano (sírio) atualmente, por exemplo.

Quais são seus nomes favoritos?

Dharma, os budistas que me perdoem, mas usei como o nome de minha gata.

O que você menos gosta?

Não suporto os tupiniquins americanizados Kattiushya, Deividi, Maikelson e etc. Horror puro para a gramática portuguesa mas muito criativos, vamos combinar.

Como você gostaria de morrer?

Já pensei nisso então já fiz meu testamento. Se possível, consciente, celebrando. Numa praia, à beira do mar. Já deixei explícito que não quero terminar neste planeta em um horrendo e deselegante quarto de hospital. Nem que seja em Mônaco eu não aceito. (risos)

Qual é o seu lema?

Follow your bliss e enquanto isso, seja feliz. A primeira frase eh de Joseph Campbell e a segunda foi o que eu fiz enquanto seguia a primeira.

--

--