Iniciando agrofloresta

Dax Faulstich Diniz Reis
Florestinha
Published in
4 min readOct 10, 2017

Continuando na experimentação de usar a mente racional primariamente para compartilhar o aprendizado desta jornada de transição de um modo de vida essencialmente urbano para experienciar a simplicidade da vida em conexão com a natureza. Cresceu aqui dentro a intenção de “recuperar” a intimidade com o organismo Terra e isto me remeteu à agricultura sintrópica.

Este conjunto de práticas de manejo se fundamenta na dinâmica da vida na floresta. Seu uso proporciona melhoria na estruturação do solo ano após ano, tornando desnecessária a adubação com material externo no longo prazo.

O sistema de manejo agroflorestal já é apontado como a solução de longo prazo para alimentar os bilhões de pessoas. A energia nós recebemos do Sol. Ela junto com a água nos permite “gerar solo” para alimentar árvores que vão, em última instância, mudar o clima local, alimentar os animais e reforçar o fluxo de água para nossos lençóis freáticos e rios voadores.

Plantar florestas é plantar água.

Por isto montamos um SAF (Sistema Agroflorestal). Este será o nosso laboratório para penetrar no nível mais básico dos processos da vida, para aprendermos a “conversar” com as plantas, a “ouvir” os insetos e todas as formas de vida que coexistem no ecossistema.

Linhas de Árvore

O desenho e dimensões do terreno nos levou a optar pelo plantio em canteiros (linhas) com 80 centímetros de largura, 25 metros de comprimento e espaçamento de 40 centímetros entre as linhas.

Nosso SAF inicia com uma linha de árvore em cada quatro, ou seja, teremos três canteiros de horta separando duas linhas de árvore. A idéia é investigar qual é o mix de culturas que consorciadas (combinadas) conseguem produzir toda a matéria orgânica necessária para a sua sustentação.

Primeira linha de árvore! 7 Bananeiras (a cada 3,5m), 4 Acácias (a cada 1,75m), 7 frutíferas (a cada 3,5m) — Até o momento, de frutíferas, plantamos nele apenas 2 pés de graviola, 1 laranjeira e 1 abacateiro.

Nossas linhas de árvore terão espécies de crescimento rápido e que geram biomassa, como a bananeira, o eucalipto e a acácia, consorciadas com frutíferas e outras espécies de ciclo mais longo para produção de madeira daqui a 20 ou 30 anos como mogno africano e aroeira, plantados aos pés dos eucaliptos que permanecerão no sistema gerando biomassa para alimentá-lo até o momento em que as “grandonas” precisarem do espaço para se consolidarem.

Linhas de Horta

No espaço entre duas linhas de árvore montamos três linhas de horta, onde cultivaremos tudo o que adoramos comer. Bom. Quase tudo!

A melhor referência que encontrei sobre como consorciar diferentes espécies dentro do manejo agroflorestal foi este livro:

Clique aqui para baixar o livro em formato PDF.

Ele traz exemplos didáticos de “consórcios” que podem ser montados levando em conta a sucessão das espécies no tempo e o estrato que ocupam.

A tabela a seguir é um dos exemplos de consórcio básico que estamos pensando em montar otimizado para alface com renovação em aproximadamente 120 dias.

Tabela 10, página 147

Como estamos

Preparamos um primeiro módulo com aproximadamente 250 metros quadrados.

Inicialmente rocei o terreno acumulando a palha resultante em local próximo para posterior trituração e uso para cobrir o solo.

A seguir fizemos um mutirão com mais quatro pessoas que cavaram entre 20 e 30 centímetros de profundidade dentro de um retângulo com 25 metros de comprimento e 11,2 metros de largura. Nesta terra remexida administramos a seguinte adubação:

  • 120 quilos de Yoorin;
  • 2,5 metros cúbicos de esterco de gado; e
  • 1 metro cúbico de carvão moído.

No final do segundo dia de trabalho o terreno ficou assim, com toda a terra misturada, adubada e fofa:

Neste espaço preparamos nove canteiros com 25 metros de comprimento e 80 centímetros de largura. Enquanto escrevo este texto seis deles já estão cobertos e três ainda estão expostos como mostra a próxima foto.

Vamos triturar muito mais palha para cobrir todos os canteiros, inclusive os lados, bem como os caminhos entre eles.

A cobertura é muito importante. Escolhemos a palha triturada por ser um recurso abundante em nosso espaço e bastante adequado para esta finalidade. A cobertura protege o solo da ação do clima, evitando a perda de nutrientes e a erosão pela chuva. Um sistema bem coberto pode receber irrigação inclusive nos horários mais quentes do dia, pois a cobertura impede o potencial cozimento das raízes das plantas ao isolar termicamente o canteiro.

Nestes canteiros já começamos a semear as três linhas de árvore com as mudas de que já dispúnhamos. Percebi neste processo que a terra do canteiro exposto estava mais seca do que a dos canteiros que já dispunham de cobertura.

Em um próximo post compartilharei mais sobre as culturas que escolhemos para consorciar em nosso SAF. Inicialmente queremos cultivar rúcula, alfaces, brócolis, couve, tomate, milho, batata inglesa, batata doce, batata baroa ou mandioquinha, mandioca, beringela, cebola, cebola rocha, cenoura, cebolinha, salsa, manjericão, coentro, alho poró, beterraba e algumas outras coisas.

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