UNBOUND: SP - O início da transformação

SKEP
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12 min readNov 22, 2017

Como nós já contamos no nosso último texto, todo o trabalho de pesquisa nos levou até a UNBOUND, uma trilha de aprendizado coletivo focada em empreendedorismo. Hoje, o que queremos fazer é te contar um pouco melhor essa história. Isso, porque sabemos que muita gente se interessa em saber mais a fundo o que esses jovens viveram por 33 dias. Como é bastante coisa pra compartilhar, vamos organizar toda a informação em uma série de posts, por isso, continue com a gente até o fim, valerá à pena.

O encontro dos 10 selecionados para a trilha, teve início no dia 22 de Janeiro de 2017 na Pousada Jardim Paulista. Num primeiro momento, não houve nenhuma interação pessoalmente com a nossa equipe (o time da SKEP), apenas breves mensagens no whatsapp indicando para onde cada um deveria ir assim que chegasse à cidade de São Paulo. O suspense continuou presente quando enviamos as coordenadas do local que aconteceria o nosso encontro, poucas horas após a instalação de todos na pousada. Quando os 10 chegaram à Galeria 540, nós tivemos o nosso momento de alívio, acompanhado também da alegria de saber que algo incrível estava começando.

Naquela noite, apresentamos o guia que os acompanharia ao longo de toda a experiência, David Frenkel, sócio fundador da SKEP, e também o fotógrafo responsável por registrar todos os momentos marcantes que eles viveriam, João Toledo. Mostramos também as regras do jogo e criamos um ambiente que aproximasse aquelas pessoas que compartilhariam muitos momentos pelos próximos 33 dias através da apresentação dos ignites de cada pirata (o ignite é uma apresentação de 5 minutos composta por 20 slides de 15 segundos). As apresentações foram essenciais não só para quebrar o gelo, mas também para aplicar na prática os aprendizados que foram adquiridos através do curso de storytelling da FIAP, que os piratas completaram antes do início da trilha.

Agora, estava tudo pronto para a UNBOUND começar pra valer.

A primeira atividade a gente não esquece

O início não poderia ter sido melhor, apesar do desafio que estava presente. O nosso desafio era criar uma conexão profunda para que aquelas pessoas pudessem se entregar ao processo que havíamos desenhado. Por incrível que pareça, o sentimento de pertencimento foi gerado muito mais rápido do que a gente imaginava que aconteceria.

O anfitrião e corresponsável pela primeira atividade foi o Marc Kirst, do PROVE. Foi o início perfeito para trazermos aos piratas uma reflexão profunda sobre eles mesmos, o poder das suas intenções e propósitos e dos seus papeis na sociedade, como indivíduos e como coletivo.

Ao longo de toda a trilha, fomos convidados a exercitar o nosso senso crítico, a valorizarmos a nossa autenticidade, nossa unicidade, e a liberdade de escolha que temos de extrair o melhor de nós mesmos e de cada momento que vivemos. Sempre comprometidos com nossos propósitos e conscientes de que a nossa visão de mundo e a daqueles que estão a nossa volta, definem a realidade que criamos.

Vivemos 2 dias intensos de autoconhecimento, reflexões profundas e emoções à flor da pele junto com cada um dos piratas. Com isso, reforçamos o senso de coletivo do grupo que ali se consolidou. Um dos momentos mais emocionantes se passou debaixo da chuva intensa que surgiu durante a conversa de encerramento da primeira atividade com o Marc, no pequeno jardim da Casa Samambaia . Apesar da chuva gelada, nós permanecemos abraçados em um círculo, conectados pelo olhar e respiração e pelos braços que serviram de apoio para quem estivesse ao lado, enquanto realizamos o nosso primeiro check out. O check out é uma prática consolidada na SKEP e serve para criar conexão entre os envolvidos através do compartilhamento de sentimentos verdadeiros. Nesse momento, surgiu uma relação de amizade e confiança entre aquelas 13 pessoas (os 10 piratas, o guia, o fotógrafo e o Marc). Quando paramos para refletir, percebemos que é muito difícil que a expressão dos sentimentos faça parte da nossa vida, pois é um momento de grande vulnerabilidade. Mas, é a vulnerabilidade que permite a verdadeira conexão, o respeito e a admiração entre as pessoas.

Ninguém poderia imaginar que os piratas se permitiriam alcançar, em tão pouco tempo, uma conexão tão profunda e verdadeira. Já no primeiro dia ficou evidente uma faísca de toda a transformação que estávamos começando a viver.

Em meio as voltas pela Avenida Paulista, misturadas com a descoberta de uma “outra São Paulo” repleta de arte e música de rua, tivemos os primeiros momentos de confraternização e tomadas de decisão como equipe, além da realização das primeiras missões.

Missão Smart Fit

A conexão não poderia se expandir apenas aos outros, mas também com o eu físico de cada pirata. Por isso, nos reunimos na Smart Fit , onde demos início ao desafio de incorporar na nossa rotina, o condicionamento físico e o cuidado com a saúde. Metas pessoais foram estabelecidas, teve “começar a fazer academia”, “criar o hábito de fazer 1 hora de exercícios por dia”, “parar de tomar refrigerante” e “reduzir o fast-food”.

Na noite de encerramento de cada atividade, o grupo se reunia para o momento de “lições aprendidas e consolidação da atividade”, momento importantíssimo pra cada um, que em silêncio e no “free fall writing” (escrita livre de tudo que vem à mente), expuseram no papel tudo aquilo que estavam sentindo em termos de aprendizado adquirido e intenções de aplicação na vida, traçando inclusive Metas S.M.A.R.T relacionadas a estes objetivos.

Contato com o setor público

Voltamos à Galeria 540, mesmo local em que ocorreu o “momento do alívio”, para nos encontrarmos com o Ivan Boscariol, do EloGroup, que imergiu com os piratas no Gov.Lab. A experiência foi customizada para que os 10 jovens compreendessem o contexto e o cenário do setor público, ou seja, para gerar uma aproximação diferente da que estamos acostumados a ter com esse setor.

Os participantes trouxeram novos questionamentos a partir da ótica do setor em discussão, pois puderam compreender melhor o seu funcionamento . Como uma provocação, Ivan exemplificou as soluções de problemas do setor com iniciativas empreendedoras que impactam em um ambiente que pertence e é da responsabilidade de todos. O que permitiu uma nova vivência a todos, dirigindo-se contra o que estamos acostumados, que é acusar o que está errado e quem são os responsáveis: administração pública, estadual ou federal. Ao contrário do que a maioria faz, os piratas se posicionaram no papel de cidadãos. Ou seja, assumiram também as suas responsabilidades, a “mudança de chave” do posicionamento teve um rápido e incrível impacto na conscientização dos piratas a respeito do setor público. Felizmente, a excessiva geração de questionamentos por parte deles se repetiu em todas as atividades da UNBOUND.

Para entendermos mais sobre como a máquina pública funciona e impacta a todos, assim como a impactamos, foi essencial o período em que ocorreu o embasamento teórico, introdução e evolução de noções de história e geopolítica, assim como a exemplificação de iniciativas empreendedoras de impacto na melhoria dos serviços públicos. Isso sem falar das atividades práticas, que permitiram ao grupo exercitar sua capacidade de propor soluções para problemas reais como, Ensino Fundamental e Mobilidade Urbana.

Usamos cases de referência, Canvas e outras ferramentas apresentadas para que os piratas elaborassem um plano de ação, o qual foi desenvolvido pelas três equipes de trabalho que foram criadas. Essas equipes saíram às ruas para entrevistar pais de alunos matriculados ou formados na rede pública de ensino fundamental, para entenderem a percepção que essas pessoas tinham sobre esse serviço.

As equipes aprenderam com a diversidade etnográfica da Avenida Paulista, ouviram relatos de pais preocupados com a qualidade da educação de seus filhos, porém sem muitas alternativas de engajamento e participação na construção de uma escola pública melhor.

Os piratas também cocriaram soluções para o sistema de transporte e mobilidade de uma metrópole, e por fim, relaxaram com um bate papo descontraído, mas quase inexistente no dia a dia: política no Brasil e mundo. O nível de maturidade e civilidade no debate, respeito aos posicionamentos opostos e às visões complementares, fez com que acreditássemos ainda mais que a geração dos Millennials é parte muito importante de toda transformação que almejamos.

O que mais estava por vir?

Os piratas já estavam com as malas prontas para viajarmos pela primeira vez juntos e eles não faziam ideia de qual era o destino da van (como dissemos antes, cada detalhe foi desenhado com carinho para que não houvesse spoiler do que estava por vir).

O elemento surpresa gerou uma imensa curiosidade, um frio na barriga e muita diversão do início ao fim da viagem. Quando chegamos em Campos do Jordão, estacionamos em frente a um hotel colonial. Pronto, isso foi o suficiente para inflar as expectativas dos piratas. Logo começaram os comentários do que seria feito: noites de queijos e vinhos, piscina, quartos de hotel confortáveis e sessões de Netflix.

Enquanto o foco dos piratas estava no hotel colonial que esbanjava conforto, a base da nossa próxima aventura estava do outro lado da rua. A casa da Outward Bound Brasil (OBB), onde os instrutores já aguardavam por nós para darmos início a 04 dias de um programa de sobrevivência na selva (muitas horas de trilha em mata fechada, acampamento em barraca, sem banho, sem banheiro e dias de superação física, mental e emocional).

A primeira noite na base da OBB mudou a responsabilização dos piratas com aquilo que eles utilizavam, pois na Pousada a dinâmica era de café da manhã com tudo já preparado e camareira. Já em Campos do Jordão, se tornou algo como “vamos cuidar do nosso próprio espaço e nos fazer responsáveis pelo bem estar coletivo”. Nesse momento, em que cada um dos membros devia tomar mais ação e ser mais ativo no dia a dia, os comportamentos individuais e a preguiça vieram à tona. Era normal que esse tipo de coisa acontecesse, afinal todos nós passamos por esses momentos e nada melhor do que as pessoas se entregarem ao processo e serem as mais autênticas possíveis.

A fim de realizar uma experiência incrível com os piratas, a equipe da OBB deixou muito claro desde o início como conduziria o processo. Regras de respeito e de boas práticas para o melhor convívio foram delimitadas e isso trouxe a estrutura necessária em termos de conhecimento e segurança. Contudo, isso também deixou o grupo livre para aprender de forma fluida, a partir de seus próprios erros e acertos , e assim eles colocaram a “mão na massa” e trabalharam em equipe.

Todos já estavam empenhados na organização do café da manhã, na organização das mochilas e na limpeza da base da OBB. Somente após a validação por parte da equipe da OBB, daríamos início a nossa trilha.

Local: Serra da Mantiqueira — Campos do Jordão — São Paulo
Sentido: Pico do Diamante

Os instrutores Zara, Fabi e Fisch, desde o início orientaram para que aprendêssemos o necessário para termos a capacidade de executarmos uma boa navegação naquele terreno novo e desafiador pra todos nós.

A caminhada foi cansativa, e por mais que estivéssemos nos exercitando na Smart Fit, percorrer um trajeto com uma mochila de 10kg-12kg nas costas, era um novo desafio que nem todos estavam acostumados e/ou preparados para enfrentar. A chegada ao destino resultou em novas tarefas, pois precisávamos ainda definir o local para acampamento, executar a montagem de toda a estrutura, receber a aula de “como ir ao banheiro” e preparar o nosso primeiro jantar no fogareiro embaixo da tenda que delimitava a área de cozinha. A primeira noite de sono nas barracas foi marcada pela possibilidade de uma tempestade se aproximar do ponto de acampamento, pela experiência de dormir em um saco de dormir, mas também pela descoberta de que somos mais capazes do que nós mesmos acreditamos.

Com o acampamento montado, começamos a entender porque o programa da OBB é muito mais do que só uma aventura no meio da selva. Criou-se ali uma zona da aprendizado, onde falamos com profundidade sobre o medo do conflito, relações baseadas em verdade e transparência, técnicas de feedback praticados em grupos e organizações, componentes importantes na relação da fala e escuta ativa e a importância de se criar essa cultura do feedback saudável, com todos os cuidados que a prática requer.

Segundo dia em campo

Para darmos início ao segundo trecho da trilha, recebemos uma aula de mapa & bússola (navegação em terra), pois somente a partir dessa instrução que teríamos capacidade de chegar ao nosso próximo acampamento, onde passaríamos a noite.

Além da capacitação dada aos piratas, tivemos que definir os papeis de cada membro. Neste momento, os instrutores permaneceram apenas observando e facilitando o processo a partir dali. Até a chegada ao destino, superamos quatro horas de trilha (com trechos íngremes, escorregadios, em meio à mata fechada e rio). Esse trecho foi o mais intenso, o que gerou ao grupo o aprendizado de que é muito importante que cada um identifique e tenha a capacidade de assumir a liderança em diferentes momentos (liderança dinâmica).

A chegada ao topo da montanha “vizinha” ao ponto de origem foi muito gratificante e gerou um sentimento de superação individual e de evolução e transformação daquele “grupo de amigos” em uma verdadeira equipe. Eu, David, tive o papel de acompanhá-los, observá-los e trazer a eles provocações que estimulassem o melhor de cada um. E diante disso, surgiram alguns destaques durante a trilha.

Navegação durante a trila: Marcella, Pablo e Vitor
Apoio e suporte para aqueles com mais dificuldade para a travessia: Adams, Douglas e Matheus
Comunicação entre o grupo: Camila e Isabela

“Assim como no jogo, assim como na vida.”

O desafio de manter a calma aumentava a medida que nos aproximávamos do ponto de destino: “nós estamos perdidos, né?”, “vocês tem certeza que tinha esse rio no mapa?”. A chegada ao ponto final estava a pelo menos uma hora de distância, e como agravante, neste último trecho o grupo se perdeu dos instrutores.

Do momento de incerteza aflorou uma relação caótica nos processos de tomada de decisão do grupo, o que tornou o clima menos harmonioso e tranquilo, diferente de quando o risco era muito menor. A incerteza na tomada de decisão que antes era “será que vamos comer na praça de alimentação do shopping ou vamos pra uma pizzaria”, ganhou um nível de relevância e impacto no físico-emocional dos piratas de forma muito mais significativa. Neste momento, prevaleceram os gritos, divergências pessoais surgidas a partir da incerteza: “eu acho isso” contra o “eu acho aquilo”.

O clima de insegurança privou os piratas de acessarem aquilo que eles haviam aprendido e discutido horas antes, a importância da análise estratégica da situação e utilização das ferramentas (mapa, bussola, técnicas aprendidas) para uma tomada de decisão assertiva e coesa. Alguns focaram em definir suas próprias estratégias para o grupo prosseguir, outros preferiram confiar que estavam na direção certa, poucos optaram por seguir o caminho sendo passivos no conflito ou “fingir que não estavam ali”.

Aquela situação foi um “tapa na cara” de uma equipe que 01 hora antes se considerava totalmente estruturada e inabalável, mas acima de tudo, ela proporcionou um gigantesco aprendizado sobre as relações humanas e comportamentos sociais, em todos os seus níveis.

A conquista, o orgulho de chegarmos ao acampamento sãos e salvos, o momento de reflexão de quando todos cantavam juntos nas pedras, a admiração e observação da cachoeira, e mais tarde, o preparo do jantar que contou com o envolvimento pró-ativo de todos. Nesta atividade, tivemos a consolidação mais preciosa que poderíamos ter e que nos ajudou a trazer clareza de tudo que vivemos naqueles dias, os aprendizados uns com os outros, e sobre nós mesmos. A consolidação ocorreu ao redor da nossa “fogueira de led” antes de passarmos a última noite embrenhados na Serra da Mantiqueira (a proposta da OBB é que todas as vivências sejam o menos impactantes ao meio ambiente, por isso não faria sentido utilizarmos madeiras para fazer uma fogueira artesanal).

E como proposta da Trilha UNBOUND — Empreendedorismo na Veia, o grupo só veio a descobrir depois, que os instrutores tinham “se perdido” do grupo, propositalmente. O objetivo foi de nos expor de forma integral para colocarmos na prática os conhecimentos que havíamos obtido das suas instruções. Tudo isso, imersos pelo medo, stress, nervosismo e apreensão. Ou seja, como lidamos com o mental em meio a um turbilhão de emoções e sentimentos.

Viver aquilo foi o grande aprendizado e início de uma transformação ainda maior.

São Paulo não terminou por aqui.

Continue com a gente para saber a continuação dessa história ;)

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