A poderosa combinação entre Design Thinking e Agile

Juliana do Vale
7 min readFeb 19, 2018

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No dia a dia de uma empresa, rapidez e assertividade são premissas importantes para se ter sucesso.

Reprodução Google.

No dia a dia de uma empresa, rapidez e assertividade são premissas importantes para se ter sucesso. Caso contrário corre-se o grande risco de um concorrente, às vezes nem imaginado, lançar uma ideia muito parecida antes e acabar se consagrando como precursor dela ou, ainda, perde-se o momento e em um piscar de olhos a ideia se torna obsoleta.

O grande problema é que até pouco tempo as empresas não tinham essa capacidade. Passava-se anos desenvolvendo um produto e pensando nos seus mínimos detalhes para só depois lucrar ou não com ele. Ou seja, era muito investimento em uma incerteza.

Meu primeiro contato com Agile

Esse cenário, que acabei de descrever, era basicamente o que acontecia em uma empresa que trabalhei anos atrás. Tínhamos um produto obsoleto, uma equipe nada rápida, muitas ideias geniais e nada implementado.

Foi então, que um dia, me pediram ajuda para criar um MVP (Minimum Viable Product) de um novo produto.

Caso você ainda não conheça, o MVP consiste em desenvolver o mínimo possível de um produto, mas que possua uma entrega funcional e que, de alguma forma, o cliente perceba o seu valor. Mas, entregar valor através de uma solução simples é muito mais complicado e requer mais tempo de pesquisa e planejamento, o que "casava" muito bem com as minhas atividades como Designer de Interação e o meu conhecimento em Design Thinking.

Um tempo depois, me chamaram pra uma sala e falaram "Ju, vamos utilizar Scrum para o desenvolvimento desse projeto e agora você é a PO (Product Owner), sua responsabilidade é assegurar que o MVP seja entregue na data X". Ninguém me explicou o que era Scrum e nem por quê utilizá-lo, foi apenas mais uma decisão top down. Mas, já que era para fazer assim, assim foi feito.

De início parecia muito apropriado, mas com o tempo o time começou a perceber que o Scrum e todas as suas cerimônias já não faziam mais sentido e, por conta própria, adaptamos o processo para que ficasse do “nosso jeito”.

O tempo foi passando e por curiosidade comecei a procurar mais informações sobre o tal do Scrum. Foi então que descobri que ele era um tipo de metodologia (existem outras) muito utilizada para times que querem ou precisam se tornar ágeis, ou seja, ele ajuda a fomentar a mudança e, querendo ou não, a mudar o mindset do time. Ou seja, após menos de 1 ano utilizando o Scrum, o time realmente se tornou ágil e, sem querer, acertamos que era a hora de adaptar.

Esse meu trabalho como PO acabou pouco tempo depois da equipe ter atingido sua maturidade, mas, o mais legal é que a equipe estava tão entrosada que todas as decisões eram tomadas em conjunto e muitas vezes nem era preciso desenhar um wireframe ou um layout, sentávamos lado a lado e víamos as coisas acontecendo na hora.

Incorporando o Design Thinking ao Agile

Design Thinking é um conjunto de métodos e processos prático-criativos (clique aqui para ver mais detalhes), ele ajuda a fomentar o mindset do Design através da utilização de ferramentas para o levantamento de informações, análise de conhecimento e proposta de soluções centradas no usuário.

Gosto de aplicar aos meus projetos o processo do Double Diamond. Existem outros processos, mas nos meus anos de experiência, notei que para trabalhar com times de desenvolvimento ele ajuda a mostrar quais são os momentos certos para divergir de convergir, assim todos se sentem mais à vontade para deixar a imaginação fluir sem pensar em limitações tecnológicas.

Processo de Design que costumo aplicar aos meus projetos.

Quando o time envolvido no projeto já possuí mindset ágil, fica muito mais fácil implementar um processo de Design cocriativo pois o ambiente já é tipicamente colaborativo, críticas e sugestões são bem vindas, soluções já são discutidas em conjunto, etc. Então, a única "diferença" é incluir o Design Centrado no Usuário através das práticas e ferramentas que encontramos no Tool Kit do Design Thinking. Aliás, quando um Designer é inserido em um time ágil e não entra na "onda" das interações constantes, com toda certeza será mal visto ou até mesmo ter suas sugestões rejeitadas.

Agora, quando o time não é nada ágil, o próprio Designer pode tomar como parte do seu processo práticas que compõe as metodologias ágeis para que todos sintam o "gostinho" do quão melhor as coisas fluem.

Design Thinking e o Manifesto Ágil

Se você ainda não ouviu falar, existe um Manifesto Ágil que descreve um conjunto de boas abordagens para times de desenvolvimento, e comparando com as premissas do Design Thinking, temos:

Comparativo entre o Manifesto Ágil e as premissas do Design Thinking.

Note como os itens se "conversam" entre si. Mas, pra você entender melhor, vou esmiuçar…

1- Comunicação

Ambas as frases trataram de comunicação. Quanto mais as pessoas conversam face a face, menos ruídos impedem o entendimento total das decisões tomadas.

Aproveito esse momento para deixar uma reflexão pra você…

Analise o gráfico abaixo que compara os meios de comunicação com a sua eficiência. Caberiam outros meios, mas tente mapear quais são os formatos que você mais utiliza e onde eles podem se encaixar. E depois pense… será você está se comunicando da forma correta?

Outra coisa muito importante neste tópico é que quando as pessoas interagem mais, as decisões acabam sendo partilhadas e, consequentemente, aceitas com maior facilidade.

2- Mão na massa

Quando há comunicação constante, a necessidade de documentações é drasticamente reduzida. Não significa inexistente, mas significa que o detalhamento será mais abrangente e existirá mais tempo para "gastar" com coisas mais importantes, terá mais espaço para analisar problemas pontuais e mais oportunidades para usar a intuição pois nada mais estará "escrito na pedra", e assim as modificações no meio do caminho poderão acontecer para agregar maior valor ao projeto.

3- Cocriação

Aposto que você já passou por alguma situação onde após entregue um projeto ou cliente não gostou do resultado, ou a solução não foi aderente aos usuários, ou depois de tanto tempo a necessidade mudou e lá se foram horas e mais horas de trabalho te trazendo uma enorme refação.

Para que isso não aconteça é "só" trazer o cliente e os usuários para dentro do projeto. Porque, pense comigo, se você desse um bolo de dinheiro pra uma empresa construir uma solução, o que te faria confiar nela? Ver o resultado dali 3 meses (ou mais) sem uma notícia?

Trazer o cliente pra dentro do projeto transmite não apenas mais confiança, mas também a certeza de que o que está sendo feito, vai atendê-lo. Afinal, ninguém melhor do que ele pra decidir o caminho que deverá ser trilhado, mas esse caminho só será assertivo se, de alguma forma, for capaz de atender as necessidades dos usuários dessa solução.

E aqui cabe uma coisa que eu costumo falar sempre:

Nós, profissionais que projetamos produtos, criamos necessidades. Pense no seu smartphone, você viveria sem ele? Provavelmente não e aposto que é por causa da internet, mas houve uma época que não tínhamos essa necessidade. Porém, um dia, alguém muito esperto inventou o "demôninho" da comunicação que habita nossos bolsos e hoje somos escravos dele porque percebemos que ele é capaz de nos ajudar a resolver muitos dos nossos problemas.

"Se eu perguntasse a meus compradores o que eles queriam, teriam dito que era um cavalo mais rápido." Henry Ford

Ou seja, os usuários não sabem exatamente do que precisam e, para conseguirmos criar essa necessidade precisamos entendê-lo, segui-lo, stakeá-lo e tudo mais que for preciso.

4- Adaptação

Quando temos feedbacks constantes, interações e cocriação, nos deparamos com mudanças que podem ser extremamente necessárias e que não podem esperar muito tempo para acontecerem.

A grande sacada de times que estão preparados para a mudança é possuir profissionais com a mente aberta para novas ideias e engajados em fazer a "coisa" acontecer. Isso não significa refação, significa errar rápido para acertar rápido com menor investimento. Isso é saudável e é cada vez mais necessário para que uma ideia não se torne obsoleta, ou que um corrente lance ela com antecedência, ou de perder o momento certo.

Conclusão

Chego ao final desse artigo um pouco preocupada por ter misturado conceitos de mais e ter aprofundado de menos, mas você conseguiu perceber que passamos rapidamente por Experiência do Usuário, Usabilidade, Agile, relacionamento com o cliente e até de estratégia de negócio?

Talvez você precise de mais tempo ou experiência para digerir tudo isso. Então, leia mais, pratique mais e tenha menos medo de expor o que acha sobre tudo aquilo que experimenta.

Se quiser uma ajudinha, clique aqui e entre em contato comigo pelo Linkedin e vamos trocar uma ideia.

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Juliana do Vale

Me chame de Ju. Sou Design Manager no iFood, lidero equipes de design a quase 10 anos e aqui você vai encontrar dicas sobre carreira e liderança em design.