Anões — A Dádiva da Terra

Pedro Coimbra
Skyfall
Published in
8 min readFeb 1, 2019

“Realmente, é de fazer o coração parar no peito. Nunca achei que ver uma Diáspora fosse algo tão emocionante. Famílias inteiras de anões saindo de uma cidade e indo rumo ao desconhecido. Essa deve ser a pior das Melancolias — ver tudo que construiu se transformando em pó…” — trecho dos diários de Harold, andarilho errante.

Pré-História Anã

O povo anão está enterrado no pó de seus desejos e vontades — e a culpa não é deles. A história do povo anão é uma das mais diretas e bem documentadas — sem contar que alguns anões vivem em torno de seis centenas de anéis, o que torna o ato de passar informação a frente mais fácil.

Tudo começou quando a divindade Vida começou a experimentar com suas criações. Os anões estavam entre as primeiras. Caminhavam pelos vales caçando, coletando e principalmente forjando um futuro brilhante. Mas isso causava inveja nos Seraphs, formas angélicas subjulgadas a vontade da Ordem. No fim, os anões eram apenas mortais — mas eram livres: algo que os Seraphs nunca seriam de fato.

Os anões construíram uma enorme fortaleza e nomearam-na Noá — uma homenagem a divindade Terra, patrona dos anões e amante da Vida. Por centenas de anéis eles desenvolveram sua rica cultura nesta enorme cidade, até que a inveja e a ira dos Seraphs a condenou ao fim.

Sabe-se apenas que Ashut, um Seraph, desceu dos Palácios Celestes e destruiu o portão de entrada da cidade. Ashut foi banido para os 11 infernos por sua ação, mas já estava feito e condenado: Noá seria invadida por hordas de diabretes oportunistas que cresciam na sombra da grandiosidade anã.

A Terra estava impedida de intervir diretamente no conflito, mas vendo seus afilhados sofrerem ela abriu um enorme túnel para salvar alguns anões do massacre certo. Em seguida, ela fechou os túneis com uma série de buracos sem saída e Salas mágicas, com ajuda da Arquiteta (alguns exploradores dizem que encontraram as entradas para Noá no Deserto de Mirmir, mas pode ser apenas uma lenda).

Aqueles poucos que sobreviveram ao massacre começaram a construir uma nova cidade, agora debaixo dos olhos cuidadosos da Mãe Terra. NoáTorá era uma citadela esplêndida e grandiosa. Mas então algo aconteceu na superfície, e a Vida (mãe dos anões) morreu.

NoáTorá — A Segunda Cidade Anã

Aquele povo criativo e valente foi enlouquecendo e perdendo sua mente para o delírio e sede pelo ouro. A Terra, então, agiu como suas irmãs e resolveu tomar esta dádiva em seus braços amorosos. Os anões estavam a salvo…por enquanto.

Séculos se passaram e NoáTorá estava no ápice. Os anões eram ricos e estavam protegidos do caos da superfície. Eles não contavam que o perigo poderia estar lá, debaixo da terra… aguardando o momento certo.

A septuagésima-sétima divisão de escavação já estava cavando por 3 ciclos sem parar. Jormü foi quem encontrou o ovo. O anão nunca havia visto algo parecido. Um enorme ovo avermelhado que transformava rochas próximas em lava. Algo majestoso. E obviamente foi tomado pela curiosidade e tocou no ovo.

Jormü se tornou o primeiro Dragão Vermelho da Nova Alvorada, acordando os poderes dracônicos dormentes no ovo. O jovem anão já não era mais o mesmo — ele havia absorvido todo o conhecimento dracônico e tinha apenas um plano em mente: ir para a superfície e acordar seus irmãos e irmãs adormecidos. O problema? A cidade de NoáTorá estava no caminho.

O Cerco de Jormü

O recém acordado dragão vermelho não estava perdendo tempo, e logo iniciou o cerco a cidade de NoáTorá. Os anões se defendiam como podiam, mas todos os dias perdiam muitas tropas para os sopros dracônicos e os poderes arcanos desconhecidos daquela criatura. Só havia uma saída: usar dos túneis originais da mãe Terra para subir a superfície e começar uma fuga.

Os anões escavaram por vários ciclos seguidos enquanto eram atacados pelo Dragão Jormü, mas a superfície se mostrou um problema igualmente ferroz. Eles acabaram por sair no centro da última cidade dos Gigantes, Lolk a Pu. Os gigantes começaram a atacar os anões pela superfície, usando o túnel como funil. Os anões se viam presos entre os ataques de Jormü e da cidade de Lolk a Pu.

Pölm Po, Língua Certeira era um diplomata anão acostumado a lidar com os Povos Subterrâneos, e foi escolhido para tentar negociar com Jormü. Foram 3 dias de negociação com o Dragão para chegar em um acordo. Jormü concordou em poupar metade da população anã, transformando a outra metade em seus súditos. Esses súditos do Dragão Jormü foram os primeiros Duergar.

Pölm concordou, e o Dragão atravessou a cidade de NoáTorá com seu exército de milhares de anões. Na saída, ele abriu um buraco enorme para a superfície, e antes que os anões pudessem usá-la como saída Jormü informou Kouokk ka Ka, líder dos últimos gigantes sobre os planos dos anões.

NoáTorá foi destruída em uma noite de ataques certeiros por múltiplos frontes. Os últimos gigantes de Opath atacavam como uma colméia, graças a seu psionismo natural que permitia que todos compartilhassem uma mesma consciência. Os anões, entretanto, foram astutos e criativos.

Kälima, a Valente aproveitou a sede por sangue dos gigantes para causar um ataque certeiro e fulminante. Ela deixou-se capturar e foi guiando os gigantes para que a levassem para próximo de Kouokk ka Ka, líder dos gigantes. Ela usou seus conhecimentos Ocultistas para entrar na mente do líder e ordenar que todos cometessem suicídio nas lâminas de seus companheiros. Com apenas um ataque Kalima exterminou os últimos gigantes de Opath, mas o preço foi alto.

Kouokk amaldiçoou os anões que acabaram com a última linhagem de Gigantes de Opath: tudo que os anões construíssem, forjassem e amassem seria reduzido ao pó. Esta é a Melancolia dos Anões.

Törmund — Cidade dos Ourives

Os anões começaram a se enterrar em pó. Tudo que construíam, forjavam ou amavam era reduzido ao pó. Famílias inteiras sumiam debaixo de acidentes em minas. O futuro no subterrâneo era incerto. Törmund III, o Visionário, foi o rei anão responsável pela Diáspora para a superfície.

Milhares de anões (os últimos de Opath) migraram para a superfície e fizeram seus acampamentos próximos da base das Thur Thur — as Colinas Verdes próximas de Alberich.

Os acampamentos se transformaram em vilas. As vilas em cidades. As cidades em um reino. Törmund era a última capital dos anões em Alberich e foi construída ao longo de muitos anéis. Sua construção foi um sucesso e nenhum anão morreu no processo — eles acreditavam que estavam livres da Melancolia.

A capital era magnífica, uma verdadeira obra de arte. O ouro, diamante e outras jóias esbanjavam riqueza, cultura e progresso. Törmund era a capital mais rica de Opath, e os anões um povo feliz. Finalmente eles estavam retornando ao seu brilho merecido. Eles brilhavam como as mais raras jóias, colorindo as ruas de sua capital com os mais diversos tons e raios de luz.

Até que veio a Segunda Grande Queda.

A ilha que caiu dos céus e destruir Törmund também levou consigo as Colinas Verdes, o Bosque Nevado e a Praia da Armação. Mais da metade da população anã foi morta com a queda, detritos e catástrofes naturais decorrentes do efeito de uma enorme ilha caindo dos céus e colidindo com a terra. Era o fim dos anões.

Os poucos que sobraram ficaram sem casa. Sem família. Sem clã. Sem história. Törmund afundou em terra.

A Diáspora — Os anões de hoje em dia

Os anões acreditam que não são dignos de felicidade. Que não merecem cidades para chamarem de suas. Que não devem amar ou se aproximar de outros. Eles sabem que tudo que vão tocar vai virar pó — a Melancolia tarda, mas nunca falha.

Isso leva muitos anões a realizarem Diásporas — uma enorme quantidade de famílias de anões que mudam de cidade para cidade a cada um ou dois Anéis. Essa movimentação constante garante que eles não façam vínculos afetivos em cidades.

Mas existem alguns que desafiam essa Melancolia. Alguns anões atingiram o status de artesões, artistas e arquitetos de enorme renome. Suas obras de arte são verdadeiros marcos históricos, e a Melancolia não parece afetá-los. Quer dizer… sempre afeta. Ela tarda, mas nunca falha.

Todos esses artistas que desafiaram a Melancolia morreram sozinhos, doentes e amargurados. É uma questão de tempo até que todos os anões se afundem no pó daquilo que tentam cultivar…

O Subterrâneo — Refúgio e Destino

Todos os anões seguem o chamado Código de Törmund. Ele determina que todos os anões precisam realizar serviço de escavação obrigatório por 10 Anéis ao atingir a maturidade. Ao fazer isso, o Anão entra para uma Divisão de Escavação.

Todo anão faz uma tatuagem em seu rosto ao começar o serviço com o símbolo de sua divisão. Existem 99 Divisões — cada uma com um símbolo diferente.

Além disso, quando o anão termina seu serviço obrigatório, ele precisa retornar para o local onde nasceu e se despedir de qualquer familiar que ainda esteja naquela cidade. Ele faz isso cortando sua barba e a enterrando próximo do local onde nasceu. Ao terminar isso, ele precisa fazer uma tatuagem no pescoço com o símbolo de sua família. Essa é uma forma de representar seu respeito por seus antepassados e também a forca sempre-presente apertando seu pescoço — o anão não poderá nunca voltar a desenvolver laços familiares por correr o risco de colocá-los em perigo.

Anões Aventureiros

Anões são aventureiros natos. Eles tem pouco apreço pela própria vida e estão sempre dispostos a se sacrificar por um bem maior. “Tudo que fazemos pode virar pó, mas nossos nomes ficarão para sempre marcados na história. Ninguém vai tirar isso de nós”. É comum que um anão repita essas palavras ao fazer algo arriscado.

Como os anões se mudam muito, eles preferem guildas que os deixem livres para atuar como freelancers. No fim, eles procuram a liberdade por não ter outra opção. Eles são forçados a viver livres…

Se você curtiu o texto dá uma olhada no projeto Skyfall RPG.

Queremos produzir uma série de RPG ao vivo nesse mundo fantástico e precisamos de ajuda para atingir o nível de produção desejado.

Uma das recompensas do projeto é um Livreto de Cenário, com informações como esse artigo!

#verymuchwe

--

--

Pedro Coimbra
Skyfall

Educador e Produtor de Conteúdo de Tabletop Gaming.