Por que os cabos HDMI não são todos iguais

Willian Stigliani
Smart Home Insights
4 min readOct 26, 2016

Você já deve ter ouvido a frase "não existe diferença entre um cabo HDMI barato e um caro, pois se tratando de um sinal digital, todos os cabos são iguais". Apesar de existir um fundo de verdade, esta generalização acaba sendo um pouco insensata, pois pode esconder alguns dos eventuais problemas do sistema.

Para entender melhor a armadilha por trás desta proposição, é preciso olhar um pouco no passado. Veja o gráfico a seguir. Ele mostra a relação entre qualidade da imagem e o comprimento de um cabo de vídeo analógico qualquer. Sem muito esforço, é possível notar que quanto mais longo o cabo, menor a qualidade potencial da imagem, e desta forma, torna-se evidente que um cabo de melhor qualidade (com bons condutores, blindagem superior…) terá uma performance melhor. Mas o interessante mesmo é que ainda que a atenuação e ruído no sinal sejam grandes, o display, no geral, continua a exibir imagem — mesmo que em uma qualidade ruim.

O vídeo digital se comporta de uma maneira diferente: ainda que o comprimento do cabo aumente, a imagem exibida aparenta ser perfeita ao olho humano, até um certo comprimento. Após este comprimento, a exibição é subitamente interrompida. Isto é devido ao chamado cliff effect. Este efeito descreve a interrupção abrupta da reprodução de um sinal, que ocorre quando o limiar mínimo de qualidade (ou a máxima taxa de erros de transmissão) é atingido. Neste limite, o receptor é incapaz de recuperar a informação perdida durante a transmissão, e assim, a imagem some.

Ambos os cabos renomados e os modelos mais simples seguem o mesmo comportamento — afinal de contas, a Física é uma só, e leis são leis. Então por que pagar mais por um cabo se o resultado final será o mesmo?

Existem diferenças que o olho humano não é capaz de detectar. Veja a imagem abaixo. É o chamado de 'diagrama de olho' de um sinal. De uma maneira simples, o trançado roxo representa o sinal propriamente dito, e as linhas vermelhas, os limítrofes do meio de transmissão. O objetivo é que o sinal trafegue ao redor da máscara sem tocá-la.

Note à esquerda, como as linhas do sinal são densas e robustas. Note como há uma boa distância da máscara no centro. Estes indicadores representam um sinal forte e com pouco ruído — o sinal transmitido por um bom cabo HDMI. Agora, veja a imagem à direita: o sinal é mais esparso (as linhas são mais grossas), e a distância ao redor da máscara central é reduzida, chegando mesmo à tocá-la em alguns pontos. Um cabo HDMI de qualidade duvidosa produz este tipo de gráfico.

Vários fatores influenciam na formação de um diagrama de olho satisfatório, como a construção do cabo, a qualidade dos condutores, a eficiência da blindagem, o nível de ruído externo… Embora a maioria destes fatores esteja fora de controle, dois deles podem estão relacionados às condições de instalação: o nível de atenuação do sinal e a quantidade de tráfego.

O nível de atenuação do sinal está relacionado ao comprimento do cabo: quanto maior o cabo, maior a atenuação. Simples assim. É por esta razão que cabos de maior comprimento tendem a ser mais grossos, ou utilizar algum tipo de tecnologia ativa (um chip) para regenerar o sinal no destino. E é também por esta razão que vale a pena colocar mais uns trocados em um bom cabo HDMI caso a idéia seja passá-lo por dentro da parede: quem já o fez sabe o trabalho que dá para colocá-lo; eu nem vou falar sobre tirar! Já a quantidade de tráfego se dá pelas características do sinal transmitido, mais precisamente, pela taxa de dados do sinal (mais informações neste post). Quanto maior a taxa de dados, mais difícil fazer com que o sinal chegue ao outro extremo do cabo. Isso explica porque alguns modelos tem uma performance boa com sinais de baixa resolução, mas apresentam problema com sinais de resoluções maiores. No geral, assim como os cabos elétricos, é preciso ter um caminho com menor resistência, e por isso, condutores mais grossos. Lembrando que o protocolo HDMI está em constante evolução, comprar um cabo que atenda minimamente as especificações atuais pode fazer com ele tenha os dias contados.

Assim, uma vez visto que os cabos não são todos iguais, finalizo este artigo propondo uma outra máxima, a qual acredito ser mais apropriada para o ambiente dinâmico em que vivemos junto aos cabos HDMI:

"O investimento em um cabo deve ser proporcional ao esforço demandado na necessidade de substituí-lo."

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Willian Stigliani
Smart Home Insights

Fanático por tecnologia e qualidade de vida — e pelas relações entre ambas.