#5 | Impressões sobre ‘Dungeons & Drag Queens’, do Dimension20

Lucas Campos
Só Mais um Turno
Published in
6 min readJul 2, 2023
Thumbnail oficial de Dungeons & Drag Queens, pelo Dimension20

No dia 15 de junho, o canal Dimension 20 anunciou uma nova temporada de sua série regular Adventuring Party, na qual uma série de convidados joga uma aventura de Dungeons & Dragons. O inusitado nessa edição é o grupo de participantes: Bob the Drag Queen, Alaska Thunderfuck, Monet X Change e Jujubee, todas integrantes famosas do elenco do reality show Rupaul’s Drag Race.

O primeiro episódio desta temporada foi lançado no dia 28 de Junho, comemorando o Dia Internacional do Orgulho LGBT. Gostei tanto que decidi recomendar esta mesa e trazer minhas impressões sobre. Mas antes de começarmos a comentar, se liga no trailer:

Agora que você já entendeu mais ou menos a energia da coisa, vamos aos comentários.

Preciso começar dizendo que já fui um fã bastante assíduo de Drag Race — hoje, com a repetição intensa do formato, tenho estado um tanto quanto desapegado, assim posso dizer que conheço as convidadas e, ao assistir o trailer, tinha certeza de que seria uma experiência divertida, para dizer o mínimo.

As questing queens, como Brennan Lee Mulligan — o DM — se refere a elas, não são somente muitíssimo reconhecidas pelas suas trajetórias enquanto drag queens, como também são populares pelo carisma e capacidade de fazer humor da forma mais natural possível. Dito isso, acho que a escolha desse grupo em específico foi muito inteligente, soube disso desde o anúncio.

Por outro lado, eu tinha alguns receios. O primeiro deles era sobre o nível de conhecimento a respeito de Dungeons & Dragons, tanto do universo propriamente dito, quanto no que diz respeito ao domínio do sistema. Além disso, fiquei um tanto preocupado com o nível de comprometimento e imersão com a experiência do RPG em si — afinal de contas, nem todo mundo leva o gênero a sério.

E, realmente, assistindo o jogo deu para perceber que as questing queens não entendiam muito de suas próprias fichas, habilidades ou mecânicas em geral— embora duas delas tenham jogado anos atrás — e ficavam um tanto quanto perdidas em certos momentos. Dessa forma, Brennan assume um caráter bastante didático e a mesa acaba resgatando aquela sensação de primeira vez jogando — até senti saudade dos meus primeiros passo em D&D.

Agora, o que elas não tinham em experiência, elas serviram em entrega ao jogo. É possível perceber o quanto algumas delas se doaram aos personagens — menção honrosa para Bob the Drag Queen e Monet X Change, as duas interpretaram Gertrude e Troyánn bem demais e aproveitaram absolutamente todas as deixas que o DM deu.

Jujubee talvez fosse uma das mais empolgadas, embora estivesse um pouco perdida, ela rendeu momentos excelentes — fazendo uma bola curva com a pouca experiência e falta de conhecimento em D&D para criar situações hilárias. Uma das melhores cenas é, na verdade, quando Jujubee descobre que Pass Without Trace e Disguise Self não garantem invisibilidade verdadeira e sua personagem, Twyla, estava fazendo coisas muito esquisitas para todos verem — como ficar completamente nua na taverna.

Alaska Thunderfuck foi a que menos aproveitou as oportunidades que Brennan ofereceu para Princess brilhar, mas em contrapartida, ela estava bem ligada nos acontecimentos e participou ativamente em momentos determinantes para o avanço da história. Penso que isso pode mudar nos próximos episódios conforme Alaska for se soltando — às vezes é difícil entrar no personagem e energia do jogo.

Ao fim, deu para perceber que todos estavam curtindo ao máximo a experiência, além de trazer piadas ou referências que a comunidade LGBTQIAPN+ e fãs de Drag Race certamente irão entender e rir com. Mesmo o DM e as pessoas nos bastidores não paravam de rir. Eu, que tenho dificuldade de assistir mesas por muito tempo — vou vendo os episódios em pedaços, para alocar o meu tempo em diversas atividades — , assisti basicamente em uma sentada só.

Elenco de personagens de Dungeons & Drag Queens. Da esq. para dir.: Gertrude, Troyánn, Princess e Twyla. Artes por Savana.

O elenco de personagens

Nesta aventura, as personagens se conheceram de alguma forma prévia a qual não somos exatamente apresentados, mas entendemos que em algum ponto do passado elas dialogam e concordam que precisam chegar ao Templo da deusa da morte — cada uma tem suas motivações — e a árdua jornada seria mais simples se unissem suas forças.

O grupo de aventureiras é composto por:

  • Gertrude — Uma poderosa feiticeira drow que está viva há mais tempo do que qualquer criatura deveria.
  • Princess — Uma orc bárbara, ela pertencia a nobreza, mas tudo mudou quando chegou tarde demais para salvar a própria família de um incêndio que começou misteriosamente.
  • Troyánn — Uma assassina merfolk que recebeu de sua mãe, a rainha Inira, um colar que captura almas — que ela deve executar em troca da salvação do seu reino submarino.
  • Twyla — Uma fada patrulheira que viu seu reino em Feywild ser destruído pela rainha dos undeads, Zaria Hex, assim como todo os amigos e seres que conhecia.

Aqui entre nós, Pricess e Twyla acabam tendo motivações que costumam ser bem comuns em D&D: a vingança pelos amados que foram cruelmente assassinados por um vilão. Gertrude e Troyánn, por outro lado, tem premissas que considero bem mais interessantes.

Muito embora D&D seja um jogo onde costumemos jogar como heróis ou anti-heróis, ter um personagem cuja motivação é matar pessoas que não necessariamente lhe fizeram algum mal já é um ponto fora da curva e que entrega um sabor diferente para quem assiste — especialmente se o jogador não canaliza uma energia edgelord. Sabe aquele personagem frio, com a língua meio venenosa, que até tem boas intenções mas só quer agir sozinho? Bem, isso é um edgelord. Felizmente, Troyánn passa longe disso.

Porém, minha motivação favorita é a da Gertrude. Em RPG, é comum que os personagens se agarram desesperadamente à esperança de viver até o fim da aventura e costumam lutar por isso; mas com Gertrude é justamente o contrário. Ela sabe que é poderosa demais para morrer em combate e sua longevidade incomum não a permite morrer de velhice, então ela precisa da ajuda de um deus para alcançar o descanso eterno. Ainda que a premissa seja meio melancólica, a personagem ainda é bem humorada. De longe, ela é minha favorita.

Onde assistir Dungeons & Drag Queens?

Bob the Drag Queen e Jujubee em momento de descontração no episódio 1.

Infelizmente, as mesas de Dimension20 não são exibidas abertamente, exigindo que seja feita uma assinatura para ter acesso ao conteúdo produzido por eles. Veja como assistir:

  • Assinando o Dropout TV — O Dropout TV é um streaming por assinatura com funcionamento semelhante ao Netflix. A plataforma conta com todas as mesas antigas e novas do Dimension20 e outros shows com foco em comédia. Assinatura mensal de R$ 34,10.
  • Assinando o College Humor — Basicamente é como o Dropout TV pelo Youtube e com um nome diferente. Não posso afirmar que tem exatamente os mesmos conteúdos do Dropout TV, mas certamente tem todas as mesas do Dimension20. Assinatura mensal de R$ 7,99.
  • Canal do Dimension20 — Geralmente o primeiro episódio de todas as mesas do Dimension20 são lançados no canal deles. Na data de lançamento desse texto, o episódio ainda não está no canal, mas provavelmente tem a ver com a priorização de acesso ao conteúdo por quem assina as plataformas. O primeiro episódio deve entrar nos próximos dias ou com o lançamento do episódio 2. É uma boa aguardar, assistir o episódio 1 gratuitamente e ver se você tem interesse de continuar assistindo.

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Lucas Campos
Só Mais um Turno

27 anos, jornalista e UX Designer, viciado em RPG de mesa, videogames e cultura POP. Atualmente, redator e editor no SMT - Só Mais um Turno.