#5 | Impressões sobre ‘Dungeons & Drag Queens’, do Dimension20
No dia 15 de junho, o canal Dimension 20 anunciou uma nova temporada de sua série regular Adventuring Party, na qual uma série de convidados joga uma aventura de Dungeons & Dragons. O inusitado nessa edição é o grupo de participantes: Bob the Drag Queen, Alaska Thunderfuck, Monet X Change e Jujubee, todas integrantes famosas do elenco do reality show Rupaul’s Drag Race.
O primeiro episódio desta temporada foi lançado no dia 28 de Junho, comemorando o Dia Internacional do Orgulho LGBT. Gostei tanto que decidi recomendar esta mesa e trazer minhas impressões sobre. Mas antes de começarmos a comentar, se liga no trailer:
Agora que você já entendeu mais ou menos a energia da coisa, vamos aos comentários.
Preciso começar dizendo que já fui um fã bastante assíduo de Drag Race — hoje, com a repetição intensa do formato, tenho estado um tanto quanto desapegado — , assim posso dizer que conheço as convidadas e, ao assistir o trailer, tinha certeza de que seria uma experiência divertida, para dizer o mínimo.
As questing queens, como Brennan Lee Mulligan — o DM — se refere a elas, não são somente muitíssimo reconhecidas pelas suas trajetórias enquanto drag queens, como também são populares pelo carisma e capacidade de fazer humor da forma mais natural possível. Dito isso, acho que a escolha desse grupo em específico foi muito inteligente, soube disso desde o anúncio.
Por outro lado, eu tinha alguns receios. O primeiro deles era sobre o nível de conhecimento a respeito de Dungeons & Dragons, tanto do universo propriamente dito, quanto no que diz respeito ao domínio do sistema. Além disso, fiquei um tanto preocupado com o nível de comprometimento e imersão com a experiência do RPG em si — afinal de contas, nem todo mundo leva o gênero a sério.
E, realmente, assistindo o jogo deu para perceber que as questing queens não entendiam muito de suas próprias fichas, habilidades ou mecânicas em geral— embora duas delas tenham jogado anos atrás — e ficavam um tanto quanto perdidas em certos momentos. Dessa forma, Brennan assume um caráter bastante didático e a mesa acaba resgatando aquela sensação de primeira vez jogando — até senti saudade dos meus primeiros passo em D&D.
Agora, o que elas não tinham em experiência, elas serviram em entrega ao jogo. É possível perceber o quanto algumas delas se doaram aos personagens — menção honrosa para Bob the Drag Queen e Monet X Change, as duas interpretaram Gertrude e Troyánn bem demais e aproveitaram absolutamente todas as deixas que o DM deu.
Jujubee talvez fosse uma das mais empolgadas, embora estivesse um pouco perdida, ela rendeu momentos excelentes — fazendo uma bola curva com a pouca experiência e falta de conhecimento em D&D para criar situações hilárias. Uma das melhores cenas é, na verdade, quando Jujubee descobre que Pass Without Trace e Disguise Self não garantem invisibilidade verdadeira e sua personagem, Twyla, estava fazendo coisas muito esquisitas para todos verem — como ficar completamente nua na taverna.
Alaska Thunderfuck foi a que menos aproveitou as oportunidades que Brennan ofereceu para Princess brilhar, mas em contrapartida, ela estava bem ligada nos acontecimentos e participou ativamente em momentos determinantes para o avanço da história. Penso que isso pode mudar nos próximos episódios conforme Alaska for se soltando — às vezes é difícil entrar no personagem e energia do jogo.
Ao fim, deu para perceber que todos estavam curtindo ao máximo a experiência, além de trazer piadas ou referências que a comunidade LGBTQIAPN+ e fãs de Drag Race certamente irão entender e rir com. Mesmo o DM e as pessoas nos bastidores não paravam de rir. Eu, que tenho dificuldade de assistir mesas por muito tempo — vou vendo os episódios em pedaços, para alocar o meu tempo em diversas atividades — , assisti basicamente em uma sentada só.
O elenco de personagens
Nesta aventura, as personagens se conheceram de alguma forma prévia a qual não somos exatamente apresentados, mas entendemos que em algum ponto do passado elas dialogam e concordam que precisam chegar ao Templo da deusa da morte — cada uma tem suas motivações — e a árdua jornada seria mais simples se unissem suas forças.
O grupo de aventureiras é composto por:
- Gertrude — Uma poderosa feiticeira drow que está viva há mais tempo do que qualquer criatura deveria.
- Princess — Uma orc bárbara, ela pertencia a nobreza, mas tudo mudou quando chegou tarde demais para salvar a própria família de um incêndio que começou misteriosamente.
- Troyánn — Uma assassina merfolk que recebeu de sua mãe, a rainha Inira, um colar que captura almas — que ela deve executar em troca da salvação do seu reino submarino.
- Twyla — Uma fada patrulheira que viu seu reino em Feywild ser destruído pela rainha dos undeads, Zaria Hex, assim como todo os amigos e seres que conhecia.
Aqui entre nós, Pricess e Twyla acabam tendo motivações que costumam ser bem comuns em D&D: a vingança pelos amados que foram cruelmente assassinados por um vilão. Gertrude e Troyánn, por outro lado, tem premissas que considero bem mais interessantes.
Muito embora D&D seja um jogo onde costumemos jogar como heróis ou anti-heróis, ter um personagem cuja motivação é matar pessoas que não necessariamente lhe fizeram algum mal já é um ponto fora da curva e que entrega um sabor diferente para quem assiste — especialmente se o jogador não canaliza uma energia edgelord. Sabe aquele personagem frio, com a língua meio venenosa, que até tem boas intenções mas só quer agir sozinho? Bem, isso é um edgelord. Felizmente, Troyánn passa longe disso.
Porém, minha motivação favorita é a da Gertrude. Em RPG, é comum que os personagens se agarram desesperadamente à esperança de viver até o fim da aventura e costumam lutar por isso; mas com Gertrude é justamente o contrário. Ela sabe que é poderosa demais para morrer em combate e sua longevidade incomum não a permite morrer de velhice, então ela precisa da ajuda de um deus para alcançar o descanso eterno. Ainda que a premissa seja meio melancólica, a personagem ainda é bem humorada. De longe, ela é minha favorita.
Onde assistir Dungeons & Drag Queens?
Infelizmente, as mesas de Dimension20 não são exibidas abertamente, exigindo que seja feita uma assinatura para ter acesso ao conteúdo produzido por eles. Veja como assistir:
- Assinando o Dropout TV — O Dropout TV é um streaming por assinatura com funcionamento semelhante ao Netflix. A plataforma conta com todas as mesas antigas e novas do Dimension20 e outros shows com foco em comédia. Assinatura mensal de R$ 34,10.
- Assinando o College Humor — Basicamente é como o Dropout TV pelo Youtube e com um nome diferente. Não posso afirmar que tem exatamente os mesmos conteúdos do Dropout TV, mas certamente tem todas as mesas do Dimension20. Assinatura mensal de R$ 7,99.
- Canal do Dimension20 — Geralmente o primeiro episódio de todas as mesas do Dimension20 são lançados no canal deles. Na data de lançamento desse texto, o episódio ainda não está no canal, mas provavelmente tem a ver com a priorização de acesso ao conteúdo por quem assina as plataformas. O primeiro episódio deve entrar nos próximos dias ou com o lançamento do episódio 2. É uma boa aguardar, assistir o episódio 1 gratuitamente e ver se você tem interesse de continuar assistindo.
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